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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
'MONÓLOGO ENTRE SETAS'
Antigamente amei, e contemplei o absurdo
como alguém se mira num espelho que não vê
ou uma quilha de navio, ao entrar na baía,
desorienta um cardume de peixes.
De tanto amor amado, ficou um barulho cada vez mais
[fraco
igual a um rumor de casa pela manhã
ou aos motores de um avião na névoa, sobrevoando uma
[cidade.
E era um amor grande como a eternidade vista do tempo.
Nada me comove agora, nem a paixão bebida entre
[relâmpagos.
Sou perpendicular ao tédio, imito um remo fixo n'água.
No vaivém da vida, a canoa balança, os céus resplandecem
e, insensível à dor, como uma pedra, evapora-me nas águas
[abstratas.
Lêdo Ivo
In Antologia Poética
[Art by Sera Knight]
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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
'MONÓLOGO ENTRE SETAS'
Antigamente amei, e contemplei o absurdo
como alguém se mira num espelho que não vê
ou uma quilha de navio, ao entrar na baía,
desorienta um cardume de peixes.
De tanto amor amado, ficou um barulho cada vez mais
[fraco
igual a um rumor de casa pela manhã
ou aos motores de um avião na névoa, sobrevoando uma
[cidade.
E era um amor grande como a eternidade vista do tempo.
Nada me comove agora, nem a paixão bebida entre
[relâmpagos.
Sou perpendicular ao tédio, imito um remo fixo n'água.
No vaivém da vida, a canoa balança, os céus resplandecem
e, insensível à dor, como uma pedra, evapora-me nas águas
[abstratas.
Lêdo Ivo
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