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quarta-feira, 6 de julho de 2011

TAL VEZ, O QUE BASTE SABER*


I
Não que eu saiba tanto assim,
ou que menos me importe saber:
Há quantos, exatos incríveis anos,
não tomo um copo de cólera?

II 
Não que me caiba aventar aqui,
quão mal me comporte ou sobreviva ali.              
Ou arguir: Qual a veríssima idade
das algas, estrelas, pedras - da Luz?

Vez que tantos diferem de mim,
em tanta alegria ou tão pouca sorte,
qual a estival infame verdade do Tempo?

III
Sei, talvez suficiente, da noite, das luas,
dos rios e vaidades; do distraído
conviver com a morte – severa amante,
pão nosso primo de cada dia.

Conheço suas mais íntimas, venais,
profundas entranhas; becos, vielas e ruas
E elas, todas, muito mais sabem de mim!

IV 
Sei, da madrugada, o estuário das manhas
- malditas e surdas; a densa voz de cada cidade:
A farsa inteira – crua, da servil tempestade
com que profana e abafa a viva manhã!

V
Do dia, mares, amor e sol, já soube
- e quis - mais.       
Hoje, bem pouco sei. Mas o que sei me basta.

É este parco, velho, provável falso saber
que alimenta meu viver.
(Amanhã será outra noite!)

*Jairo De Britto, em
"Dunas de Marfim"

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quarta-feira, 6 de julho de 2011

TAL VEZ, O QUE BASTE SABER*


I
Não que eu saiba tanto assim,
ou que menos me importe saber:
Há quantos, exatos incríveis anos,
não tomo um copo de cólera?

II 
Não que me caiba aventar aqui,
quão mal me comporte ou sobreviva ali.              
Ou arguir: Qual a veríssima idade
das algas, estrelas, pedras - da Luz?

Vez que tantos diferem de mim,
em tanta alegria ou tão pouca sorte,
qual a estival infame verdade do Tempo?

III
Sei, talvez suficiente, da noite, das luas,
dos rios e vaidades; do distraído
conviver com a morte – severa amante,
pão nosso primo de cada dia.

Conheço suas mais íntimas, venais,
profundas entranhas; becos, vielas e ruas
E elas, todas, muito mais sabem de mim!

IV 
Sei, da madrugada, o estuário das manhas
- malditas e surdas; a densa voz de cada cidade:
A farsa inteira – crua, da servil tempestade
com que profana e abafa a viva manhã!

V
Do dia, mares, amor e sol, já soube
- e quis - mais.       
Hoje, bem pouco sei. Mas o que sei me basta.

É este parco, velho, provável falso saber
que alimenta meu viver.
(Amanhã será outra noite!)

*Jairo De Britto, em
"Dunas de Marfim"

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