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Mais que anseio, ou libelo,
Seja a poesia devoção ,
O que se escuta e se resguarda,
O que das impossibilidades ainda resvala
E dos deuses tem a unção.
Mais que o que me transcende,
O ser ideal,
Seja o poema um desvelo,
O ajuste de um espelho
Um melhor se mirar.
E assim, pespontando meu tecido do mundo,
Ora me apanhe , ora me escape, o verso,
Sem nunca, irrevogavelmente, me deixar.
Ouvido das palavras duras e mansas,
E boca de acordes sem fim,
Seja o poema o saldo
Dos frutos remidos, e ruins,
e mar que me alivia
enquanto vazando de mim.
Meu reino, tenham os versos
O valor dos cânticos de êxtases
E de miséria ,em louvor...
Riso e pena, transubstanciação,
Sombra em luz, e toda intrínseca cor.
Mais que milagre ou dom,
Traga a poesia , malgrado artifício,
O natural ‘per se’,
O fundamento dos orbes,
leveza abismal,
O sonido,
o sal......
(Fernando Campanella, 1986)
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