Seja bem-vindo. Hoje é
sábado, 26 de março de 2011
O ausente
Tudo que foi luz
e hoje desmaia em treva
sob a errática
e suas confusas pétalas
tudo o que amamos e em desejo tivemos
com sede amarga de posse
em lábios angustiados
renasce deste silêncio de orfandade
e da vida faz cinza
e morte.
O inverno é que não estejas
senão nos olhos áridos da insônia
ai, que não estejas e o sol já não aquece
e o mar não dança entre rochedos
e o pássaro é um triste vôo
que adormece.
Dora Ferreira da Silva
Poesia Reunida (1999)
quarta-feira, 23 de março de 2011
Delírio Azul
"E flores verdes no ar brandamente se movem:
"Chispam verdes fuzis riscando o céu sombrio;
Em esmeralda flui a água verde do rio,
E do céu, todo verde, as esmeraldas chovem..."
(Olavo Bilac)
Azul a tarde, azul o céu e o mar,
Azul o tempo, que não vai passar,
Enredado na trama opalescente.
Azul o teu olhar, meu sonho louco,
Essa ventura que durou tão pouco,
Esta saudade que me torna ausente.
Lividez de turquesa e água-marinha,
Na visão de berilo, que é só minha,
Em nuanças de índigo delira.
Heráldico pavés, em blau tingido,
O mundo se desfaz em colorido,
Lápis-Lazuli, em campo de safira.
Alba Saltiel Bianco
In Música do Vento
Do Blog da amiga Dione Coppi.
terça-feira, 15 de março de 2011
Auto-Retrato
Certa vez, numa aventura estranha
fugi
do estreito túmulo em que me estorcia
para uma ampliação sem fim.
Quando voltei
e senti, de novo, ferindo-me, o peso dos grilhões,
então não mais sabia quem eu era.
E nunca mais soube quem eu sou.
Talvez a sombra triste de um sonho de poeta.
Talvez a misteriosa alma de uma estrela
a guardar ainda no profundo cerne
a ilógica saudade de um passado astral.
Moacyr Félix
de Singular Plural
Editora Record.
quarta-feira, 9 de março de 2011
MARCHA DA QUARTA-FEIRA DE CINZAS
Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou.
Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri, se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor.
E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade...
A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir, voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar.
Porque são tantas coisas azuis
Há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe...
Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz.
Vinicius de Moraes — Cancioneiro / Canções Populares
“in” Vinicius de Moraes Poesia Completa e Prosa
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sábado, 26 de março de 2011
O ausente
Tudo que foi luz
e hoje desmaia em treva
sob a errática
e suas confusas pétalas
tudo o que amamos e em desejo tivemos
com sede amarga de posse
em lábios angustiados
renasce deste silêncio de orfandade
e da vida faz cinza
e morte.
O inverno é que não estejas
senão nos olhos áridos da insônia
ai, que não estejas e o sol já não aquece
e o mar não dança entre rochedos
e o pássaro é um triste vôo
que adormece.
Dora Ferreira da Silva
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quarta-feira, 23 de março de 2011
Delírio Azul
"E flores verdes no ar brandamente se movem:
"Chispam verdes fuzis riscando o céu sombrio;
Em esmeralda flui a água verde do rio,
E do céu, todo verde, as esmeraldas chovem..."
(Olavo Bilac)
Azul a tarde, azul o céu e o mar,
Azul o tempo, que não vai passar,
Enredado na trama opalescente.
Azul o teu olhar, meu sonho louco,
Essa ventura que durou tão pouco,
Esta saudade que me torna ausente.
Lividez de turquesa e água-marinha,
Na visão de berilo, que é só minha,
Em nuanças de índigo delira.
Heráldico pavés, em blau tingido,
O mundo se desfaz em colorido,
Lápis-Lazuli, em campo de safira.
Alba Saltiel Bianco
In Música do Vento
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terça-feira, 15 de março de 2011
Auto-Retrato
Certa vez, numa aventura estranha
fugi
do estreito túmulo em que me estorcia
para uma ampliação sem fim.
Quando voltei
e senti, de novo, ferindo-me, o peso dos grilhões,
então não mais sabia quem eu era.
E nunca mais soube quem eu sou.
Talvez a sombra triste de um sonho de poeta.
Talvez a misteriosa alma de uma estrela
a guardar ainda no profundo cerne
a ilógica saudade de um passado astral.
Moacyr Félix
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quarta-feira, 9 de março de 2011
MARCHA DA QUARTA-FEIRA DE CINZAS
Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou.
Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri, se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor.
E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade...
A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir, voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar.
Porque são tantas coisas azuis
Há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe...
Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz.
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