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terça-feira, 29 de maio de 2012

''INVENTÁRIO''


Permitirei ao rosto
que se dispa, em silêncio,
das usuras do tempo:
à linha do lábio
legarei a memória do beijo;
à curva da mão
o gesto simples do afagar;
aos olhos, que buscaram,
a maciez do orvalho.

E ao corpo, que adocicou
com seu louco mistério
a vida dos dias perdidos,
doarei chaves de solidão.

Ymah Théres

''Ritual''

Despida de aromas
e de seu íntimo segredo
cabe à flor a renúncia de suas sépalas.
Vai fanando devagar
na tarde que o verão queima:
não há gota d’água que a abençoe
a flor é um sonho murcho
Mas a brisa percorreu seus contornos
a abelha levou-lhe o pólen de seu amor.
Certo é que mais dia menos dia
há de haver outro jardim.

(Ymah Théres)

(THÉRES, 1991, p. 46)

''Poemeto''


Vejo é a rosa
mas há o espinho
mesmo que o toque
seja fortuito mesmo
que o jardim repouse
vejo a rosa
mas há é o espinho.

(Ymah Théres)
(THÉRES, 1991, p. 45)

Imaculada Therezinha Miranda Ribeiro, conhecida como Ymah Théres,
Nascida em Lima Duarte, no ano de 1939, Ymah formou-se em jornalismo pela antiga Faculdade de Filosofia e Letras – Fafile (UFJF) e viveu em Juiz de Fora, onde faleceu em 2008, aos 69 anos. Durante mais de 30 anos, colaborou como articulista em inúmeros periódicos mineiros. Membro titular e fundadora da Academia Juizforana de Letras, a poetisa teve seu talento reconhecido por meio de inúmeras premiações e menções honrosas recebidas em concursos literários.

domingo, 27 de maio de 2012

''DO MUNDO''


Vão, que já não são meus
os filhos, os versos, a história.

Comigo não ficam meus passos
nem o desenho do corpo.


Vão os que do mundo vieram:
as folhas, os porres, os cansaços.


Se depositamos guirlandas e lágrimas
aos pés deste deus, nossos tesouros
já não ficam ensimesmados.


Vão, pois, esvaziem-se nossos barcos
por tamanha generosa partida.


E para tantos outros encontros
solte-se a órbita do peito no espaço.

(Fernando Campanella)

domingo, 13 de maio de 2012

ALGUMA COISA


Alguma coisa fica
do caminhar contínuo
e deste sono.
Alguma folha fica
da primavera
no outono.
Algum fruto, algum gesto, alguma voz.
Alguma coisa frutifica.
E fica em nós.

Renata Pallottini

terça-feira, 1 de maio de 2012

Pouca Fala



  Como é fácil dizer. É abrir a boca
e deixar que se livre, como um rio
perdido de si mesmo, o desvairio.
Aprendi: toda vez que deixo a boca
entregar-se à aventura da verdade,
não demora e a traição da liberdade
me devolve a palavra desalada.
O tempo é o do fazer silencioso,
e um pouco de canção, brasa que o azul
do sonho que trabalha vai lavrando.
Com a terra que abriga e dá caminho
a um sonho de semente que não sabe
que abre um rastro de luz na escuridão.

Thiago de Mello
In: Poesia Comprometida Com a Minha e a Tua Vida

terça-feira, 29 de maio de 2012

''INVENTÁRIO''


Permitirei ao rosto
que se dispa, em silêncio,
das usuras do tempo:
à linha do lábio
legarei a memória do beijo;
à curva da mão
o gesto simples do afagar;
aos olhos, que buscaram,
a maciez do orvalho.

E ao corpo, que adocicou
com seu louco mistério
a vida dos dias perdidos,
doarei chaves de solidão.

Ymah Théres

''Ritual''

Despida de aromas
e de seu íntimo segredo
cabe à flor a renúncia de suas sépalas.
Vai fanando devagar
na tarde que o verão queima:
não há gota d’água que a abençoe
a flor é um sonho murcho
Mas a brisa percorreu seus contornos
a abelha levou-lhe o pólen de seu amor.
Certo é que mais dia menos dia
há de haver outro jardim.

(Ymah Théres)

(THÉRES, 1991, p. 46)

''Poemeto''


Vejo é a rosa
mas há o espinho
mesmo que o toque
seja fortuito mesmo
que o jardim repouse
vejo a rosa
mas há é o espinho.

(Ymah Théres)
(THÉRES, 1991, p. 45)

Imaculada Therezinha Miranda Ribeiro, conhecida como Ymah Théres,
Nascida em Lima Duarte, no ano de 1939, Ymah formou-se em jornalismo pela antiga Faculdade de Filosofia e Letras – Fafile (UFJF) e viveu em Juiz de Fora, onde faleceu em 2008, aos 69 anos. Durante mais de 30 anos, colaborou como articulista em inúmeros periódicos mineiros. Membro titular e fundadora da Academia Juizforana de Letras, a poetisa teve seu talento reconhecido por meio de inúmeras premiações e menções honrosas recebidas em concursos literários.

domingo, 27 de maio de 2012

''DO MUNDO''


Vão, que já não são meus
os filhos, os versos, a história.

Comigo não ficam meus passos
nem o desenho do corpo.


Vão os que do mundo vieram:
as folhas, os porres, os cansaços.


Se depositamos guirlandas e lágrimas
aos pés deste deus, nossos tesouros
já não ficam ensimesmados.


Vão, pois, esvaziem-se nossos barcos
por tamanha generosa partida.


E para tantos outros encontros
solte-se a órbita do peito no espaço.

(Fernando Campanella)

domingo, 13 de maio de 2012

ALGUMA COISA


Alguma coisa fica
do caminhar contínuo
e deste sono.
Alguma folha fica
da primavera
no outono.
Algum fruto, algum gesto, alguma voz.
Alguma coisa frutifica.
E fica em nós.

Renata Pallottini

terça-feira, 1 de maio de 2012

Pouca Fala



  Como é fácil dizer. É abrir a boca
e deixar que se livre, como um rio
perdido de si mesmo, o desvairio.
Aprendi: toda vez que deixo a boca
entregar-se à aventura da verdade,
não demora e a traição da liberdade
me devolve a palavra desalada.
O tempo é o do fazer silencioso,
e um pouco de canção, brasa que o azul
do sonho que trabalha vai lavrando.
Com a terra que abriga e dá caminho
a um sonho de semente que não sabe
que abre um rastro de luz na escuridão.

Thiago de Mello
In: Poesia Comprometida Com a Minha e a Tua Vida