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terça-feira, 3 de setembro de 2013

''O poema''


Corredor do tempo esquecido
Onde o eco responde ao eco,
Em vez de janelas, reflexo
De espelho a espelho, refletido.

Que passos repisando passos
Parados vão? A horas mortas,
Fria, uma presença esvoaça
De leves dedos, que abrem portas.

Longo é o caminho. Em qualquer parte
Rei dos Ratos rói os brinquedos.
Dos quatro cantos, lá o quarto
Sombras cochicham os teus segredos.

Onde a janela que se abria
Ao pôr do sol? Andando em frente,
Andando, andando, eu tocaria
No fim da terra, o ouro do poente.

Iriavam-se os cristais do lustre,
Na sala escura o espelho que arde!
Pulava a cortina, de susto,
Ao primeiro sopro da tarde.

Mas tudo agora é tão distante!
O rato rói o fio da história.
Só o arrepio de um instante
Sobe à surdina da memória...

Súbito, a hora morta no tempo
Amadurece como um fruto!
No misterioso aroma, o poema
Recolhe a essência de um minuto.

- Augusto Meyer,
em “Poesias (1922-1955)".
Rio de Janeiro: Livraria São José, 1957, p. 260-261.

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terça-feira, 3 de setembro de 2013

''O poema''


Corredor do tempo esquecido
Onde o eco responde ao eco,
Em vez de janelas, reflexo
De espelho a espelho, refletido.

Que passos repisando passos
Parados vão? A horas mortas,
Fria, uma presença esvoaça
De leves dedos, que abrem portas.

Longo é o caminho. Em qualquer parte
Rei dos Ratos rói os brinquedos.
Dos quatro cantos, lá o quarto
Sombras cochicham os teus segredos.

Onde a janela que se abria
Ao pôr do sol? Andando em frente,
Andando, andando, eu tocaria
No fim da terra, o ouro do poente.

Iriavam-se os cristais do lustre,
Na sala escura o espelho que arde!
Pulava a cortina, de susto,
Ao primeiro sopro da tarde.

Mas tudo agora é tão distante!
O rato rói o fio da história.
Só o arrepio de um instante
Sobe à surdina da memória...

Súbito, a hora morta no tempo
Amadurece como um fruto!
No misterioso aroma, o poema
Recolhe a essência de um minuto.

- Augusto Meyer,
em “Poesias (1922-1955)".
Rio de Janeiro: Livraria São José, 1957, p. 260-261.

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