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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

'Malha Delicada!



Alma, moço, é malha delicada
e destramá-la é ofício
de fiandeira ao contrário

alma é vaso
de porcelana chinesa
não vá entorná-la na mesa
quando puxar a toalha.

Chandal Meirelles Nasser

'Antes e depois'


Antes era o passado com seu jogo
O futuro do mundo entre nós
Juntos nessa viagem da razão
Almas e fé confortando o coração.

Depois veio o falar dos poetas
Cada um a seu e jeito de expressão
Feitio de poema de diferentes linhas
Essa é a doce espera do depois.

Agora é verão com seu balé
Que conversa com a primavera
Sobre ausências sentimentos tantos
Adentra em nós pela saudade que sobrou.

Vany Campos

'Conhecendo limites'


Conhecer limites:

ser pássaro sem voo
jamais alçar ao espaço.

Obedecer a lei do quotidiano:

arma engatilhada
que instaura o silêncio.

Armadilha do escuro
dos dias contados.

Desaprender o riso:

trágico destino do Ser
ante o abismo.

Margarida Finkel


[Arte de Vladimir Kush]

'MONÓLOGO ENTRE SETAS'


Antigamente amei, e contemplei o absurdo
como alguém se mira num espelho que não vê
ou uma quilha de navio, ao entrar na baía,
desorienta um cardume de peixes.

De tanto amor amado, ficou um barulho cada vez mais
[fraco
igual a um rumor de casa pela manhã
ou aos motores de um avião na névoa, sobrevoando uma
[cidade.
E era um amor grande como a eternidade vista do tempo.

Nada me comove agora, nem a paixão bebida entre
[relâmpagos.
Sou perpendicular ao tédio, imito um remo fixo n'água.
No vaivém da vida, a canoa balança, os céus resplandecem
e, insensível à dor, como uma pedra, evapora-me nas águas
[abstratas.

Lêdo Ivo
In Antologia Poética


 [Art by Sera Knight]

''NOTÍCIA DO SÁBADO MAGRO''


Bailemos todos, que a noite
dura apenas um suspiro,
e só temos um minuto
para gastar nossas vidas.

Bailemos. Benditos sejam
cegos, loucos e mendigos,
que, embora não bailam nunca,
vão ganhar o Paraíso.

Tudo agora se assemelha
ao sonho de nossa infância:
entre fanfarras e gritos,
máscaras em negro e branco.

No turbilhão dos bailantes,
benditos sejam palhaços
que não foram convidados
para este sábado magro.

E também sejam benditos
as cartomantes e o mágicos.
Bailemos todos, que a vida
não passará deste sábado.

No império do calafrio,
benditos sejam os amantes,
bêbedos e saltimbancos.
E bendita seja a infância.

Bailemos: a vida é breve.
Cantemos: a saia é leve.
Bebamos: é de cevada
o sonho de nossa treva.

Uma nova fantasia
à luz purpúrea se talha.
No escuro já se costura
nossa futura mortalha.

Lêdo Ivo
In Antologia Poética


[Painting by Sera Knight]

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

'Malha Delicada!



Alma, moço, é malha delicada
e destramá-la é ofício
de fiandeira ao contrário

alma é vaso
de porcelana chinesa
não vá entorná-la na mesa
quando puxar a toalha.

Chandal Meirelles Nasser

'Antes e depois'


Antes era o passado com seu jogo
O futuro do mundo entre nós
Juntos nessa viagem da razão
Almas e fé confortando o coração.

Depois veio o falar dos poetas
Cada um a seu e jeito de expressão
Feitio de poema de diferentes linhas
Essa é a doce espera do depois.

Agora é verão com seu balé
Que conversa com a primavera
Sobre ausências sentimentos tantos
Adentra em nós pela saudade que sobrou.

Vany Campos

'Conhecendo limites'


Conhecer limites:

ser pássaro sem voo
jamais alçar ao espaço.

Obedecer a lei do quotidiano:

arma engatilhada
que instaura o silêncio.

Armadilha do escuro
dos dias contados.

Desaprender o riso:

trágico destino do Ser
ante o abismo.

Margarida Finkel


[Arte de Vladimir Kush]

'MONÓLOGO ENTRE SETAS'


Antigamente amei, e contemplei o absurdo
como alguém se mira num espelho que não vê
ou uma quilha de navio, ao entrar na baía,
desorienta um cardume de peixes.

De tanto amor amado, ficou um barulho cada vez mais
[fraco
igual a um rumor de casa pela manhã
ou aos motores de um avião na névoa, sobrevoando uma
[cidade.
E era um amor grande como a eternidade vista do tempo.

Nada me comove agora, nem a paixão bebida entre
[relâmpagos.
Sou perpendicular ao tédio, imito um remo fixo n'água.
No vaivém da vida, a canoa balança, os céus resplandecem
e, insensível à dor, como uma pedra, evapora-me nas águas
[abstratas.

Lêdo Ivo
In Antologia Poética


 [Art by Sera Knight]

''NOTÍCIA DO SÁBADO MAGRO''


Bailemos todos, que a noite
dura apenas um suspiro,
e só temos um minuto
para gastar nossas vidas.

Bailemos. Benditos sejam
cegos, loucos e mendigos,
que, embora não bailam nunca,
vão ganhar o Paraíso.

Tudo agora se assemelha
ao sonho de nossa infância:
entre fanfarras e gritos,
máscaras em negro e branco.

No turbilhão dos bailantes,
benditos sejam palhaços
que não foram convidados
para este sábado magro.

E também sejam benditos
as cartomantes e o mágicos.
Bailemos todos, que a vida
não passará deste sábado.

No império do calafrio,
benditos sejam os amantes,
bêbedos e saltimbancos.
E bendita seja a infância.

Bailemos: a vida é breve.
Cantemos: a saia é leve.
Bebamos: é de cevada
o sonho de nossa treva.

Uma nova fantasia
à luz purpúrea se talha.
No escuro já se costura
nossa futura mortalha.

Lêdo Ivo
In Antologia Poética


[Painting by Sera Knight]