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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

LADAINHA


Senhor, tende piedade
dos que têm no lugar do coração
uma pedra branca e fria.
Tende piedade dos sós
dos cegos e apolíticos
porque não crêem.
Tende piedade dos responsáveis
porque dormem fartos e não percebem.
Tende piedade dos loucos lúcidos
que são enjaulados e dos apenas lúcidos
incapazes de medir a extensão
de suas loucuras.
Tende piedade
dos que sentem frio
e cortam a carne
e sentem medo:
eles estão desarmados.
Tende piedade dos fortes e poderosos
porque não sabem sentir
e se cansam logo.
Dos que pensam em voz alta
e provocam pânico
e são condenados a um silêncio
anormal.
Tende piedade,Senhor
dos que têm pressa -
a esperança para eles é fugaz.
Piedade para os que se sentam
e permanecem estáticos -
o seu caminho é mais longo
do que imaginam.
Tende piedade dos violentos
porque neles a fragilidade é maior
e essa é a sua vergonha.
Tende piedade dos que mentem
e acreditam que estejam realizando
construções na mentira cotidiana.
Tende piedade de todos nós
Senhor
porque não somos pródigos
e necessitamos da tua
misericórdia.

Miriam Portela
In 'O Continente Possuído'

Miriam Portela nasceu em Florianópolis, Santa Catarina, mas
vive em São Paulo há mais de vinte anos. É formada em Jornalismo
e durante muito tempo trabalhou em televisão, nas mais
diversas funções. Foi repórter, apresentadora, chefe de reportagem,
editora. Atualmente produz vídeos e documentários
para empresas e tevês. Miriam começou a escrever quando criança.


(Recebi esse poema da amiga Dione, do blog 'Gotas de poesias')

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

SOMENTE OS PASSARINHOS


Nada me vem que já não tenha vindo.
Nada me vai que já não tenha ido
E entre o ir e vir – um choro de medo;
um medo do pranto; um medo do medo,
entre o caminho e a estrada em que caminho.
Cada passo que dou, lembro-me que há sempre um outro a dar.
Não há como fugir – há mais por caminhar...
Não sei! E o que não sei? Não sei!

Que longo o meu caminho! Que longa estrada!
Que estrada longa! Faz tempo que caminho pela estrada!
Faz tempo que esta estrada é meu caminho.
Além da estrada, nada – nem girassóis.
Ah! Um ninho!
........................................................................................................................
Aqui, os ninhos se desfazem.
As pessoas não gostam dos ninhos
Só mesmo os passarinhos!


Jandira Grillo
in Encontro das Águas

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Poema nº 4


A maestria dos erros sombrios
vertidos, quebrantados, modular
cadencia na ordem dos fins.

A memória logra *pentimentos
contrafaz num olhar de cataclismo,
atrozes e cínicas evidências.

Ruminamos, subjugados, a memória
regemos em notas, abismos
ritos desmesuráveis, entorpecidos.

As solidões são nossas vítimas,
amargamos tornados nulos
silenciando particípios e gerúndios.


Eulália Maria Radtke
Do livro: "Lavra Lírica",
Cultura em Movimento Editora, 2000, SC


*"Pentimento" é uma palavra de origem italiana que pode designar repetência, correção ou o reaparecimento, numa pintura, de um desenho que havia sido pintado por cima. Pode também significar dor ou remorso e ainda indicar uma mudança de idéia, proposição ou opinião.
Maria Madalena

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

LADAINHA


Senhor, tende piedade
dos que têm no lugar do coração
uma pedra branca e fria.
Tende piedade dos sós
dos cegos e apolíticos
porque não crêem.
Tende piedade dos responsáveis
porque dormem fartos e não percebem.
Tende piedade dos loucos lúcidos
que são enjaulados e dos apenas lúcidos
incapazes de medir a extensão
de suas loucuras.
Tende piedade
dos que sentem frio
e cortam a carne
e sentem medo:
eles estão desarmados.
Tende piedade dos fortes e poderosos
porque não sabem sentir
e se cansam logo.
Dos que pensam em voz alta
e provocam pânico
e são condenados a um silêncio
anormal.
Tende piedade,Senhor
dos que têm pressa -
a esperança para eles é fugaz.
Piedade para os que se sentam
e permanecem estáticos -
o seu caminho é mais longo
do que imaginam.
Tende piedade dos violentos
porque neles a fragilidade é maior
e essa é a sua vergonha.
Tende piedade dos que mentem
e acreditam que estejam realizando
construções na mentira cotidiana.
Tende piedade de todos nós
Senhor
porque não somos pródigos
e necessitamos da tua
misericórdia.

Miriam Portela
In 'O Continente Possuído'

Miriam Portela nasceu em Florianópolis, Santa Catarina, mas
vive em São Paulo há mais de vinte anos. É formada em Jornalismo
e durante muito tempo trabalhou em televisão, nas mais
diversas funções. Foi repórter, apresentadora, chefe de reportagem,
editora. Atualmente produz vídeos e documentários
para empresas e tevês. Miriam começou a escrever quando criança.


(Recebi esse poema da amiga Dione, do blog 'Gotas de poesias')

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

SOMENTE OS PASSARINHOS


Nada me vem que já não tenha vindo.
Nada me vai que já não tenha ido
E entre o ir e vir – um choro de medo;
um medo do pranto; um medo do medo,
entre o caminho e a estrada em que caminho.
Cada passo que dou, lembro-me que há sempre um outro a dar.
Não há como fugir – há mais por caminhar...
Não sei! E o que não sei? Não sei!

Que longo o meu caminho! Que longa estrada!
Que estrada longa! Faz tempo que caminho pela estrada!
Faz tempo que esta estrada é meu caminho.
Além da estrada, nada – nem girassóis.
Ah! Um ninho!
........................................................................................................................
Aqui, os ninhos se desfazem.
As pessoas não gostam dos ninhos
Só mesmo os passarinhos!


Jandira Grillo
in Encontro das Águas

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Poema nº 4


A maestria dos erros sombrios
vertidos, quebrantados, modular
cadencia na ordem dos fins.

A memória logra *pentimentos
contrafaz num olhar de cataclismo,
atrozes e cínicas evidências.

Ruminamos, subjugados, a memória
regemos em notas, abismos
ritos desmesuráveis, entorpecidos.

As solidões são nossas vítimas,
amargamos tornados nulos
silenciando particípios e gerúndios.


Eulália Maria Radtke
Do livro: "Lavra Lírica",
Cultura em Movimento Editora, 2000, SC


*"Pentimento" é uma palavra de origem italiana que pode designar repetência, correção ou o reaparecimento, numa pintura, de um desenho que havia sido pintado por cima. Pode também significar dor ou remorso e ainda indicar uma mudança de idéia, proposição ou opinião.
Maria Madalena