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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

É noite em teu jardim, Mãe...


É noite em teu jardim, Mãe...

Pouca memória.
Tão clara e doída tanta.
Foi recente.
Mas tanto tempo faz que se foi.

Partiu em manhã de chuva.
Minha mãe partiu.
O único momento em que não se repartiu.
A sua morte não repartiu.

Disse um dia:
viver é um jardim precário.
Mas vejo no meu jardim
a eternidade do jasmim.
Porque é belo e eterno.
E porque é belo o jardim.

Sim! O dia amanhece.
Todos os dias.
Por trás dos montes
que vejo de teu jardim.

E toda manhã
o vizinho passa em frente da casa
e não te acena mais.
nunca mais.

Acena para o jardim vazio,
por hábito, medo da morte, espanto.
E pela luz do dia
que ainda freme
de teu canto.

E mesmo assim
é noite em teu jardim.
Por mais que amanheça,
por mais que amanheça.

Lindolf Bell
In ‘Código das Águas’

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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

É noite em teu jardim, Mãe...


É noite em teu jardim, Mãe...

Pouca memória.
Tão clara e doída tanta.
Foi recente.
Mas tanto tempo faz que se foi.

Partiu em manhã de chuva.
Minha mãe partiu.
O único momento em que não se repartiu.
A sua morte não repartiu.

Disse um dia:
viver é um jardim precário.
Mas vejo no meu jardim
a eternidade do jasmim.
Porque é belo e eterno.
E porque é belo o jardim.

Sim! O dia amanhece.
Todos os dias.
Por trás dos montes
que vejo de teu jardim.

E toda manhã
o vizinho passa em frente da casa
e não te acena mais.
nunca mais.

Acena para o jardim vazio,
por hábito, medo da morte, espanto.
E pela luz do dia
que ainda freme
de teu canto.

E mesmo assim
é noite em teu jardim.
Por mais que amanheça,
por mais que amanheça.

Lindolf Bell
In ‘Código das Águas’

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