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segunda-feira, 23 de maio de 2011

HORA MEMÓRIA


Há rostos que nunca se irão.
Outros jamais veremos
mas aí estão,
sempre.
Nunca conheceremos todos
os convivas.
Nem os mais próximos.
Sequer o irmão.
A memória retém os
que devem ficar.
Mesmo os que, fugazes,
teimam em partir.
Lembrar é fingir.


Antonio Fernando de Franceschi
— Tarde Revelada

FUGA


Desfez-se da inquietação,
abandonou a luta
e caminhou vagarosamente
para a aceitação...

A realidade do dia-a-dia
sempre foi para ele
desespero e agonia.

Cansado, deitou-se na relva,
olhou para o céu, bebeu azul e paz,
aspirou os aromas silvestres
depois fechou os olhos
e deixou a alma sonhar...

A bela alma foi brincar
no recanto mágico de seus desejos,
lá, onde há luz, música e beijos,
onde ninguém tem motivos para chorar...

Adormeceu sorrindo
ouvindo a flauta do vento
no arvoredo que dançava ali, ao lado...
E, sonhando dormindo
o mesmo sonho que sonhara acordado.


Zoraida H. Guimarães
in Na Passarela do Tempo

sexta-feira, 20 de maio de 2011

POLARIDADES


A vida?
Ora a encontro
Ora a perco
Teço e desfio
Amanheço com promessa
Pássaros
Depois anoiteço
Com desconcerto de gritos...

(Fernando Campanella, trecho do primeira poema que escrevi, em 1982.)

terça-feira, 17 de maio de 2011

A canção do mar


À sombra dos imensos coqueirais,
Ouço as queixas infindas e os tormentos
Do mar que entre gemidos espectrais,
Confessa à solidão seus sofrimentos!


Gosto de ouvir os mares turbulentos,
Que nas suas canções sentimentais,
Tem a monotonia dos lamentos
Que os sinos soltam pelas catedrais. . .


Escuto ao longe entre profundas magoas,
Os soluços monótonos das águas
Que vão aos poucos para o céu crescendo!


Num cenário de dor e convulsão,
Enquanto as ondas preguiçosas vão
Pela areia da praia se estendendo. . .



Jansen Filho
In: Obras Completas

QUALQUER TEMPO


Qualquer tempo é tempo.
A hora mesma da morte
é hora de nascer.

Nenhum tempo é tempo
bastante para a ciência
de ver, rever.

Tempo, contratempo
anulam-se, mas o sonho
resta, de viver.


Carlos Drummond de Andrade,
in 'A Falta que Ama'

Recebido da amiga Amália Catarina.

MADRIGAL


Azul e pontual,
o céu acordou:
cada aurora
em seu horizonte.
Mas a pergunta,
como um gládio
em riste, cravou
seu aço no vazio
— e lá, imóvel, ficou
esperando a resposta
que não raiou.

Ivan Junqueira — Os Mortos
“in” Poesia Reunida
Recebido do amigo e escritor Delores Pires.

sábado, 7 de maio de 2011

Ser Mãe


Ser mãe é desdobrar fibra por fibra
o coração! Ser mãe é ter no alheio
lábio que suga, o pedestal do seio,
onde a vida, onde o amor, cantando, vibra.

Ser mãe é ser um anjo que se libra
sobre um berço dormindo! É ser anseio,
é ser temeridade, é ser receio,
é ser força que os males equilibra!

Todo o bem que a mãe goza é bem do filho,
espelho em que se mira afortunada,
Luz que lhe põe nos olhos novo brilho!

Ser mãe é andar chorando num sorriso!
Ser mãe é ter um mundo e não ter nada!
Ser mãe é padecer num paraíso!

Coelho Neto

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Berceuse


A chuva embala as árvores insones
Com baladas e lendas outonais...

Carícia d'água, cândida e piedosa,
Nos braços nus dos troncos espetrais.

Mantilha em que se abrigam tristes frondes,
Saudosas dos diademas estivais.

A chuva dependura pelos ramos
Braceletes de lúcidos cristais

O vento embala as árvores silentes
Com baladas e lendas outonais.

Helena Kolody

quarta-feira, 4 de maio de 2011

INVASÃO DA ALEGRIA


Ah! Que alegria de furtar manhãs! –
Um “venha “ de um tapa azul no sangue!
Tê-la a ensinar ao sol da nossa boca
Uma lição de madrigais meninos!

Brincar o cheiro da manhã molhada
Enxugando-a de amor! Depois gostá-la
Com um circo de prazer de ter achado
Dentro da música o assobio perdido.

Ter a manhã como uma caixa e abri-la
Para afofar seu dispersivo corpo
Até reaver os dedos sujos de asas!

Sorver manhãs com licor de almas dentro,
Num orgasmo castíssimo, surpreso
Que a dor insista em praticar a noite...

Homero Frei
In “Sonetos Brancos” (1998)

POEMAS DO VENTO


Gastar-se no tempo
diluir-se no vento
evolar-se no sonho
deixando
- haverá quem o colha? -
um resíduo...

Memória.

Levarei por onde ande
uma inquietação mais nada
impulso vital que extingo
dentro de um pouco de lama.

Tal que o vento que baila
fazendo seu corpo efêmero
com a poeira das estradas...


Menotti Del Picchia

segunda-feira, 23 de maio de 2011

HORA MEMÓRIA


Há rostos que nunca se irão.
Outros jamais veremos
mas aí estão,
sempre.
Nunca conheceremos todos
os convivas.
Nem os mais próximos.
Sequer o irmão.
A memória retém os
que devem ficar.
Mesmo os que, fugazes,
teimam em partir.
Lembrar é fingir.


Antonio Fernando de Franceschi
— Tarde Revelada

FUGA


Desfez-se da inquietação,
abandonou a luta
e caminhou vagarosamente
para a aceitação...

A realidade do dia-a-dia
sempre foi para ele
desespero e agonia.

Cansado, deitou-se na relva,
olhou para o céu, bebeu azul e paz,
aspirou os aromas silvestres
depois fechou os olhos
e deixou a alma sonhar...

A bela alma foi brincar
no recanto mágico de seus desejos,
lá, onde há luz, música e beijos,
onde ninguém tem motivos para chorar...

Adormeceu sorrindo
ouvindo a flauta do vento
no arvoredo que dançava ali, ao lado...
E, sonhando dormindo
o mesmo sonho que sonhara acordado.


Zoraida H. Guimarães
in Na Passarela do Tempo

sexta-feira, 20 de maio de 2011

POLARIDADES


A vida?
Ora a encontro
Ora a perco
Teço e desfio
Amanheço com promessa
Pássaros
Depois anoiteço
Com desconcerto de gritos...

(Fernando Campanella, trecho do primeira poema que escrevi, em 1982.)

terça-feira, 17 de maio de 2011

A canção do mar


À sombra dos imensos coqueirais,
Ouço as queixas infindas e os tormentos
Do mar que entre gemidos espectrais,
Confessa à solidão seus sofrimentos!


Gosto de ouvir os mares turbulentos,
Que nas suas canções sentimentais,
Tem a monotonia dos lamentos
Que os sinos soltam pelas catedrais. . .


Escuto ao longe entre profundas magoas,
Os soluços monótonos das águas
Que vão aos poucos para o céu crescendo!


Num cenário de dor e convulsão,
Enquanto as ondas preguiçosas vão
Pela areia da praia se estendendo. . .



Jansen Filho
In: Obras Completas

QUALQUER TEMPO


Qualquer tempo é tempo.
A hora mesma da morte
é hora de nascer.

Nenhum tempo é tempo
bastante para a ciência
de ver, rever.

Tempo, contratempo
anulam-se, mas o sonho
resta, de viver.


Carlos Drummond de Andrade,
in 'A Falta que Ama'

Recebido da amiga Amália Catarina.

MADRIGAL


Azul e pontual,
o céu acordou:
cada aurora
em seu horizonte.
Mas a pergunta,
como um gládio
em riste, cravou
seu aço no vazio
— e lá, imóvel, ficou
esperando a resposta
que não raiou.

Ivan Junqueira — Os Mortos
“in” Poesia Reunida
Recebido do amigo e escritor Delores Pires.

sábado, 7 de maio de 2011

Ser Mãe


Ser mãe é desdobrar fibra por fibra
o coração! Ser mãe é ter no alheio
lábio que suga, o pedestal do seio,
onde a vida, onde o amor, cantando, vibra.

Ser mãe é ser um anjo que se libra
sobre um berço dormindo! É ser anseio,
é ser temeridade, é ser receio,
é ser força que os males equilibra!

Todo o bem que a mãe goza é bem do filho,
espelho em que se mira afortunada,
Luz que lhe põe nos olhos novo brilho!

Ser mãe é andar chorando num sorriso!
Ser mãe é ter um mundo e não ter nada!
Ser mãe é padecer num paraíso!

Coelho Neto

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Berceuse


A chuva embala as árvores insones
Com baladas e lendas outonais...

Carícia d'água, cândida e piedosa,
Nos braços nus dos troncos espetrais.

Mantilha em que se abrigam tristes frondes,
Saudosas dos diademas estivais.

A chuva dependura pelos ramos
Braceletes de lúcidos cristais

O vento embala as árvores silentes
Com baladas e lendas outonais.

Helena Kolody

quarta-feira, 4 de maio de 2011

INVASÃO DA ALEGRIA


Ah! Que alegria de furtar manhãs! –
Um “venha “ de um tapa azul no sangue!
Tê-la a ensinar ao sol da nossa boca
Uma lição de madrigais meninos!

Brincar o cheiro da manhã molhada
Enxugando-a de amor! Depois gostá-la
Com um circo de prazer de ter achado
Dentro da música o assobio perdido.

Ter a manhã como uma caixa e abri-la
Para afofar seu dispersivo corpo
Até reaver os dedos sujos de asas!

Sorver manhãs com licor de almas dentro,
Num orgasmo castíssimo, surpreso
Que a dor insista em praticar a noite...

Homero Frei
In “Sonetos Brancos” (1998)

POEMAS DO VENTO


Gastar-se no tempo
diluir-se no vento
evolar-se no sonho
deixando
- haverá quem o colha? -
um resíduo...

Memória.

Levarei por onde ande
uma inquietação mais nada
impulso vital que extingo
dentro de um pouco de lama.

Tal que o vento que baila
fazendo seu corpo efêmero
com a poeira das estradas...


Menotti Del Picchia