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quarta-feira, 26 de março de 2014

''Outono''


O relógio destila as horas
O tempo célere vai embora
Escondemos nossos medos
Escondidos nos sigilos
Imaginando que ninguém os sabe

Depois como âncoras
Poderemos sentar no mirante
Sentir o amanhecer
As miríades de estrelas
Em noites-dias sem extremos.

No sorriso da paz e do amor
Vencemos as tribulações
As curvas das searas que se põem
Recolhidas nos domingos
De prados verdejantes do outono.

Vany Campos
23-5-2013

Nudez Dos Dias



São palavras leves
Sem peso que saem d´alma
Na nudez de meus dias
Esvaziando meu Eu.

Não sentes os apelos
Meus olhares de puro zelo
Brilhando iluminando
Teus olhos de melancolia.

Sentes apenas o cheiro
Da mata de cada dia
Ilusões perdidas sim
Horas de mergulho em mim .

Vany Campos

''Seivas da alvorada''


Tenho uma rosa suspensa na memória
É uma flor de amor
Onde um rio escorrendo molha a sombra
O tempo deitou raízes na água
Meus olhos assistem comovidos
Meu canto se afoga em borboletas
De que plaga se alça uma flor liberta
Na larguesa de vôos incontidos
A que espumas transidas remonta
Que céus que sonhos sempre a espera
No recesso azul de uma rosa?
Pérola de foco de meus versos
Meu coração se esconde numa sombra
Vestido de palavras
No meu corpo sensível
Pingam gotas de orvalho
Molhando a madrugada
Alimento-me com as seivas da alvorada
Ébrias de estradas.

Vany Campos

'VARIANTES'


As palavras da noite
Fazem esta noite fria
Na tristeza do silêncio
Da minha alma vazia.
Abro as portas do passado
Para ouvir a voz do tempo
Na música do vento
Canções ainda acordadas.
No umbral de meu templo
Quase me perco de mim
Ou qualquer coisa assim
Que em silêncio contemplo.


Vany Campos
Publicado no Recanto das Letras em 22/07/2010

''Coroa de Rosas''



Coroem-me de rosas
Entre folhas breves
Que se desfolhem
E desapareçam
Antes que eu veja
Sua peleja pela vida
Ao anoitecer
Molhadas de estrelas
Que descem do céu
Para entretê-las
Não quero um lírio
Agonizando de frio
Prefiro rosas que perfumem
Meu jardim,
Rosas de folhas breves
Que se desfolhem diante de mim
E exalem seu perfume
Mesmo entre jasmins.

Vany Campos.
19/08/2008


[Arte:  Jules Scalbert]

POETAS BRASILEIROS

 
VANY CAMPOS
22 de Fevereiro, 1925, Rio Grande do Sul.

Poetisa gaúcha, nascida na Coxilha dos Campos, descobriu-se, assim como Cora Coralina, poeta na maturidade. É ativista cultural em sua terra natal, onde ocorre anualmente uma feira de cultura que leva seu nome. Este evento dá oportunidades aos alunos da rede pública de ensino de participar de um concurso de poesia e terem seus textos publicados em livros. Reside na Cidade de Porto Alegre, com filhos, netos e bisnetos, cercada de amor e carinho. Sua verve poética brota das lembranças vivenciadas em sua infância e de suas experiências vividas, com a alegria e melancolia que permeiam seu coração.
Participou das seguintes antologias:

 “Casa do Poeta Rio-Grandense 43 anos” (Editora Alcance, 2007),
 “Congresso Brasileiro de Poesia” (Editora Alcance, 2007),
“Poetas pela Paz e Justiça Social” (Editora Alcance, 2007) ,
“Nas Asas da Paz” (Editora Alternativa, 2007),
“Poeta, Mostra a tua cara” (2008) e
 “Poemas à flor da pele” (2008 e 2009, 2013).

Pequena Biografia
Recanto das letras, página da autora.

'PAISAGEM MARAJOARA'


Da migração úmida e mansa do crepúsculo
ficou um olor de maresia brava,
lambendo o limo lodoso das raízes.
A lua, ciumenta e oca,
encolhida e acuada,
espia desconfiada,
pelas frestas da mata,
a terra grávida de sombras e silêncios...
O vento é um passarão agourento
voando por sobre os contornos ondulantes
da grande ilha supersticiosa
de litorais iluminados
pelos olhos da buiúna.

Adalcinda Camarão
Poesia do Grão-Pará, 2001(Seleção e notas Olga Savary)

''ANSEIO''


Ah, eu quisera ser aquela árvore
coberta pelas garças brancas de vôo incerto!
Árvore plantada pelo acaso
à margem do rio enorme!
Árvore de frondes anantos,
desejosa, quase humana,
que se arrepia ao contato
das penas dos papagaios que passam!
Árvore que tem o grande amor do vento
e que da sombra para o gado descansar.
Árvore estéril, árvore bela, árvore fresca,
árvore amante de todos os crepúsculos,
no solstício do inverno ou do verão,
Árvore do pensamento das outras árvores!

Adalcinda Camarão
Poesia do Grão-Pará, 2001(Seleção e notas Olga Savary)

''Despedida''


Pediste-me qualquer coisa.
Qualquer coisa de meu muito íntimo
que me cobrisse o corpo…
Que me tocasse a pele arrepiada,
E como pra te dar eu não tivesse nada,
E como só a escuridão me envolvesse
pelos olhos, pelos ombros,
pelo ventre morno e mofino,
eu te dei de presente a minha noite enorme,
a minha grande noite sem memória e sem destino!

Adalcinda Camarão,
do livro "Poesia do Grão-Pará" (seleção e notas de Olga Savary). Rio, Graphia, 2001.

[Arte: Bayram Salamov]

POETAS BRASILEIROS





Adalcinda Camarão
(1914-2005) – Pará-

Adalcinda Magno Camarão Luxardo
Poetisa paraense, nasceu em Muaná, no arquipélago marajoara e faleceu aos 91 anos em Belém.

Integrou a primeira geração de poetas influenciados pelo modenismo e regionalismo ainda na década de 30. Com Cléo Bernardo participou da revista literária Terra Imatura, em 1938.

Nas décadas seguintes teve participação ativa no cenário literário paraense, recebida como membro efetiva e perpétua da Academia Paraense de Letras em janeiro de 1959, ocupou a cadeira nº 17 e teve como patrono Felipe Patroni.
Publicou obras de poesia, além de peças teatrais. Foi figura central na era de ouro do rádio, tendo pontificado na antiga PRC-5, “a voz que canta e fala para a planície”.
Viveu muitos anos nos Estados Unidos, fazendo carreira no magistério da língua portuguesa, tendo sido funcionária da embaixada brasileira em washington D.C., de 1961 a 1988.
Sua poesia, que encanta pela suavidade e lirismo, está registrada em diversas publicações, dentre as quais Vidências (1943), Entre Espelhos e Estrelas (1953), Folhas (1978), À sombra das Cerejeiras (1989) e Antologia Poética (1995).

quarta-feira, 26 de março de 2014

''Outono''


O relógio destila as horas
O tempo célere vai embora
Escondemos nossos medos
Escondidos nos sigilos
Imaginando que ninguém os sabe

Depois como âncoras
Poderemos sentar no mirante
Sentir o amanhecer
As miríades de estrelas
Em noites-dias sem extremos.

No sorriso da paz e do amor
Vencemos as tribulações
As curvas das searas que se põem
Recolhidas nos domingos
De prados verdejantes do outono.

Vany Campos
23-5-2013

Nudez Dos Dias



São palavras leves
Sem peso que saem d´alma
Na nudez de meus dias
Esvaziando meu Eu.

Não sentes os apelos
Meus olhares de puro zelo
Brilhando iluminando
Teus olhos de melancolia.

Sentes apenas o cheiro
Da mata de cada dia
Ilusões perdidas sim
Horas de mergulho em mim .

Vany Campos

''Seivas da alvorada''


Tenho uma rosa suspensa na memória
É uma flor de amor
Onde um rio escorrendo molha a sombra
O tempo deitou raízes na água
Meus olhos assistem comovidos
Meu canto se afoga em borboletas
De que plaga se alça uma flor liberta
Na larguesa de vôos incontidos
A que espumas transidas remonta
Que céus que sonhos sempre a espera
No recesso azul de uma rosa?
Pérola de foco de meus versos
Meu coração se esconde numa sombra
Vestido de palavras
No meu corpo sensível
Pingam gotas de orvalho
Molhando a madrugada
Alimento-me com as seivas da alvorada
Ébrias de estradas.

Vany Campos

'VARIANTES'


As palavras da noite
Fazem esta noite fria
Na tristeza do silêncio
Da minha alma vazia.
Abro as portas do passado
Para ouvir a voz do tempo
Na música do vento
Canções ainda acordadas.
No umbral de meu templo
Quase me perco de mim
Ou qualquer coisa assim
Que em silêncio contemplo.


Vany Campos
Publicado no Recanto das Letras em 22/07/2010

''Coroa de Rosas''



Coroem-me de rosas
Entre folhas breves
Que se desfolhem
E desapareçam
Antes que eu veja
Sua peleja pela vida
Ao anoitecer
Molhadas de estrelas
Que descem do céu
Para entretê-las
Não quero um lírio
Agonizando de frio
Prefiro rosas que perfumem
Meu jardim,
Rosas de folhas breves
Que se desfolhem diante de mim
E exalem seu perfume
Mesmo entre jasmins.

Vany Campos.
19/08/2008


[Arte:  Jules Scalbert]

POETAS BRASILEIROS

 
VANY CAMPOS
22 de Fevereiro, 1925, Rio Grande do Sul.

Poetisa gaúcha, nascida na Coxilha dos Campos, descobriu-se, assim como Cora Coralina, poeta na maturidade. É ativista cultural em sua terra natal, onde ocorre anualmente uma feira de cultura que leva seu nome. Este evento dá oportunidades aos alunos da rede pública de ensino de participar de um concurso de poesia e terem seus textos publicados em livros. Reside na Cidade de Porto Alegre, com filhos, netos e bisnetos, cercada de amor e carinho. Sua verve poética brota das lembranças vivenciadas em sua infância e de suas experiências vividas, com a alegria e melancolia que permeiam seu coração.
Participou das seguintes antologias:

 “Casa do Poeta Rio-Grandense 43 anos” (Editora Alcance, 2007),
 “Congresso Brasileiro de Poesia” (Editora Alcance, 2007),
“Poetas pela Paz e Justiça Social” (Editora Alcance, 2007) ,
“Nas Asas da Paz” (Editora Alternativa, 2007),
“Poeta, Mostra a tua cara” (2008) e
 “Poemas à flor da pele” (2008 e 2009, 2013).

Pequena Biografia
Recanto das letras, página da autora.

'PAISAGEM MARAJOARA'


Da migração úmida e mansa do crepúsculo
ficou um olor de maresia brava,
lambendo o limo lodoso das raízes.
A lua, ciumenta e oca,
encolhida e acuada,
espia desconfiada,
pelas frestas da mata,
a terra grávida de sombras e silêncios...
O vento é um passarão agourento
voando por sobre os contornos ondulantes
da grande ilha supersticiosa
de litorais iluminados
pelos olhos da buiúna.

Adalcinda Camarão
Poesia do Grão-Pará, 2001(Seleção e notas Olga Savary)

''ANSEIO''


Ah, eu quisera ser aquela árvore
coberta pelas garças brancas de vôo incerto!
Árvore plantada pelo acaso
à margem do rio enorme!
Árvore de frondes anantos,
desejosa, quase humana,
que se arrepia ao contato
das penas dos papagaios que passam!
Árvore que tem o grande amor do vento
e que da sombra para o gado descansar.
Árvore estéril, árvore bela, árvore fresca,
árvore amante de todos os crepúsculos,
no solstício do inverno ou do verão,
Árvore do pensamento das outras árvores!

Adalcinda Camarão
Poesia do Grão-Pará, 2001(Seleção e notas Olga Savary)

''Despedida''


Pediste-me qualquer coisa.
Qualquer coisa de meu muito íntimo
que me cobrisse o corpo…
Que me tocasse a pele arrepiada,
E como pra te dar eu não tivesse nada,
E como só a escuridão me envolvesse
pelos olhos, pelos ombros,
pelo ventre morno e mofino,
eu te dei de presente a minha noite enorme,
a minha grande noite sem memória e sem destino!

Adalcinda Camarão,
do livro "Poesia do Grão-Pará" (seleção e notas de Olga Savary). Rio, Graphia, 2001.

[Arte: Bayram Salamov]

POETAS BRASILEIROS





Adalcinda Camarão
(1914-2005) – Pará-

Adalcinda Magno Camarão Luxardo
Poetisa paraense, nasceu em Muaná, no arquipélago marajoara e faleceu aos 91 anos em Belém.

Integrou a primeira geração de poetas influenciados pelo modenismo e regionalismo ainda na década de 30. Com Cléo Bernardo participou da revista literária Terra Imatura, em 1938.

Nas décadas seguintes teve participação ativa no cenário literário paraense, recebida como membro efetiva e perpétua da Academia Paraense de Letras em janeiro de 1959, ocupou a cadeira nº 17 e teve como patrono Felipe Patroni.
Publicou obras de poesia, além de peças teatrais. Foi figura central na era de ouro do rádio, tendo pontificado na antiga PRC-5, “a voz que canta e fala para a planície”.
Viveu muitos anos nos Estados Unidos, fazendo carreira no magistério da língua portuguesa, tendo sido funcionária da embaixada brasileira em washington D.C., de 1961 a 1988.
Sua poesia, que encanta pela suavidade e lirismo, está registrada em diversas publicações, dentre as quais Vidências (1943), Entre Espelhos e Estrelas (1953), Folhas (1978), À sombra das Cerejeiras (1989) e Antologia Poética (1995).