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quinta-feira, 11 de julho de 2013

''AUSÊNCIA DEFENSIVA''


Estou sempre em qualquer lugar
onde eu penso sem pensamento
porque o tempo passa no tempo
sem que o sonho possa esperar.

Estou sempre em qualquer lugar
onde o pranto chora sem mágoa
murmuram os riachos sem água
navegam meus barcos sem mar.

Estou sempre em qualquer lugar
onde os jardins crescem abertos
sem sucumbir como os desertos
onde ninguém vai me encontrar.

Estou sempre em qualquer lugar
despertando as minhas ternuras
dentre as pedras das amarguras
que me lançam querendo amar.




Afonso Estebanez Stael

{Tela de Josephine Wall}

segunda-feira, 8 de julho de 2013

''VOCÊ ESCOLHE''

Foto: ''VOCÊ ESCOLHE''
(a uma jovem)

Você inicia sem muita convicção
a marcha para dentro de si mesma;
longa caminhada dos desesperados
em busca da verdade que se pensa.

A dor que rompe a alma é sensação
exata de incisiva lâmina nos nervos
tensos trançados no oco do abismo
- câncer de desamor e desavenças.

Você poderá olhar para os espelhos
e sentir-se consútil. E, perdida,
fazer-se íntima da morte com um gesto.

Ou então abordar a Flor Visível
e ficar naquela contemplação enorme
cristalizando as cores nos sentidos.

Ricardo dos Anjos
(Niterói - 1974)
{Tela de Michael Garmash}

(a uma jovem)

Você inicia sem muita convicção
a marcha para dentro de si mesma;
longa caminhada dos desesperados
em busca da verdade que se pensa.

A dor que rompe a alma é sensação
exata de incisiva lâmina nos nervos
tensos trançados no oco do abismo
- câncer de desamor e desavenças.

Você poderá olhar para os espelhos
e sentir-se consútil. E, perdida,
fazer-se íntima da morte com um gesto.

Ou então abordar a Flor Visível
e ficar naquela contemplação enorme
cristalizando as cores nos sentidos.

Ricardo dos Anjos
(Niterói - 1974)
{Tela de Michael Garmash}

''Canto Primeiro''


Foto: ''Canto Primeiro''

Se algum irmão de sangue (de poesia)
Mago de duplas cores no seu manto
Testemunhou sem anjo em muitos cantos
Eu, de alma tão sofrida de inocências
O meu não cantaria?

E antes deste amor
Que passeio entre sombras!
Tantas luas ausentes
E veladas fontes.
Que asperezas de tato descobri
Nas coisas de contexto delicado.
Andei

Em direção oposta aos grande ventos.
Nos pássaros mais altos, meu olhar
De novo incandescia. Ah, fui sempre
A das visões tardias!
Desde sempre caminho entre dois mundos

Mas a tua face é aquela onde me via
Onde me sei agora desdobrada.

Hilda Hilst


Se algum irmão de sangue (de poesia)
Mago de duplas cores no seu manto
Testemunhou sem anjo em muitos cantos
Eu, de alma tão sofrida de inocências
O meu não cantaria?

E antes deste amor
Que passeio entre sombras!
Tantas luas ausentes
E veladas fontes.
Que asperezas de tato descobri
Nas coisas de contexto delicado.
Andei

Em direção oposta aos grande ventos.
Nos pássaros mais altos, meu olhar
De novo incandescia. Ah, fui sempre
A das visões tardias!
Desde sempre caminho entre dois mundos

Mas a tua face é aquela onde me via
Onde me sei agora desdobrada.

Hilda Hilst

À MESMA HORA


À mesma hora, no mesmo lugar,
eu caminhava entre árvores
e espremia nos dedos
o mudo cipreste.
Mas naquele instante
entre cúmplices imagens
(quando a sombra me tece
e o sem-fundo do lago me diz)
no frescor do mais contido sumo
cheirei a poesia, como do nada

e caminhei sobre águas –
o naufrágio por um triz.

(Fernando Campanella)

***

 

Deus
tu que me salvaste
dos longos braços
da morte
tantas vezes
- Salva-me da Vida.

Miriam Portela
in ' Nos Mares de Vênus.'

''Só queria''


Só queria uma palavrinha,
poderia se bem simples,
uma palavrinha amiga,
uma palavrinha carinhosa..

Uma palavra sem desdicha,
Uma palavra de entendimento
Uma só, que compreendesse
minha ânsia, minha carência ...

Uma palavrinha que perdoasse
os erros meus,
uma palavrinha que não fizesse chorar
essa velha alma...

Uma palavra que dissesse;
Eu te compreendo
e te amo mesmo assim...

Anna Carlini
[1949]

quinta-feira, 11 de julho de 2013

''AUSÊNCIA DEFENSIVA''


Estou sempre em qualquer lugar
onde eu penso sem pensamento
porque o tempo passa no tempo
sem que o sonho possa esperar.

Estou sempre em qualquer lugar
onde o pranto chora sem mágoa
murmuram os riachos sem água
navegam meus barcos sem mar.

Estou sempre em qualquer lugar
onde os jardins crescem abertos
sem sucumbir como os desertos
onde ninguém vai me encontrar.

Estou sempre em qualquer lugar
despertando as minhas ternuras
dentre as pedras das amarguras
que me lançam querendo amar.




Afonso Estebanez Stael

{Tela de Josephine Wall}

segunda-feira, 8 de julho de 2013

''VOCÊ ESCOLHE''

Foto: ''VOCÊ ESCOLHE''
(a uma jovem)

Você inicia sem muita convicção
a marcha para dentro de si mesma;
longa caminhada dos desesperados
em busca da verdade que se pensa.

A dor que rompe a alma é sensação
exata de incisiva lâmina nos nervos
tensos trançados no oco do abismo
- câncer de desamor e desavenças.

Você poderá olhar para os espelhos
e sentir-se consútil. E, perdida,
fazer-se íntima da morte com um gesto.

Ou então abordar a Flor Visível
e ficar naquela contemplação enorme
cristalizando as cores nos sentidos.

Ricardo dos Anjos
(Niterói - 1974)
{Tela de Michael Garmash}

(a uma jovem)

Você inicia sem muita convicção
a marcha para dentro de si mesma;
longa caminhada dos desesperados
em busca da verdade que se pensa.

A dor que rompe a alma é sensação
exata de incisiva lâmina nos nervos
tensos trançados no oco do abismo
- câncer de desamor e desavenças.

Você poderá olhar para os espelhos
e sentir-se consútil. E, perdida,
fazer-se íntima da morte com um gesto.

Ou então abordar a Flor Visível
e ficar naquela contemplação enorme
cristalizando as cores nos sentidos.

Ricardo dos Anjos
(Niterói - 1974)
{Tela de Michael Garmash}

''Canto Primeiro''


Foto: ''Canto Primeiro''

Se algum irmão de sangue (de poesia)
Mago de duplas cores no seu manto
Testemunhou sem anjo em muitos cantos
Eu, de alma tão sofrida de inocências
O meu não cantaria?

E antes deste amor
Que passeio entre sombras!
Tantas luas ausentes
E veladas fontes.
Que asperezas de tato descobri
Nas coisas de contexto delicado.
Andei

Em direção oposta aos grande ventos.
Nos pássaros mais altos, meu olhar
De novo incandescia. Ah, fui sempre
A das visões tardias!
Desde sempre caminho entre dois mundos

Mas a tua face é aquela onde me via
Onde me sei agora desdobrada.

Hilda Hilst


Se algum irmão de sangue (de poesia)
Mago de duplas cores no seu manto
Testemunhou sem anjo em muitos cantos
Eu, de alma tão sofrida de inocências
O meu não cantaria?

E antes deste amor
Que passeio entre sombras!
Tantas luas ausentes
E veladas fontes.
Que asperezas de tato descobri
Nas coisas de contexto delicado.
Andei

Em direção oposta aos grande ventos.
Nos pássaros mais altos, meu olhar
De novo incandescia. Ah, fui sempre
A das visões tardias!
Desde sempre caminho entre dois mundos

Mas a tua face é aquela onde me via
Onde me sei agora desdobrada.

Hilda Hilst

À MESMA HORA


À mesma hora, no mesmo lugar,
eu caminhava entre árvores
e espremia nos dedos
o mudo cipreste.
Mas naquele instante
entre cúmplices imagens
(quando a sombra me tece
e o sem-fundo do lago me diz)
no frescor do mais contido sumo
cheirei a poesia, como do nada

e caminhei sobre águas –
o naufrágio por um triz.

(Fernando Campanella)

***

 

Deus
tu que me salvaste
dos longos braços
da morte
tantas vezes
- Salva-me da Vida.

Miriam Portela
in ' Nos Mares de Vênus.'

''Só queria''


Só queria uma palavrinha,
poderia se bem simples,
uma palavrinha amiga,
uma palavrinha carinhosa..

Uma palavra sem desdicha,
Uma palavra de entendimento
Uma só, que compreendesse
minha ânsia, minha carência ...

Uma palavrinha que perdoasse
os erros meus,
uma palavrinha que não fizesse chorar
essa velha alma...

Uma palavra que dissesse;
Eu te compreendo
e te amo mesmo assim...

Anna Carlini
[1949]