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domingo, 6 de julho de 2014

POEMA



Duro caminho é o saber que não há caminho.
O que há são fragmentos de rota que o tecido do acaso
une ou desune. Estar, andar. Identificar-se com as coisas,
com o tempo. Estar aqui, ali. Estar antigamente, estar futuro,
ou buscar-se no espelho onde não há espelho.
Isso é tudo.
Mesmo assim nos sonhamos, e sonhamos
um roteiro, um destino.
Não no espaço, ou no tempo,
mas na parte de nós, ah, tão frágil, que se devora
e, perdida, se salva.

Emílio Moura
In: Itinerário Poético
Entre o Real e a Fabula

OS VERSOS QUE TE DOU


Ouve estes versos que te dou, eu
os fiz hoje que sinto o coração contente
enquanto teu amor for meu somente,
eu farei versos...e serei feliz...

E hei de fazê-los pela vida afora,
versos de sonho e de amor, e hei  depois
relembrar o passado de nós dois...
esse passado que começa agora...

Estes versos repletos de ternura são
versos meus, mas que são teus, também...
Sozinha, hás de escutá-los sem ninguém que
possa perturbar vossa ventura...

Quando o tempo branquear os teus cabelos
hás de um dia mais tarde, revivê-los nas
lembranças que a vida não desfez...

E ao lê-los...com saudade em tua dor...
hás de rever, chorando, o nosso amor,
hás de lembrar, também, de quem os fez...

Se nesse tempo eu já tiver partido e
outros versos quiseres, teu pedido deixa
ao lado da cruz para onde eu vou...

Quando lá novamente, então tu fores,
pode colher do chão todas as flores, pois
são os versos de amor que ainda te dou.

J. G. de Araújo Jorge* 
do livro “Meu céu interior”, Editora Vecchi – Rio de Janeiro, 1934.


 *José Guilherme de Araújo Jorge - nasceu na Vila de Tarauacá, no Estado do Acre, aos 20 de maio de 1914. Ainda jovem iniciou-se na poesia. Estudou em Coimbra, Portugal, e fez curso de Extensão Cultural na Universidade de Berlim, Alemanha. Além de escritor, locutor e redator de programas radiofônicos, professor de História e Literatura, líder estudantil, tinha política em suas veias. Foi candidato a vários cargos públicos. Elegeu-se deputado federal pelo Estado da Guanabara, em 1970. Foi reeleito em 1974 e 1978. Mesmo combatidos pelos críticos, seus livros — em número de 36 — tinham grande aceitação e foram publicados em diversos países. Faleceu no dia 27 de janeiro de 1987.

'TRUMPET'S BLUES'



O dia se foi.
A lua é um nada,
O vento é frio.
Passado, presente

Futuro – é isso:
Um cigarro aceso,
Uma tosse no meio da praça,
Um estalar de dedos na outra esquina.

Então, lá no fundo,
No meio da cidade,
Alguém começa a gritar
Pelo bocal de um piston.


Sérgio Jockyman*
De ‘Poemas em negro’, pag 47
Imprensa Oficial do Estado – 1958-

[Tela by Ted Hornes, Blues Silhouette]

domingo, 6 de julho de 2014

POEMA



Duro caminho é o saber que não há caminho.
O que há são fragmentos de rota que o tecido do acaso
une ou desune. Estar, andar. Identificar-se com as coisas,
com o tempo. Estar aqui, ali. Estar antigamente, estar futuro,
ou buscar-se no espelho onde não há espelho.
Isso é tudo.
Mesmo assim nos sonhamos, e sonhamos
um roteiro, um destino.
Não no espaço, ou no tempo,
mas na parte de nós, ah, tão frágil, que se devora
e, perdida, se salva.

Emílio Moura
In: Itinerário Poético
Entre o Real e a Fabula

OS VERSOS QUE TE DOU


Ouve estes versos que te dou, eu
os fiz hoje que sinto o coração contente
enquanto teu amor for meu somente,
eu farei versos...e serei feliz...

E hei de fazê-los pela vida afora,
versos de sonho e de amor, e hei  depois
relembrar o passado de nós dois...
esse passado que começa agora...

Estes versos repletos de ternura são
versos meus, mas que são teus, também...
Sozinha, hás de escutá-los sem ninguém que
possa perturbar vossa ventura...

Quando o tempo branquear os teus cabelos
hás de um dia mais tarde, revivê-los nas
lembranças que a vida não desfez...

E ao lê-los...com saudade em tua dor...
hás de rever, chorando, o nosso amor,
hás de lembrar, também, de quem os fez...

Se nesse tempo eu já tiver partido e
outros versos quiseres, teu pedido deixa
ao lado da cruz para onde eu vou...

Quando lá novamente, então tu fores,
pode colher do chão todas as flores, pois
são os versos de amor que ainda te dou.

J. G. de Araújo Jorge* 
do livro “Meu céu interior”, Editora Vecchi – Rio de Janeiro, 1934.


 *José Guilherme de Araújo Jorge - nasceu na Vila de Tarauacá, no Estado do Acre, aos 20 de maio de 1914. Ainda jovem iniciou-se na poesia. Estudou em Coimbra, Portugal, e fez curso de Extensão Cultural na Universidade de Berlim, Alemanha. Além de escritor, locutor e redator de programas radiofônicos, professor de História e Literatura, líder estudantil, tinha política em suas veias. Foi candidato a vários cargos públicos. Elegeu-se deputado federal pelo Estado da Guanabara, em 1970. Foi reeleito em 1974 e 1978. Mesmo combatidos pelos críticos, seus livros — em número de 36 — tinham grande aceitação e foram publicados em diversos países. Faleceu no dia 27 de janeiro de 1987.

'TRUMPET'S BLUES'



O dia se foi.
A lua é um nada,
O vento é frio.
Passado, presente

Futuro – é isso:
Um cigarro aceso,
Uma tosse no meio da praça,
Um estalar de dedos na outra esquina.

Então, lá no fundo,
No meio da cidade,
Alguém começa a gritar
Pelo bocal de um piston.


Sérgio Jockyman*
De ‘Poemas em negro’, pag 47
Imprensa Oficial do Estado – 1958-

[Tela by Ted Hornes, Blues Silhouette]