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sábado, 7 de novembro de 2009

POEMA DA SOLIDÃO



Cada dia que passa, cada dia
que me leva um anseio e que me traz
uma fadiga para o coração,
sinto mais o perfume de poesia,
o êxtase lívido, a pureza e a paz
da minha solidão.

Depois das noites carpideiras,
quando um queimor de lagrimas enxutas
punha goivos na cova das olheiras,
ai! quantas vezes me internei nas grutas
para esconder as faces!
E tive sempre alguém que me guardasse
a entrada como um cão:
minha bravia solidão.

Nos sonhos claros de felicidade,
quando quis estar só para a esperança
de sorrir e viver,
nem mesmo por piedade
me disse que o sorriso também cansa,

nunca toldou de leve o meu prazer
porque sabia que era tudo em vão,
minha profunda solidão.

Nas horas doentes de mormaço,
quando o jardim já deu todas as flores
e as aranhas do tédio, passo a passo,
enchem de teia os templos interiores,
e se pergunta à vida por que é bela,
tenho o consolo da meditação
ao sentir a alma como um barco à vela
no oceano da solidão.

Quando o vulto da morte, sonolento,
pousar à flor da terra essa bandeira
que ergo às nuvens na mão,
- calma, no orgulho do desprendimento,
minha palavra derradeira
quero dizê-la à solidão.



Henriqueta Lisboa
In: Melhores Poemas
De Velário (1930-1935)
(Minas Gerais 1901-1985)

2 comentários:

Sonia Schmorantz disse...

Madalena, que poema mais sensível, mais ardoroso...lindo!
beijo, ótimo domingo

KIKA disse...

Amei o poema, bem como toda a página. PARABÉNS... Minha alma se refez de tanta alegria e energia boa que emana das palavras aqui encontrada.

sábado, 7 de novembro de 2009

POEMA DA SOLIDÃO



Cada dia que passa, cada dia
que me leva um anseio e que me traz
uma fadiga para o coração,
sinto mais o perfume de poesia,
o êxtase lívido, a pureza e a paz
da minha solidão.

Depois das noites carpideiras,
quando um queimor de lagrimas enxutas
punha goivos na cova das olheiras,
ai! quantas vezes me internei nas grutas
para esconder as faces!
E tive sempre alguém que me guardasse
a entrada como um cão:
minha bravia solidão.

Nos sonhos claros de felicidade,
quando quis estar só para a esperança
de sorrir e viver,
nem mesmo por piedade
me disse que o sorriso também cansa,

nunca toldou de leve o meu prazer
porque sabia que era tudo em vão,
minha profunda solidão.

Nas horas doentes de mormaço,
quando o jardim já deu todas as flores
e as aranhas do tédio, passo a passo,
enchem de teia os templos interiores,
e se pergunta à vida por que é bela,
tenho o consolo da meditação
ao sentir a alma como um barco à vela
no oceano da solidão.

Quando o vulto da morte, sonolento,
pousar à flor da terra essa bandeira
que ergo às nuvens na mão,
- calma, no orgulho do desprendimento,
minha palavra derradeira
quero dizê-la à solidão.



Henriqueta Lisboa
In: Melhores Poemas
De Velário (1930-1935)
(Minas Gerais 1901-1985)

2 comentários:

Sonia Schmorantz disse...

Madalena, que poema mais sensível, mais ardoroso...lindo!
beijo, ótimo domingo

KIKA disse...

Amei o poema, bem como toda a página. PARABÉNS... Minha alma se refez de tanta alegria e energia boa que emana das palavras aqui encontrada.