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terça-feira, 19 de abril de 2011

EPITALÂMIO


Apenas as gotas de chuva: compassadas e mansas.
A folhagem, lá fora, adormeceu feliz.
Despertando na relva, cantam grilos baixinho.
A confidência da chuva, a confidência dos grilos,
Tudo que vem da noite é surdina e doçura.

Certeza não direi, mas direi: esperança.
Deves pensar em mim neste momento mesmo.
Teu pensamento é o meu, tua esperança é a minha.
Através do espaço,não é verdade? as nossas mãos
Estão apertadas, em segredo.
Sinto que o nosso amor era grande como a noite
E que o melhor de nós habita na distância
Que nos espera.


Ribeiro Couto
In Poesias Consagradas Vol.3

Elegia


Que quer o vento?
a cada instante
Este lamento
Passa a porta
Dizendo: abre...

Vento que assusta
Nas horas frias
Da noite feia,
Vindo de longe,
Das ermas praias.

Andam de ronda
Nesse violento
longo queixume,
As invisíveis
Bocas dos mortos.

Também um dia,
Estando eu morto,
Virei queixar-me
Na tua porta
Virei no vento
Mas não de inverno,
Nas horas frias
Das noites feias.

Virei no vento
Da primavera,
Em tua boca
Serei carícia,
Cheiro de flores
Que estão lá fora
Na noite quente.

Virei no vento...
Direi: acorda...


Ribeiro Couto

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A NOITE


Um vento fresco e suave entre os pinhais murmura;
A Noite, aos ombros solta a desgrenhada coma,
No seu plaustro de crepe, entre as nuvens assoma ...
Tornam-se o campo e o céu de uma cor mais escura.

Um novo aspecto em tudo. um novo e bom aroma
De látiros exala a amplíssima verdura.
Num hausto longo, a Noite, aos ares a frescura
Doce, entreabrindo a flor dos negros lábios, toma ...

Por vales e rechãs caminha, passo a passo,
Atento o ouvido, à escuta ... E no seu plaustro enorme
Cujo rumor desperta a placidez do espaço,

À encantada região das estrelas se eleva ...
E, ao ver que dorme o espaço e o mundo inteiro dorme,
Volve, quieta, de novo, à habitação da treva.


Francisca Júlia
in Poesias

Francisca Júlia da Silva Munster (Xiririca, 31 de agosto de 1871 - São Paulo, 1 de novembro de 1920)

terça-feira, 19 de abril de 2011

EPITALÂMIO


Apenas as gotas de chuva: compassadas e mansas.
A folhagem, lá fora, adormeceu feliz.
Despertando na relva, cantam grilos baixinho.
A confidência da chuva, a confidência dos grilos,
Tudo que vem da noite é surdina e doçura.

Certeza não direi, mas direi: esperança.
Deves pensar em mim neste momento mesmo.
Teu pensamento é o meu, tua esperança é a minha.
Através do espaço,não é verdade? as nossas mãos
Estão apertadas, em segredo.
Sinto que o nosso amor era grande como a noite
E que o melhor de nós habita na distância
Que nos espera.


Ribeiro Couto
In Poesias Consagradas Vol.3

Elegia


Que quer o vento?
a cada instante
Este lamento
Passa a porta
Dizendo: abre...

Vento que assusta
Nas horas frias
Da noite feia,
Vindo de longe,
Das ermas praias.

Andam de ronda
Nesse violento
longo queixume,
As invisíveis
Bocas dos mortos.

Também um dia,
Estando eu morto,
Virei queixar-me
Na tua porta
Virei no vento
Mas não de inverno,
Nas horas frias
Das noites feias.

Virei no vento
Da primavera,
Em tua boca
Serei carícia,
Cheiro de flores
Que estão lá fora
Na noite quente.

Virei no vento...
Direi: acorda...


Ribeiro Couto

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A NOITE


Um vento fresco e suave entre os pinhais murmura;
A Noite, aos ombros solta a desgrenhada coma,
No seu plaustro de crepe, entre as nuvens assoma ...
Tornam-se o campo e o céu de uma cor mais escura.

Um novo aspecto em tudo. um novo e bom aroma
De látiros exala a amplíssima verdura.
Num hausto longo, a Noite, aos ares a frescura
Doce, entreabrindo a flor dos negros lábios, toma ...

Por vales e rechãs caminha, passo a passo,
Atento o ouvido, à escuta ... E no seu plaustro enorme
Cujo rumor desperta a placidez do espaço,

À encantada região das estrelas se eleva ...
E, ao ver que dorme o espaço e o mundo inteiro dorme,
Volve, quieta, de novo, à habitação da treva.


Francisca Júlia
in Poesias

Francisca Júlia da Silva Munster (Xiririca, 31 de agosto de 1871 - São Paulo, 1 de novembro de 1920)