Seja bem-vindo. Hoje é

domingo, 30 de maio de 2010

"SOMBRAS DA NOITE"


Eu amo as sombras que tremulosas
Descem, de luto cobrindo as leiras,
- Ora perdidas nas capoeiras,
- Ora nas vargens silenciosas.

Sombras de longe, sombras saudosas,
Sobre colinas, sombras ligeiras,
Aves noturnas pelas esteiras
Da imensidade de nebulosas.

Nos dilatados, bravios mares,
Sombras inquietas e viajantes,
Iguais às sombras dos meus pesares.

Na praia algente de branca areia,
- Sombras que eu amo, sombras errantes
Das noites claras de lua cheia!

Ferreira Itajubá
(Natal, RN, 21 de Agosto de 1876 – Rio de Janeiro, 30 de Junho de 1912)

quinta-feira, 27 de maio de 2010

IDA & VOLTA

(Abstracto)

Do Inferno, sempre volto com algo:
uma, sete, des-lembranças perdidas;
escoriações em corpos e almas.

Do Inferno, sempre volto com algo:
aves ávidas de sangue, árvores torcidas;
um alvoroço infinito de estrelas mortas.

Do Inferno, sempre volto com algo:
fauna e flora de um tempo sem história;
aquela avalanche de palavras surdas.

Do Inferno, sempre volto com algo:
um infindo desespero-agonia desmedida;
aquele sentir de nada mais querer ser.

Do Inferno, sempre volto com algo:
luxúria antevista em negro veludo infame;
aquele de um carnaval de vísceras ardidas.

Do Inferno, sempre volto com algo:
olhos cheios da atávica angústia de outras vidas;
daquelas aflitas de acaso e de ocaso plasmadas.

Do Inferno, sempre volto com algo:
mãos atadas a cravos vermelhos insones;
aquelas razões plenas de medo e flores vis.

Do Inferno, sempre volto com algo:
coração apinhado de paisagens nada sutis;
aquele oásis de palmas e cisternas secas.

Do Inferno, sempre volto com algo:
os pés continuam tortos e o corpo anoitece;
naquele esvair-se que o quê resta da vida tece.

Quando volto, nem sempre é a alegria
que me aguarda ou abraça!
Trago sempre visões enredadas à saudade:
àquela, mesclada à certeza de onde pertenço.

Jairo De Britto,
em 'Dunas de Marfim'

segunda-feira, 24 de maio de 2010

INTENÇÕES DIVINAS*

Os deuses criaram madrugadas estreitas
para que bêbados, pássaros e poetas
repousassem seus lábios e penas,
após dias de pura, inútil tempestade.

Os deuses criaram noites inteiras
para que putas, políticos e poetas
afiassem suas unhas, artimanhas e gemas,
após dias de enferma, escusa voragem.

Os deuses criaram manhãs de algazarra plenas
para que aves e animais, todos e tontos,
derramassem suas cestas de teses e fatos
na távola insone de cada um de seus mundos.

As tardes, inteiras e extremas, os deuses
reservaram para que os homens descalços,
de boa ou má vontade, sóbrios ou falsos,
revelassem seus cantos primos; seus atos maduros.

Jairo De Britto,
em "Dunas de Marfim"

sexta-feira, 21 de maio de 2010

"A PAISAGEM ABISSAL"

No fundo da Alma. No profundo abismo
Deserto sem oásis.
Cânticos sem bases.
Silêncio. Escuridão. Solidão. Misticismo.

Um sol que não projeta sombras. Leme
Que não acende cores nas imagens
Paisagem que não tem, como as paisagens
Matizes e perfume.

E no entanto esse abismo
É um Éden sempre aberto.
A flor imaterial do misticismo
Nasce nesse deserto.

Na solitude Alguém enchendo tudo.
Deus somente. Mais nada.
O deserto diz tudo sendo mudo.
A solidão ensina assim calada.


Durval de Moraes
*Durval Borges de Moraes nasceu na Bahia, em 20 de novembro de 1882, e faleceu no Rio de Janeiro, em 5 de dezembro de 1948. Em sua obra, vasta e valiosa, verifica-se uma evolução marcante, correlata à sua evolução espiritual e à sua especial devoção ao pobre de Assis, com o progressivo despojamento de todo virtuosismo técnico em prol de uma pobreza intencional do verso. Pobreza que, posteriormente, veio a desabrochar em versos de grande resplendor e espiritualidade, versos "de um poeta livre, alto, nobre, e de um grande místico". (André Muricy, Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro).


terça-feira, 18 de maio de 2010

62


Acendo a cigarrilha e me preparo,
diante desse mar azul e frio,
para enfrentar o tempo sem amparo,
só um caminho, instável como um rio.

Abro o caderno, a página vazada
de esperas e de ausências, desmesura
sem essa estrela que, na noite, alada,
disponha sua marca negra e impura.

Grafo sinais, me esqueço nessa hora
que se estende, inexoravelmente,
sobre mim, a jogar sílabas fora.

Olho o horizonte, um albatroz vislumbra
o peixe que saciará sua fome –
e eu devoro palavras na penumbra.

Renato Tapado
In Palavras na Penumbra

sábado, 15 de maio de 2010

'Flores Noturnas'


Na eterna paz das noites silenciosas
E por onde estrelas glaciais florescem,
Pelas excelsas aras luminosas
Dos céus azuis, brancas neblinas descem.


Cristalinas hosanas langorosas
Na boca dos arcanjos desfalecem.
E num concerto de harpas misteriosas
Lótus de amor pela amplidão fenecem.


Todo o paul da terra se perfuma
E desabrocha no éter e na bruma
A gestação das flores imortais.


E, do mar das angústias e das ânsias,
As nossas almas bóiam nas distâncias
Das remotas paragens siderais.


Gonçalo Jácome
(Pernambuco, 1875-1943)
in “Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro”

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Estações do Coração


Nas esquinas do outono
meu coração tem ritmos imprecisos
como se a paisagem dos desalentos
furtassem o estio

Suas estações conservam,
a face do tempo sem disfarces
que se doam nas rubras manhãs
das primaveras sem cor

Cuidarei para que teu sorriso
permeie e intercale nossas vozes,
num silêncio absoluto
onde nada terá em mim,
o que não sintas em ti


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 10/05/10
Código do Texto: T2249534

terça-feira, 11 de maio de 2010

A ALEGRIA DE VIVER


Para a alegria de viver nada nos falta:
Sol, natureza clara e sinos a tocar,
Nuvens imateriais na montanha mais alta,
Ondas desenrolando a planura do mar;

O céu tranqüilo e azul que a madrugada esmalta,
O alvoroço de amor dos ninhos soltos no ar.
E a água que da montanha entre begônias salta
E, em cambiantes de luz, forma um riacho a cantar.

O vento que sussurra, o silencio que espreita,
Vôos de pombas numa apoteose de penas,
Tudo em torno de nós é tão puro e tão bom,

Que a criatura feliz, em divina colheita,
Enche as mãos sem querer. . . (como as mãos são pequenas!)
De perfume, de sol, de cor, de luz, de som.

Olegário Mariano
In: Toda Uma Vida de Poesia

MENSAGEM


Na última nuvem, quando morre o dia,
mando-te um sopro do meu pensamento
e vou seguindo a nuvem fugidia
nas linhas curvas do seu movimento.

Cai a noite e com ela mais se amplia
o horror deste infinito isolamento
o vento grita pela noite fria
mas nada exprime a longa voz do vento.

Nada dizem as folhas da ramada
não mais me encanta o eterno gorgolejo
da água que corre... A noite não diz nada.

Surge uma estrela e eu sinto, ao surpreendê-la
que mandas a mensagem do teu beijo
nessa pequena e solitária estrela.

Olegário Mariano


*OLEGÁRIO MARIANO CARNEIRO DA CUNHA
Nasceu em Recife, PE, em 24 de março de 1889,
e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 28 de novembro de 1958.
Poeta ,político e diplomata pernambucano.Brasil.Pertencia a ABL.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A GENTE NUNCA ESTA SÓ


A gente nunca está só.
Ou se está com uma saudade
De um sonho desfeito em pó;
Ou se está com uma esperança
De nova felicidade
No coração que não cansa. . .


Sempre uma sombra com a gente,
Constantemente,
Uma sombra. . . Boa. . . ou má. . .
Só é que nunca se está.


*Aldemar Tavares
In: Poesias Escolhidas

*(Adelmar Tavares da Silva Cavalcanti), advogado, professor, jurista, magistrado e poeta, nasceu em Recife, PE, em 16 de fevereiro de 1888, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 20 de junho de 1963.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Ser Mãe

(Gustav Klimt)

Ser mãe é desdobrar fibra por fibra
o coração! Ser mãe é ter no alheio
lábio que suga, o pedestal do seio,
onde a vida, onde o amor, cantando, vibra.

Ser mãe é ser um anjo que se libra
sobre um berço dormindo! É ser anseio,
é ser temeridade, é ser receio,
é ser força que os males equilibra!

Todo o bem que a mãe goza é bem do filho,
espelho em que se mira afortunada,
Luz que lhe põe nos olhos novo brilho!

Ser mãe é andar chorando num sorriso!
Ser mãe é ter um mundo e não ter nada!
Ser mãe é padecer num paraíso!


Coelho Neto
* Coelho Neto (Henrique Maximiano C. N.), professor, político, romancista, contista, crítico, teatrólogo, memorialista e poeta, nasceu em Caxias, MA, em 21 de fevereiro de 1864, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 28 de novembro de 1934. É o fundador da Cadeira n. 2 da Academia Brasileira de Letras, que tem como patrono Álvares de Azevedo. Cultivou praticamente todos os gêneros literários e foi, por muitos anos, o escritor mais lido do Brasil.


Minha carinhosa homenagem a todas as mães, com o poema de Coelho Neto, que penso expressar tudo que uma mãe representa. Parabéns pelo teu dia, mãe de qualquer lugar do mundo.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Entardecer


O crepúsculo desce! A tarde finda. . .
Que drama ante os meus olhos se descerra!
O sol, cansado da batalha infinda,
As pálpebras de luz no ocaso, cerra. . .

Silente a tarde a imensidade brinda!
Infinita saudade me soterra! . . .
Ante esta quadra misteriosa e linda,
Recordo-me dos céus de minha terra!

Olho o poente que aos poucos se avermelha!
Nesta contemplação a alma se ajoelha,
Deslumbra ao calor das grandes ânsias

E sequiosa do sol de outra paragem
Integra-se à beleza da paisagem
E mergulha na bruma das distancias! . . .

Jansen Filho
In: Obras Completas

domingo, 30 de maio de 2010

"SOMBRAS DA NOITE"


Eu amo as sombras que tremulosas
Descem, de luto cobrindo as leiras,
- Ora perdidas nas capoeiras,
- Ora nas vargens silenciosas.

Sombras de longe, sombras saudosas,
Sobre colinas, sombras ligeiras,
Aves noturnas pelas esteiras
Da imensidade de nebulosas.

Nos dilatados, bravios mares,
Sombras inquietas e viajantes,
Iguais às sombras dos meus pesares.

Na praia algente de branca areia,
- Sombras que eu amo, sombras errantes
Das noites claras de lua cheia!

Ferreira Itajubá
(Natal, RN, 21 de Agosto de 1876 – Rio de Janeiro, 30 de Junho de 1912)

quinta-feira, 27 de maio de 2010

IDA & VOLTA

(Abstracto)

Do Inferno, sempre volto com algo:
uma, sete, des-lembranças perdidas;
escoriações em corpos e almas.

Do Inferno, sempre volto com algo:
aves ávidas de sangue, árvores torcidas;
um alvoroço infinito de estrelas mortas.

Do Inferno, sempre volto com algo:
fauna e flora de um tempo sem história;
aquela avalanche de palavras surdas.

Do Inferno, sempre volto com algo:
um infindo desespero-agonia desmedida;
aquele sentir de nada mais querer ser.

Do Inferno, sempre volto com algo:
luxúria antevista em negro veludo infame;
aquele de um carnaval de vísceras ardidas.

Do Inferno, sempre volto com algo:
olhos cheios da atávica angústia de outras vidas;
daquelas aflitas de acaso e de ocaso plasmadas.

Do Inferno, sempre volto com algo:
mãos atadas a cravos vermelhos insones;
aquelas razões plenas de medo e flores vis.

Do Inferno, sempre volto com algo:
coração apinhado de paisagens nada sutis;
aquele oásis de palmas e cisternas secas.

Do Inferno, sempre volto com algo:
os pés continuam tortos e o corpo anoitece;
naquele esvair-se que o quê resta da vida tece.

Quando volto, nem sempre é a alegria
que me aguarda ou abraça!
Trago sempre visões enredadas à saudade:
àquela, mesclada à certeza de onde pertenço.

Jairo De Britto,
em 'Dunas de Marfim'

segunda-feira, 24 de maio de 2010

INTENÇÕES DIVINAS*

Os deuses criaram madrugadas estreitas
para que bêbados, pássaros e poetas
repousassem seus lábios e penas,
após dias de pura, inútil tempestade.

Os deuses criaram noites inteiras
para que putas, políticos e poetas
afiassem suas unhas, artimanhas e gemas,
após dias de enferma, escusa voragem.

Os deuses criaram manhãs de algazarra plenas
para que aves e animais, todos e tontos,
derramassem suas cestas de teses e fatos
na távola insone de cada um de seus mundos.

As tardes, inteiras e extremas, os deuses
reservaram para que os homens descalços,
de boa ou má vontade, sóbrios ou falsos,
revelassem seus cantos primos; seus atos maduros.

Jairo De Britto,
em "Dunas de Marfim"

sexta-feira, 21 de maio de 2010

"A PAISAGEM ABISSAL"

No fundo da Alma. No profundo abismo
Deserto sem oásis.
Cânticos sem bases.
Silêncio. Escuridão. Solidão. Misticismo.

Um sol que não projeta sombras. Leme
Que não acende cores nas imagens
Paisagem que não tem, como as paisagens
Matizes e perfume.

E no entanto esse abismo
É um Éden sempre aberto.
A flor imaterial do misticismo
Nasce nesse deserto.

Na solitude Alguém enchendo tudo.
Deus somente. Mais nada.
O deserto diz tudo sendo mudo.
A solidão ensina assim calada.


Durval de Moraes
*Durval Borges de Moraes nasceu na Bahia, em 20 de novembro de 1882, e faleceu no Rio de Janeiro, em 5 de dezembro de 1948. Em sua obra, vasta e valiosa, verifica-se uma evolução marcante, correlata à sua evolução espiritual e à sua especial devoção ao pobre de Assis, com o progressivo despojamento de todo virtuosismo técnico em prol de uma pobreza intencional do verso. Pobreza que, posteriormente, veio a desabrochar em versos de grande resplendor e espiritualidade, versos "de um poeta livre, alto, nobre, e de um grande místico". (André Muricy, Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro).


terça-feira, 18 de maio de 2010

62


Acendo a cigarrilha e me preparo,
diante desse mar azul e frio,
para enfrentar o tempo sem amparo,
só um caminho, instável como um rio.

Abro o caderno, a página vazada
de esperas e de ausências, desmesura
sem essa estrela que, na noite, alada,
disponha sua marca negra e impura.

Grafo sinais, me esqueço nessa hora
que se estende, inexoravelmente,
sobre mim, a jogar sílabas fora.

Olho o horizonte, um albatroz vislumbra
o peixe que saciará sua fome –
e eu devoro palavras na penumbra.

Renato Tapado
In Palavras na Penumbra

sábado, 15 de maio de 2010

'Flores Noturnas'


Na eterna paz das noites silenciosas
E por onde estrelas glaciais florescem,
Pelas excelsas aras luminosas
Dos céus azuis, brancas neblinas descem.


Cristalinas hosanas langorosas
Na boca dos arcanjos desfalecem.
E num concerto de harpas misteriosas
Lótus de amor pela amplidão fenecem.


Todo o paul da terra se perfuma
E desabrocha no éter e na bruma
A gestação das flores imortais.


E, do mar das angústias e das ânsias,
As nossas almas bóiam nas distâncias
Das remotas paragens siderais.


Gonçalo Jácome
(Pernambuco, 1875-1943)
in “Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro”

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Estações do Coração


Nas esquinas do outono
meu coração tem ritmos imprecisos
como se a paisagem dos desalentos
furtassem o estio

Suas estações conservam,
a face do tempo sem disfarces
que se doam nas rubras manhãs
das primaveras sem cor

Cuidarei para que teu sorriso
permeie e intercale nossas vozes,
num silêncio absoluto
onde nada terá em mim,
o que não sintas em ti


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 10/05/10
Código do Texto: T2249534

terça-feira, 11 de maio de 2010

A ALEGRIA DE VIVER


Para a alegria de viver nada nos falta:
Sol, natureza clara e sinos a tocar,
Nuvens imateriais na montanha mais alta,
Ondas desenrolando a planura do mar;

O céu tranqüilo e azul que a madrugada esmalta,
O alvoroço de amor dos ninhos soltos no ar.
E a água que da montanha entre begônias salta
E, em cambiantes de luz, forma um riacho a cantar.

O vento que sussurra, o silencio que espreita,
Vôos de pombas numa apoteose de penas,
Tudo em torno de nós é tão puro e tão bom,

Que a criatura feliz, em divina colheita,
Enche as mãos sem querer. . . (como as mãos são pequenas!)
De perfume, de sol, de cor, de luz, de som.

Olegário Mariano
In: Toda Uma Vida de Poesia

MENSAGEM


Na última nuvem, quando morre o dia,
mando-te um sopro do meu pensamento
e vou seguindo a nuvem fugidia
nas linhas curvas do seu movimento.

Cai a noite e com ela mais se amplia
o horror deste infinito isolamento
o vento grita pela noite fria
mas nada exprime a longa voz do vento.

Nada dizem as folhas da ramada
não mais me encanta o eterno gorgolejo
da água que corre... A noite não diz nada.

Surge uma estrela e eu sinto, ao surpreendê-la
que mandas a mensagem do teu beijo
nessa pequena e solitária estrela.

Olegário Mariano


*OLEGÁRIO MARIANO CARNEIRO DA CUNHA
Nasceu em Recife, PE, em 24 de março de 1889,
e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 28 de novembro de 1958.
Poeta ,político e diplomata pernambucano.Brasil.Pertencia a ABL.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A GENTE NUNCA ESTA SÓ


A gente nunca está só.
Ou se está com uma saudade
De um sonho desfeito em pó;
Ou se está com uma esperança
De nova felicidade
No coração que não cansa. . .


Sempre uma sombra com a gente,
Constantemente,
Uma sombra. . . Boa. . . ou má. . .
Só é que nunca se está.


*Aldemar Tavares
In: Poesias Escolhidas

*(Adelmar Tavares da Silva Cavalcanti), advogado, professor, jurista, magistrado e poeta, nasceu em Recife, PE, em 16 de fevereiro de 1888, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 20 de junho de 1963.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Ser Mãe

(Gustav Klimt)

Ser mãe é desdobrar fibra por fibra
o coração! Ser mãe é ter no alheio
lábio que suga, o pedestal do seio,
onde a vida, onde o amor, cantando, vibra.

Ser mãe é ser um anjo que se libra
sobre um berço dormindo! É ser anseio,
é ser temeridade, é ser receio,
é ser força que os males equilibra!

Todo o bem que a mãe goza é bem do filho,
espelho em que se mira afortunada,
Luz que lhe põe nos olhos novo brilho!

Ser mãe é andar chorando num sorriso!
Ser mãe é ter um mundo e não ter nada!
Ser mãe é padecer num paraíso!


Coelho Neto
* Coelho Neto (Henrique Maximiano C. N.), professor, político, romancista, contista, crítico, teatrólogo, memorialista e poeta, nasceu em Caxias, MA, em 21 de fevereiro de 1864, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 28 de novembro de 1934. É o fundador da Cadeira n. 2 da Academia Brasileira de Letras, que tem como patrono Álvares de Azevedo. Cultivou praticamente todos os gêneros literários e foi, por muitos anos, o escritor mais lido do Brasil.


Minha carinhosa homenagem a todas as mães, com o poema de Coelho Neto, que penso expressar tudo que uma mãe representa. Parabéns pelo teu dia, mãe de qualquer lugar do mundo.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Entardecer


O crepúsculo desce! A tarde finda. . .
Que drama ante os meus olhos se descerra!
O sol, cansado da batalha infinda,
As pálpebras de luz no ocaso, cerra. . .

Silente a tarde a imensidade brinda!
Infinita saudade me soterra! . . .
Ante esta quadra misteriosa e linda,
Recordo-me dos céus de minha terra!

Olho o poente que aos poucos se avermelha!
Nesta contemplação a alma se ajoelha,
Deslumbra ao calor das grandes ânsias

E sequiosa do sol de outra paragem
Integra-se à beleza da paisagem
E mergulha na bruma das distancias! . . .

Jansen Filho
In: Obras Completas