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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

COM O AMOR NA MEMÓRIA



Amar deve ser um perder da memória
dos muitos amores que nunca esqueci
pela vida levada à margem da história
da memória do amor que nunca perdi.

Deve ser da esperança
minha vaga lembrança
dessas vidas passadas
ao meu lado de ti...

Amar deve ser como a luz da centelha
no pólen das rosas num gozo sem fim
no início da vida da luz que te espelha
no amor da centelha na flor do jardim.

Deve ser da esperança
de tua vaga lembrança
dessas vidas passadas
ao teu lado de mim...


Afonso Estebanez
(Dedicado à doce e fiel amiga
Verluci Almeida)

POEMA EX IMPROVISO



Bom dia, minha amiga mais que amada!
Que a luz lhe seja eterna como sempre,
que Deus lhe seja sempre uma alvorada
como a alvorada é eterna para sempre!

Perdi o sono e venho conversar consigo
Mas eu lhe prometo confabular baixinho
que eu seja tão eterno como seu amigo
e tão eterno como o céu de seu carinho.

Meu espírito tão leve como uma pluma
repousa a minh’alma nos braços da luz
e se esvaem minhas dores uma a uma
como do sangue derramado pela cruz.

E se eu lhe fosse uma ave de verdade
repousaria como a paz em seu jardim
e nasceria para sempre como as rosas
essas rosas eternas que há em mim...

E aquelas que se dizem de onze horas
pequenas mas que dão vida ao jardim,
ah, levaríamos mais dias conversando
e lhe diria como um anjo que nem vê:
nem sei porque estou me confessando
por esse simples fato
de amar tanto você...

Conceição Bentes & Afonso Estebanez

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Felicidade



Acumulei tesouro de esperança
No tímido segredo de minh'alma.
Tudo, porém, fugiu,
Irreparavelmente,
Por alguma recôndita ferida
Que o desencanto abriu,
Como a serragem se escoa
Duma boneca de pano...

Tentei prender a ventura
Nestas tristes mãos vazias,
Como o sedento que enche
As mãos crestadas e ardentes
Da linfa clara da fonte.
Mas, os dedos não puderam
Reter essa água corrente.


Helena Kolody

Canção do Vento


(Willem Haenraets)


Viverei na imutável busca
da essência de uma gota tênue
perdida na imensidão
ritmada na solidão

Navegarei ao som dos ventos
pelos acordes de uma canção melancólica
até chegar a ti, nos enlevos espirituais
transformando dias
misturando horas
desfazendo instantes

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 25/02/09
Código do Texto: T1456380

AMAR OU NADA MAIS...




Amar ou nada mais, o quanto importa
a falta que algum sonho ainda me faz.
Pensar-te nesta ausência me conforta
malgrado essa saudade que dói mais.

Louvado seja o amor que me suporta
como um barco sem âncora num cais
que vive de ir embora e sempre volta
para sonhar meus sonhos tão banais.

Amar ou nada mais, é o quanto basta
para que em ti a minha vida em festa
encontre o amor com tanta claridade,

que a intensidade dessa luz tão vasta
vá revestir de aurora o que nos resta
depois que anoitecer toda a saudade.


Afonso Estebanez
(Dedicado com carinho à amiga
Iracema Patrício)

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A VALSA



Ele veio silente, o luar a trazê-lo,
um sorriso fagueiro reinando no olhar.
“Uma valsa? “, propôs. Aceitei seu apelo...
- Todo baile eu ousara tal gesto esperar.

Abraçou-me a cintura, com terno desvelo,
tal se eu fora cristal do mais fino vibrar.
Em meu peito a ventura de, enfim, conhecê-lo,
me fez leve qual brisa soprada do mar.

Ante o chão carpetado com gotas de orvalho,
o céu pleno de estrelas, num rútilo pálio...
conivente, o destino, o relógio parou.

Entre beijos, promessas... Ditosa loucura!,
todo o amor que eu vivi, desde sempre, à procura,
na magia dos sonhos comigo bailou!


PatriciaNeme

sábado, 21 de fevereiro de 2009

AO TE LEMBRARES DE MIM...



Quando te lembrares de mim
não necessitarei da memória
trancada no fundo da gaveta
ou das recordações restadas
na pena separada da caneta.

O ressonho dos teus sonhos
não te lembrará quem fomos
quando te lembrares de mim.

E serei tua manhã de manhã
na soleira de meu doce olhar
para fitar na tua luz ausente
o destino de reviver em mim.

E já terei reescrito a história
de tanto amor não resolvido
nas pétalas das rosas secas
que tu deixaste desfolhadas
na saudade do meu jardim...


Afonso Estebanez

COISAS DO CORAÇÃO



Se as pedras não sabem do instinto da flor
que sabem as sombras do instinto de mim
se pedras não guardam memória de amor
nem guardam princípios ou meios do fim?

Quem tem a certeza de algum porventura
se a brisa nem diz quando vem ao jardim,
se cá dentro d’alma há essa doce ternura
de guizos ou mantras ou sons de flautim?

Se eu mesmo não sei o que foi a ventura
dos tempos perdidos do amor em motim,
que entendem os dias de minha aventura
se a aurora só chega em finais de festim?

Se a água das nuvens não sabe da altura
e cai como o arco-íris do céu de carmim,
que sabe o teu pranto da minha candura
que cai das alturas bem dentro de mim?

Afonso Estebanez

ROSA DA MANHÃ




Assim que pressenti que tua face
era a mesma que eu via refletida
na água pura da fonte do jardim,
eu pude perceber que nesta vida
a despeito de a fé ser presumida
não me haveria tanta paz assim:
como o infinito amor da tua face
refletida na paz dentro de mim...

Teus olhos pareciam esmeraldas
refletidas no fundo transparente
das águas límpidas do teu olhar.
Era a luz de tua face de repente
assim como alvorada no poente
anoitecendo meu amor no mar:
como anoitece a rosa da manhã
na aurora certa para me sonhar.

Afonso Estebanez

Deusa do tempo




Sou deusa que caminha no tempo
fragmentando luzes das tempestades
refugiando-me nas incertezas
vestindo a paz do teu silêncio

Enigmática, sigo meu caminho
de mãos dadas à vida
tecendo escolhas,
percorrendo lembranças
em cada folha e mistérios
flores e cores que colhi

No ar deixo pegadas,
ousados perfumes,
e das estradas em mim
ficaram palavras
de cada poema que vivi


Conceição Bentes
20/02/09

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Parte de mim



Conheci caminhos, outros inventei
despi-me de vaidades
soltei as mãos
deixando-as caminhar sem destino
Nas abstratas curvas do querer
fragmentei-me , revestindo-me
na couraça de lembranças
com cheiro de antigamente
Faço parte de um poema adormecido
trilhado no tempo
enfeitando-me de certezas
e do que duvido, me valho.

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 17/02/09
Código do Texto: T1443359

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

SOBRE A ESPERANÇA


(Fotografia de Fernando Campanella)


É esperança afirmar que as águas
de uma fonte de ternura são as únicas
que um dia possam rolar por onde
já rolaram.

Que sedentos e famintos de felicidade,
aprenderemos a saciar a sede e a fome
que só o amor é capaz de estimular.

Que vale a pena suportar o peso
da cruz do sentimento de esperança
quando não se tem certeza do caminho
para o calvário que liberta.

É esperança acreditar na volta
de um comboio que não parou
na estação de embarque
de nossos sonhos.

Afirmar que não é tão triste
o silêncio de uma canção calada
no solitário show da multidão.

Acreditar que ter esperança
é um crime culposo de audácia,
punível por sentença irrecorrível
de condenação à alcova do amor
eterno no exílio do coração...

Julis Calderón

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

ROMARIA DE ESPERANÇA




Sonhos são pássaros que emigram
entre mitos de esperas e liberdade
numa romaria infinita ao encontro
marcado da memória despertada...
... para o cumprimento do instinto
de não necessitar nunca de nada...

Eles dormem acordados como faroleiros
que sabem pela velha cartilha das estrelas
a hora de desancorar do céu seu novo dia
já despertado na restinga da alvorada.

Sonhos às vezes são notícias postadas pela brisa
que desperta com as mãos aquecidas de ternura.
Às vezes são regatos chorando sem sofrimento,
pois não há dor quando a espera sempre alcança.

Mas há sensações de eternidade onde nenhuma
pétala desfolha de sua flor sem que o consinta
o vento passageiro dos arrulhos da esperança.

Não há presságios nem maus pressentimentos
onde os sonhos são pássaros
que emigram na lembrança...

Afonso Estebanez

DE ALMA PARA ALMA



Deixa a alma debruçada na janela
quando tiveres que sair sem mim,
que é da alma colher a primavera
das janelas que dão para o jardim.

Tolera esse desígnio que carrego
de me esquecer da alma na saída
eis que a alma não é sapato cego
nas pedras de tropeço desta vida.

Se tiveres que te perder de amor
a alma certamente o há de saber
como sente o perfume a sua flor
que por isso não pode se perder.

Se tu voltares lívida de mágoas,
nossas almas encontrarás assim:
imagens refletidas sob as águas
do lago mais sereno do jardim...

Afonso Estebanez
(Poema dedicado a Sueli Amália
– a talentosa “Poetisa das Marés”)

Um deus alado



Os deuses o trouxeram a mim
nas asas do horizonte
vestido de paixão
com promessas divinas,
desatando os laços
que nos prende à razão
Trilhas o tempo em carruagem de luz
orquestrando a sinfonia
que emana do universo
E nosso encontro acontece
no tempo que me vejo
sob os raios derradeiros
das tardes sonolentas
substituídas pela noite calma
do teu amor.

Conceição Bentes
18/02/09

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Poema que te faço



Queria escrever
um poema soberano
do querer mais humano
de amor,
de uma prece
de uma paixão sem idade
que não mais esquecesses
Poder cantá-lo nas ruas
cingidos pelo desabar do tempo
como um vôo sem asas,
cruzando o silêncio das serras
chegando a ti desarmada
como o gemido das águas
Seria um poema de luz,
no vôo de pássaros libertos
na canção depois do acorde final.

Conceição Bentes
15/02/09

"AMOR IMPREVISÍVEL"



além de mim muito mais além de mim
muito além do que muito além de mim

onde jaz sem memória o meu anônimo
amor além do acaso onde é impossível
perecer o imperecível amor de outono

no alvorecer noturno de uma flor tardia
meu desejo insensato ainda aguardaria

que da sombra o crepúsculo emergisse
e nos cobrisse a alvorada de esperança
de reviver o amor do inevitável eclipse

A. Estebanez

SUMIDOURO DE LEMBRANÇAS




Eu sempre quis deixar-te uma mensagem
como a da brisa enquanto abraça o vento
ou como uma canção que vem da aragem
de tanto amor que envio em pensamento.

Eis que a vida nem sempre é uma viagem
por onde em tudo há mais contentamento
do que em viver lembranças da passagem
de um breve amor vivido além do tempo.

E eu sempre quis dizer-te que de alianças
o amor é o fruto além de algum momento
que se exauriu em mim como esperanças

exaustas de um silêncio em que lamento:
– Ai, de meus sumidouros de lembranças
onde lembrar é pior que o esquecimento!

Afonso Estebanez
(Dedicado à notável e festejada poetisa
brasileira Patrícia Neme)

‘ABRACEMOS A NOITE’



Abracemos a noite
que chega do abismo,
instruída e calada.

Em seu peito de treva
descansemos a alma tão desesperada.

Contemplemos a noite
vestida de sombra,
de tempo adornada.

Tão material e estranha,
tão simples, tão deusa,
fácil e enviolada,

que a varanda remota
de um negro horizonte
prolonga, admirada.

Abracemos a noite
que tece e destece
a frágil escada

dos vagos trapezistas
soltos como flores
na vida sonhada.


Cecília Meireles

sábado, 14 de fevereiro de 2009

"Elo"



Rompeu-se a face
do destino,
e o delírio eterno
quer que eu sonhe...

Em cada sonho
uma palavra,
em todas eu te encontro,
seja nos versos,
nos poemas,
nos livros,
no meu íntimo...

Mas é na ousadia
das horas vividas
que o pensamento se faz,
cala...

Somos o horizonte,
a constelação,
o universo...
Juntos damos sentido
ao atual caminho,
que mostra-se
ser amor,
fascínio,
infinito...


Kênia Bastos
Publicado no Recanto das Letras em 12/02/2009
Código do texto: T1436215

COUNTRY EXPRESS




Ninguém contava que daquela aurora boreal
de luzes coloridas fosse surgir aquele bando
de cowboys alucinantes num torvelinho de
flashes deflagrados entre nuvens enluaradas.

Foi trepidante cavalgada de órgãos bachianos
– velozes diligências perseguidas nas pradarias
da cantata & fuga da classic-country-music.

Como se o Steve Yolen tivesse conhecido
a Dolly Parton com um banjo enterrado
no fundo do coração e começado aquela festa
improvisada de I believe in Santa Claus.

My heroes have always been cowboys:
como anjos do prodigioso equívoco do sonho,
a country bland não havia sido programada
para vibrar aos nossos pés de caipiras ritmados.

E aconteceu aquele duelling dos sentidos,
como um milagre que contagia pela evidência
da felicidade benvindamente inesperada.
Quem não viu, não precisa acreditar...
Festa encerrada!

Só o coração de um cowboy é um saloon vazio
quando a saudade dói como canção calada...

Afonso Estebanez

Minhas Ilusões


( James Henry Nixon, The Tempest)

Quero tuas mãos sem tempo
trazendo os sons do vento
persistente na saudade
da voz ainda não ouvida
da face que não iluminou meus olhos
no abraço que nos fará um.

Colhe-me das tempestades
envolvendo como nuvens minhas palavras
sabendo que o silêncio as dividem,
a dor as descontrolam
fazendo um sussurro doce

Pego a mão do destino
ganho o mundo
no vôo dos teus olhos
na dança dos teus lábios
nos braços da esperança.

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 14/02/09
Código do Texto: T1438494

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

'MINH’ALMA'



Minh'alma
de tão enclausurada
carrega aldravas em suas portas;

não permite a entrada de minhas queixas!

Por mais que eu queira libertá-la
não posso destrancar seus cadeados.
Está tão blindada
Que mesmo os teus apelos lhe são apenas sussurros;

e eu queria tanto te amar!


Oswaldo Antonio Begiato

INDEPENDENTE DO ACASO




Não atino a razão por que
Certas pessoas penetram
Por acaso em nosso viver
Uma eventualidade
Dizem alguns na verdade
Passível de acontecer
Porém com sinceridade
O mago permanecer
É privilegio alcançado
Independente do acaso.

Walter Dimenstein
4.2.2009

Humana! Não anjo



Não sou anjo, sou humana
não há versos que me caiba
tenho ritmo e minha própria rima
nenhum compasso me detém
nem escala que me tome

Falo das sombras e dos fantasmas
e o que amo, classifico como louco
carrego fardos e não sou comedida
pois todas as dores procederam às minhas

Viajo pela docilidade do retorno
desmascarando meu silêncio
tecido em redes
numa outra estação.

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 11/02/09
Código do Texto: T1433229

Le MEESTRIA Leonor de Proença


Willem Haenraets


(Cantiga de Amigo)

Un jour dans la brise
une journée de kite dans le vent
J'ai envoyé mes pensées
désenchantement de blessés ...

Leonora, Leonora,
ess'amor pas signé
Je qu'outro beaucoup?

Une fois le vent
une fois que l'aile de départ
mon tam velida illusion
désaccords voler ...

Leonora, min tempête!
Non torn'ess'amor qu'eu s'asseoir
dans le coït Desama tam ...

Leonora, je regarde
cet amour avec ce type de soins
qu'outro bien vous le méritez
être que ma mort aurait.

Mays si vous avez vu, vous
ces relations avec ma douleur,
dess'amor vous mourrez ...

Les plus mal la douleur
veveria plus que l'amour ...


Afonso Estebanez
Version française de Sandra Mello

Roda Poesia


Leslie Levy
 
Caminha a vida apressada.
Entre um poema e outro,
trabalhar, comer, dormir.
No concreto duro da calçada
batem os saltos dos sapatos.
Entre uma rima e outra,
luzes passam - automóveis,
bate a chuva na sombrinha,
cada pingo - versos móveis.
Cada imagem simetria.
Roda som, luz , movimento!
Tudo gira - poesia!

Lenise Marques

Sinônimo




Como planeta sonho
eu, Deus, você,
somos luz,
expressão da vida,
realidade...

Assim todos,
uns humanos,
outros anjos,
intensidade
gerando paz.

Somos energia,
equilíbrio,
corações à deriva,
vida à fora,
desafio...

Mistura irreal,
eterna procura
de sentimentos,
como único
referencial.

Igual a todos
percorrendo entrelinhas,
beijando cada flor,
como espelho,
em busca do amor!


Kênia Bastos
Publicado no Recanto das Letras em 30/01/2009
Código do texto: T1412769

Poeta das Rosas



És a mais bela morada da poesia,
tuas portas se abrem ao apelo
da minha inspiração
irradiando o simples, o singelo
conduzindo sem alarde
à liberdade das palavras

Acha-te em perfeito equilíbrio
com a unção de todas as rosas
cultivando-as no inverno da saudade
regadas de paixão poética,
acariciando e ferindo as vezes o teu canto
que se declina no meu pranto.

(Dedico ao Poeta das Rosas Afonso Estebanez)

Conceição Bentes
12/02/09

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O vento e as pétalas



O vento pôs no chão a última pétala triste,
a que me disse: poeta, tu existes...
Para seres feliz, revive
e todo o amor do mundo brotará de tua alma
a mesma que sofreu sem perceber
que ainda há em teu sorriso uma face alegre.

Vi cair a última pétala triste, então...
e senti que não mais a dor existe
e eu vivo e vive um coração
batendo em busca de felicidade.

Sou agora o alvo novo renascido,
o que redescobri e o que preciso
para, amando mais, sentir-me amado.

Pétalas novas, novas flores, novas rosas.
Vi que esse novo jardim é belo e manso
e então resolvi aposentar meu pranto
e de novo sorrir cheio de felicidade.

Paulino Vergetti Neto
Publicado no Recanto das Letras em 10/02/2009
Código do Texto:1431212

Sôfrego amor



Olhar enamorado
Fugidio vaga nas nuvens
Silencioso despe o véu
Retina espia o céu

Frescor esverdeado
Areja o amanhecer
Aromatiza cores vibrantes
Ladeia o sol irradia o dia

Sussurro galopa aveludado
Ofegante chega suado
Adorna a voz da brisa
Condensa o instante

Desejo rasga o tempo
Sôfrego amor respira
Ardendo no lume
Escarlate da paixão


(Sarah Siqueira)

Azul



Hoje,
quero despir-me de lembranças acres,
esvaziar minh'alma das saudades.
E embebedar-me do frescor nascente
no sopro da manhã que,
além,
me espreita;
seja passado esse cinzento encanto,
do qual não tive a bênção da colheita.

Hoje,
quero dos verdes o mais puro veio,
para tecer sonhares de porvir.
Semente em cio, no morno da terra,
em mim renasce o cantar bendito
da vida, em gestação de um infinito...
Do céu que surge azul,
dentro de mim.

Patrícia Neme

Espinhos!



As flores fazem parte do caminho,
Mas são os espinhos que o pavimentam.
Embora eu os sinta á meus pés,
Prefiro manter o olhar nas rosas!


Santaroza

Simplicidade




Singela e formosa
num torvelinho de espinho
desabrocha a rosa.

Delores Pires
in O Livro dos Haicais

REENCONTRO COM O POEMA




Minha vida vazia de memória talvez
não possa provar que já fui pastor de rios,
sentinela de colinas, mirante das fortalezas
nas ameias das neblinas...

Nem que é por mim que à noite os ventos
vêm chorar sobre as ruínas...

Mas a escassa memória
numa simples foto antiga que o tempo
virou do avesso casualmente revelado,
garante o prenúncio de um recomeço
capaz de trazer de volta o sonho à mente
de que é possível às águas de um riacho
refazer seu curso de volta aos cantares
primitivos da nascente...

... se for por causa do amor
esse meu "pão nosso" de cada dia
que mata a fome de minha flor
e me deixa em estado de pânico
infinito de alegria...

Afonso Estebanez
(Poema dedicado à notável amiga
Arlete Genervam de Paiva)

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

CANÇÃO BALDIA



Às vezes tenho saudade
da saudade que não tive
de morar com liberdade
onde livre nunca estive.

Às vezes tanta saudade
não é tanta por um triz:
pois que a tal felicidade
só me quis quase feliz.

Fui quase feliz em tudo
fui e sou sem vanidade
do que serei sobretudo
a despeito da saudade.

Partir foi quase preciso
sumindo na eternidade
não me fora teu sorriso
enganar essa saudade...

Afonso Estebanez
(Poema dedicado à notável poetisa
carioca Soninha Porto – 08/02/09)

INICIAÇÃO NOS CAMPOS DE GULAG



(Último sentimento)

Como seria esse perdoar-lhes ontem
se o ontem é o crepúsculo do agora?
que seus dias melhores nos apontem
esquecer-lhes presentes na memória.

Pois amanhã não vai haver
mais sonho além da aurora
nem hora para um sonho entardecer
nem falta de motivo para não viver.
O oráculo está anunciando
que paz é ponto de partida
metade faz parte da morte
e o resto faz parte da vida.
A noite reencontrará a luz do norte
de nossa constelação de sobrevida:
para quem voltou da morte
não há morte além da vida.

Julis Calderón

DESEJO



E quando os olhos teus beijam meu corpo,
trazendo, à minha noite, a luz d´aurora,
e as tuas mãos percorrem meus segredos...
Todo um desejo ardente em mim aflora.

E quando teu respiro me entontece,
e o teu gemido por entrega implora,
teu cheiro, forte, macho, me abre os poros,
endoidecida, rogo: Vem, agora!...

Todo universo dorme em alva cama,
onde o sentir se faz perene e clama
pelo arquejar das forças animais.

Um gozo, tanto, explode em liberdade,
nos faz trilhar o chão da eternidade...
E, num rugir supremo, eu peço “Mais!”

Patricia Neme

Fantasias Humanas



Expando a alma
abrindo-a em plenitudes
permitindo que voe
na brisa da saudade
Prendo-me aos meus limites
imaginando mundos,
condicionando concepções,
construindo fantasias humanas
Sonho,
Incapaz de ser meu próprio ser,
refino experiências que se perderam
se foram
ou simplesmente
fugiram da dimensão do viver.


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 09/02/09
Código do Texto: T1430187

SAUDADE



Eu, hoje,
acordei com saudade.
E, assim como quem procura
na gaveta da ventura,
entre mil e um guardados...
Achei o teu rosto amado,
no agora,
amanhã,
no passado,
dos sonhos, o mais sonhado,
minha mais terna ilusão.
E sem temer tempo ou idade,
envolta em mansa loucura,
me dei a ti com ternura,
me dei a ti sem cuidados,
num ato
tão encantado,
que o Tempo,
de emocionado,
deixou o mundo parado...
E dormiu na minha mão.

- Patricia Neme -

Parabéns, Papai!


Hoje passei um longo tempo olhando sua foto.
Refiz as bordas da época, tirei os amassados,
pequenas manchas, imperfeições do tempo,
e até arrumei um pouco o seu cabelo e gravata.

Parte-me o coração que seja tão pouco
o que eu possa fazer hoje por você,
embora eu saiba que, talvez
estarmos bem, seja seu maior presente!

Chorei um pouco, foi inevitável.
Parece que foi ontem, o fim!
E ainda me doi tanto a saudade!

Depois, minha alegria voltou
ao perceber que não precisei retocar
o intenso brilho do seu olhar...

Regina Helena
08/02/2009

Almas entrelaçadas



Sejamos o silêncio,
palavras que ressuscitam
escorrendo pelo tempo sua efemeridade
Sobre a ausência e a solidão
nossas almas se entrelaçam
e partem tal nômades
em busca das verdades
únicas e eternas
Carregam a nostalgia da perfeição
os sonhos ganham asas e luares,
somos a noite antes do principio
e do fim
Meu olhar ajoelha-se ante tua luz
a voz emudece sob teu canto
somente o amor cresceu
qualquer sentimento curva-se
diante da beleza majestosa
desse encanto.


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 09/02/09
Código do Texto: T1429460

domingo, 8 de fevereiro de 2009

ONDE




Em qualquer recanto onde existam rosas
qualquer rua escura em que a noite pare
e as palavras soem quase indecorosas...

Onde mais não haja do que só o instante
onde então me mate só de encantamento
ou talvez não morra e só me desencante...

Onde haja caminhos no chão de veredas
com estradas noturnas de pedras acesas
vaga-lumes vaguem pelas noites negras..

Onde o túnel d’alma nunca mais a habite
onde haja esperança que só tenha calma
e onde haja tristeza que não seja triste...

Onde os suicidas morram, só de alegria!
Como foi Totônia, como foi meu Felipe
como foi Margarida como foi a Maria...

Onde haja certeza quando vier a sorte
que não tarde o dia quando vier a noite
nem retarde a vida quando for a morte...

A. Estebanez

NUMEROSO AMOR




Ah, numeroso amor de que padeço
que me conta mistérios sobre mim...
Ô, enigma! princípio sem começo
destino que termina e não tem fim...

Amor que apraz e dói! amor avesso
que assim se exaure e se refaz assim
morrendo de viver por quem mereço
na volúpia de crer que é amor afim...

Flor de lótus de deuses consagrados
nos desígnios dos bem-aventurados
de alma pronta na vida já completa.

É deusa quem me dá o dom divino
de confirmar nas cartas do destino
o carisma do amor que me liberta...

A. Estebanez
(Soneto dedicado a Maria Madalena Schuck)

Aquarela azul



  
Pousada sobre a flor,
frágil e bela em demasia!
Tão diáfana que não se sabia,
o que era borboleta, flor...
ou se era só poesia!
  
Tremem as pétalas lilases
ao vento breve.
Fremem as asas anis
à brisa leve.
 
E há um céu sem nuvens
no olhar do poeta,
entre o azul das asas
e o azul da pétala.
 
Lenise Marques

VERSOS TRISTES



E eu faço versos como quem consente
com a tristeza que os meus versos têm
sem que perceba que ela está presente
até no instante em que a alegria vem...

Eu faço versos como quem pressente
o instante alegre que não me convém,
eis que a alegria é o jeito descontente
de um jeito triste que me faz tão bem.

Quantas vezes com tanta intensidade
sinto-me um triste-alegre de saudade
e nem ao menos posso compreender:

o quanto esta tristeza é companheira,
pois antes de morrer ela é a primeira
a não deixar que eu morra sem viver.


Afonso Estebanez
(Dedicado ao poeta fluminense
Sylvio Adalberto Nascimento)

O Relogio e o Beija-Flor


 
Tempo - veloz é a dança das horas
Frágil é a vida dos homens:
Sonhos e células transmutando-se
Em cinzas, minerais e memórias.

Mas...quando voa um beija-flor
Curva-se o tempo sobre si mesmo
Rangem os ponteiros imobilizando-se
Entre um segundo e outro do vôo furta-cor.

A limpidez do instante o faz eterno!
Veste-se a alma em fantasia!
A beleza vence suavemente a morte,
e nasce pura e imortal...a poesia!

 
Lenise Marques

INDELICADEZA



Perpétuo moto,
já nem sei des’quando...
Filhos – são três;
mas quanta agitação.
Na mesa farta, um indicativo:
sou cozinheira, de forno e fogão.
A roupa suja brota das paredes,
que alguém decora com marcas de mão;
eu lavo, passo, dou alguns pontinhos,
faço bainha, reprego botão.
Molhar as plantas,
faxinar janelas,
lavar banheiros,
arear panelas,
na sexta-feira, encerar o chão.
Na correria, pão de cada dia,
num volteado, olho no espelho,
e estranho o rosto, de funda expressão.
Onde o frescor do traço adolescente,
o ar maroto, quase irreverente?...
E o meu cabelo... virou algodão!
Então, sorrio ante tal surpresa:
se foi o Tempo – e que indelicadeza,
nem me falou da sua afobação!

- Patricia Neme -

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

'INICIAÇÃO NOS CAMPOS DE GULAG'


(‘Penelope and the Suitors’ -1912- J.W.Waterhouse)


(Décimo sentimento)

A vida é a que renasce inexoravelmente
no berço da manhã vestida de esperança.
E não há outra no itinerário do presente.
É tudo o que transcende o limite da luz
e revela o rosto do crepúsculo da morte
onde tudo depende do todo de seu tudo
como a parte do sonho é a circunstância.
Antes do mito mensageiro de Telêmaco,
já o oráculo de amor anunciava o suave
martírio de Penélope, de quem a espera
cumpria o ritual de tecer a hora e o dia
de a esperança transcender sua quimera.

Eia, vida como a de um sonho
um sonho de pedra que espera
acordar do inverno do outono
como um pomo da primavera!


Julis Calderón

Exaustão



Surpreenda-me,
juntando pedaços de vida
deixados no caminho que percorri
desalinhados como um quebra cabeça
que nunca formei
Desperta-me desse sono letárgico
dá-me o tempo que não me dei
diz qual parte eu perdi
se tanta coisa esqueci
guardo o que errei
o certo desaprendi.

Conceição Bentes
06/02/09

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

COM O AMOR NA MEMÓRIA



Amar deve ser um perder da memória
dos muitos amores que nunca esqueci
pela vida levada à margem da história
da memória do amor que nunca perdi.

Deve ser da esperança
minha vaga lembrança
dessas vidas passadas
ao meu lado de ti...

Amar deve ser como a luz da centelha
no pólen das rosas num gozo sem fim
no início da vida da luz que te espelha
no amor da centelha na flor do jardim.

Deve ser da esperança
de tua vaga lembrança
dessas vidas passadas
ao teu lado de mim...


Afonso Estebanez
(Dedicado à doce e fiel amiga
Verluci Almeida)

POEMA EX IMPROVISO



Bom dia, minha amiga mais que amada!
Que a luz lhe seja eterna como sempre,
que Deus lhe seja sempre uma alvorada
como a alvorada é eterna para sempre!

Perdi o sono e venho conversar consigo
Mas eu lhe prometo confabular baixinho
que eu seja tão eterno como seu amigo
e tão eterno como o céu de seu carinho.

Meu espírito tão leve como uma pluma
repousa a minh’alma nos braços da luz
e se esvaem minhas dores uma a uma
como do sangue derramado pela cruz.

E se eu lhe fosse uma ave de verdade
repousaria como a paz em seu jardim
e nasceria para sempre como as rosas
essas rosas eternas que há em mim...

E aquelas que se dizem de onze horas
pequenas mas que dão vida ao jardim,
ah, levaríamos mais dias conversando
e lhe diria como um anjo que nem vê:
nem sei porque estou me confessando
por esse simples fato
de amar tanto você...

Conceição Bentes & Afonso Estebanez

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Felicidade



Acumulei tesouro de esperança
No tímido segredo de minh'alma.
Tudo, porém, fugiu,
Irreparavelmente,
Por alguma recôndita ferida
Que o desencanto abriu,
Como a serragem se escoa
Duma boneca de pano...

Tentei prender a ventura
Nestas tristes mãos vazias,
Como o sedento que enche
As mãos crestadas e ardentes
Da linfa clara da fonte.
Mas, os dedos não puderam
Reter essa água corrente.


Helena Kolody

Canção do Vento


(Willem Haenraets)


Viverei na imutável busca
da essência de uma gota tênue
perdida na imensidão
ritmada na solidão

Navegarei ao som dos ventos
pelos acordes de uma canção melancólica
até chegar a ti, nos enlevos espirituais
transformando dias
misturando horas
desfazendo instantes

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 25/02/09
Código do Texto: T1456380

AMAR OU NADA MAIS...




Amar ou nada mais, o quanto importa
a falta que algum sonho ainda me faz.
Pensar-te nesta ausência me conforta
malgrado essa saudade que dói mais.

Louvado seja o amor que me suporta
como um barco sem âncora num cais
que vive de ir embora e sempre volta
para sonhar meus sonhos tão banais.

Amar ou nada mais, é o quanto basta
para que em ti a minha vida em festa
encontre o amor com tanta claridade,

que a intensidade dessa luz tão vasta
vá revestir de aurora o que nos resta
depois que anoitecer toda a saudade.


Afonso Estebanez
(Dedicado com carinho à amiga
Iracema Patrício)

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A VALSA



Ele veio silente, o luar a trazê-lo,
um sorriso fagueiro reinando no olhar.
“Uma valsa? “, propôs. Aceitei seu apelo...
- Todo baile eu ousara tal gesto esperar.

Abraçou-me a cintura, com terno desvelo,
tal se eu fora cristal do mais fino vibrar.
Em meu peito a ventura de, enfim, conhecê-lo,
me fez leve qual brisa soprada do mar.

Ante o chão carpetado com gotas de orvalho,
o céu pleno de estrelas, num rútilo pálio...
conivente, o destino, o relógio parou.

Entre beijos, promessas... Ditosa loucura!,
todo o amor que eu vivi, desde sempre, à procura,
na magia dos sonhos comigo bailou!


PatriciaNeme

sábado, 21 de fevereiro de 2009

AO TE LEMBRARES DE MIM...



Quando te lembrares de mim
não necessitarei da memória
trancada no fundo da gaveta
ou das recordações restadas
na pena separada da caneta.

O ressonho dos teus sonhos
não te lembrará quem fomos
quando te lembrares de mim.

E serei tua manhã de manhã
na soleira de meu doce olhar
para fitar na tua luz ausente
o destino de reviver em mim.

E já terei reescrito a história
de tanto amor não resolvido
nas pétalas das rosas secas
que tu deixaste desfolhadas
na saudade do meu jardim...


Afonso Estebanez

COISAS DO CORAÇÃO



Se as pedras não sabem do instinto da flor
que sabem as sombras do instinto de mim
se pedras não guardam memória de amor
nem guardam princípios ou meios do fim?

Quem tem a certeza de algum porventura
se a brisa nem diz quando vem ao jardim,
se cá dentro d’alma há essa doce ternura
de guizos ou mantras ou sons de flautim?

Se eu mesmo não sei o que foi a ventura
dos tempos perdidos do amor em motim,
que entendem os dias de minha aventura
se a aurora só chega em finais de festim?

Se a água das nuvens não sabe da altura
e cai como o arco-íris do céu de carmim,
que sabe o teu pranto da minha candura
que cai das alturas bem dentro de mim?

Afonso Estebanez

ROSA DA MANHÃ




Assim que pressenti que tua face
era a mesma que eu via refletida
na água pura da fonte do jardim,
eu pude perceber que nesta vida
a despeito de a fé ser presumida
não me haveria tanta paz assim:
como o infinito amor da tua face
refletida na paz dentro de mim...

Teus olhos pareciam esmeraldas
refletidas no fundo transparente
das águas límpidas do teu olhar.
Era a luz de tua face de repente
assim como alvorada no poente
anoitecendo meu amor no mar:
como anoitece a rosa da manhã
na aurora certa para me sonhar.

Afonso Estebanez

Deusa do tempo




Sou deusa que caminha no tempo
fragmentando luzes das tempestades
refugiando-me nas incertezas
vestindo a paz do teu silêncio

Enigmática, sigo meu caminho
de mãos dadas à vida
tecendo escolhas,
percorrendo lembranças
em cada folha e mistérios
flores e cores que colhi

No ar deixo pegadas,
ousados perfumes,
e das estradas em mim
ficaram palavras
de cada poema que vivi


Conceição Bentes
20/02/09

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Parte de mim



Conheci caminhos, outros inventei
despi-me de vaidades
soltei as mãos
deixando-as caminhar sem destino
Nas abstratas curvas do querer
fragmentei-me , revestindo-me
na couraça de lembranças
com cheiro de antigamente
Faço parte de um poema adormecido
trilhado no tempo
enfeitando-me de certezas
e do que duvido, me valho.

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 17/02/09
Código do Texto: T1443359

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

SOBRE A ESPERANÇA


(Fotografia de Fernando Campanella)


É esperança afirmar que as águas
de uma fonte de ternura são as únicas
que um dia possam rolar por onde
já rolaram.

Que sedentos e famintos de felicidade,
aprenderemos a saciar a sede e a fome
que só o amor é capaz de estimular.

Que vale a pena suportar o peso
da cruz do sentimento de esperança
quando não se tem certeza do caminho
para o calvário que liberta.

É esperança acreditar na volta
de um comboio que não parou
na estação de embarque
de nossos sonhos.

Afirmar que não é tão triste
o silêncio de uma canção calada
no solitário show da multidão.

Acreditar que ter esperança
é um crime culposo de audácia,
punível por sentença irrecorrível
de condenação à alcova do amor
eterno no exílio do coração...

Julis Calderón

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

ROMARIA DE ESPERANÇA




Sonhos são pássaros que emigram
entre mitos de esperas e liberdade
numa romaria infinita ao encontro
marcado da memória despertada...
... para o cumprimento do instinto
de não necessitar nunca de nada...

Eles dormem acordados como faroleiros
que sabem pela velha cartilha das estrelas
a hora de desancorar do céu seu novo dia
já despertado na restinga da alvorada.

Sonhos às vezes são notícias postadas pela brisa
que desperta com as mãos aquecidas de ternura.
Às vezes são regatos chorando sem sofrimento,
pois não há dor quando a espera sempre alcança.

Mas há sensações de eternidade onde nenhuma
pétala desfolha de sua flor sem que o consinta
o vento passageiro dos arrulhos da esperança.

Não há presságios nem maus pressentimentos
onde os sonhos são pássaros
que emigram na lembrança...

Afonso Estebanez

DE ALMA PARA ALMA



Deixa a alma debruçada na janela
quando tiveres que sair sem mim,
que é da alma colher a primavera
das janelas que dão para o jardim.

Tolera esse desígnio que carrego
de me esquecer da alma na saída
eis que a alma não é sapato cego
nas pedras de tropeço desta vida.

Se tiveres que te perder de amor
a alma certamente o há de saber
como sente o perfume a sua flor
que por isso não pode se perder.

Se tu voltares lívida de mágoas,
nossas almas encontrarás assim:
imagens refletidas sob as águas
do lago mais sereno do jardim...

Afonso Estebanez
(Poema dedicado a Sueli Amália
– a talentosa “Poetisa das Marés”)

Um deus alado



Os deuses o trouxeram a mim
nas asas do horizonte
vestido de paixão
com promessas divinas,
desatando os laços
que nos prende à razão
Trilhas o tempo em carruagem de luz
orquestrando a sinfonia
que emana do universo
E nosso encontro acontece
no tempo que me vejo
sob os raios derradeiros
das tardes sonolentas
substituídas pela noite calma
do teu amor.

Conceição Bentes
18/02/09

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Poema que te faço



Queria escrever
um poema soberano
do querer mais humano
de amor,
de uma prece
de uma paixão sem idade
que não mais esquecesses
Poder cantá-lo nas ruas
cingidos pelo desabar do tempo
como um vôo sem asas,
cruzando o silêncio das serras
chegando a ti desarmada
como o gemido das águas
Seria um poema de luz,
no vôo de pássaros libertos
na canção depois do acorde final.

Conceição Bentes
15/02/09

"AMOR IMPREVISÍVEL"



além de mim muito mais além de mim
muito além do que muito além de mim

onde jaz sem memória o meu anônimo
amor além do acaso onde é impossível
perecer o imperecível amor de outono

no alvorecer noturno de uma flor tardia
meu desejo insensato ainda aguardaria

que da sombra o crepúsculo emergisse
e nos cobrisse a alvorada de esperança
de reviver o amor do inevitável eclipse

A. Estebanez

SUMIDOURO DE LEMBRANÇAS




Eu sempre quis deixar-te uma mensagem
como a da brisa enquanto abraça o vento
ou como uma canção que vem da aragem
de tanto amor que envio em pensamento.

Eis que a vida nem sempre é uma viagem
por onde em tudo há mais contentamento
do que em viver lembranças da passagem
de um breve amor vivido além do tempo.

E eu sempre quis dizer-te que de alianças
o amor é o fruto além de algum momento
que se exauriu em mim como esperanças

exaustas de um silêncio em que lamento:
– Ai, de meus sumidouros de lembranças
onde lembrar é pior que o esquecimento!

Afonso Estebanez
(Dedicado à notável e festejada poetisa
brasileira Patrícia Neme)

‘ABRACEMOS A NOITE’



Abracemos a noite
que chega do abismo,
instruída e calada.

Em seu peito de treva
descansemos a alma tão desesperada.

Contemplemos a noite
vestida de sombra,
de tempo adornada.

Tão material e estranha,
tão simples, tão deusa,
fácil e enviolada,

que a varanda remota
de um negro horizonte
prolonga, admirada.

Abracemos a noite
que tece e destece
a frágil escada

dos vagos trapezistas
soltos como flores
na vida sonhada.


Cecília Meireles

sábado, 14 de fevereiro de 2009

"Elo"



Rompeu-se a face
do destino,
e o delírio eterno
quer que eu sonhe...

Em cada sonho
uma palavra,
em todas eu te encontro,
seja nos versos,
nos poemas,
nos livros,
no meu íntimo...

Mas é na ousadia
das horas vividas
que o pensamento se faz,
cala...

Somos o horizonte,
a constelação,
o universo...
Juntos damos sentido
ao atual caminho,
que mostra-se
ser amor,
fascínio,
infinito...


Kênia Bastos
Publicado no Recanto das Letras em 12/02/2009
Código do texto: T1436215

COUNTRY EXPRESS




Ninguém contava que daquela aurora boreal
de luzes coloridas fosse surgir aquele bando
de cowboys alucinantes num torvelinho de
flashes deflagrados entre nuvens enluaradas.

Foi trepidante cavalgada de órgãos bachianos
– velozes diligências perseguidas nas pradarias
da cantata & fuga da classic-country-music.

Como se o Steve Yolen tivesse conhecido
a Dolly Parton com um banjo enterrado
no fundo do coração e começado aquela festa
improvisada de I believe in Santa Claus.

My heroes have always been cowboys:
como anjos do prodigioso equívoco do sonho,
a country bland não havia sido programada
para vibrar aos nossos pés de caipiras ritmados.

E aconteceu aquele duelling dos sentidos,
como um milagre que contagia pela evidência
da felicidade benvindamente inesperada.
Quem não viu, não precisa acreditar...
Festa encerrada!

Só o coração de um cowboy é um saloon vazio
quando a saudade dói como canção calada...

Afonso Estebanez

Minhas Ilusões


( James Henry Nixon, The Tempest)

Quero tuas mãos sem tempo
trazendo os sons do vento
persistente na saudade
da voz ainda não ouvida
da face que não iluminou meus olhos
no abraço que nos fará um.

Colhe-me das tempestades
envolvendo como nuvens minhas palavras
sabendo que o silêncio as dividem,
a dor as descontrolam
fazendo um sussurro doce

Pego a mão do destino
ganho o mundo
no vôo dos teus olhos
na dança dos teus lábios
nos braços da esperança.

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 14/02/09
Código do Texto: T1438494

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

'MINH’ALMA'



Minh'alma
de tão enclausurada
carrega aldravas em suas portas;

não permite a entrada de minhas queixas!

Por mais que eu queira libertá-la
não posso destrancar seus cadeados.
Está tão blindada
Que mesmo os teus apelos lhe são apenas sussurros;

e eu queria tanto te amar!


Oswaldo Antonio Begiato

INDEPENDENTE DO ACASO




Não atino a razão por que
Certas pessoas penetram
Por acaso em nosso viver
Uma eventualidade
Dizem alguns na verdade
Passível de acontecer
Porém com sinceridade
O mago permanecer
É privilegio alcançado
Independente do acaso.

Walter Dimenstein
4.2.2009

Humana! Não anjo



Não sou anjo, sou humana
não há versos que me caiba
tenho ritmo e minha própria rima
nenhum compasso me detém
nem escala que me tome

Falo das sombras e dos fantasmas
e o que amo, classifico como louco
carrego fardos e não sou comedida
pois todas as dores procederam às minhas

Viajo pela docilidade do retorno
desmascarando meu silêncio
tecido em redes
numa outra estação.

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 11/02/09
Código do Texto: T1433229

Le MEESTRIA Leonor de Proença


Willem Haenraets


(Cantiga de Amigo)

Un jour dans la brise
une journée de kite dans le vent
J'ai envoyé mes pensées
désenchantement de blessés ...

Leonora, Leonora,
ess'amor pas signé
Je qu'outro beaucoup?

Une fois le vent
une fois que l'aile de départ
mon tam velida illusion
désaccords voler ...

Leonora, min tempête!
Non torn'ess'amor qu'eu s'asseoir
dans le coït Desama tam ...

Leonora, je regarde
cet amour avec ce type de soins
qu'outro bien vous le méritez
être que ma mort aurait.

Mays si vous avez vu, vous
ces relations avec ma douleur,
dess'amor vous mourrez ...

Les plus mal la douleur
veveria plus que l'amour ...


Afonso Estebanez
Version française de Sandra Mello

Roda Poesia


Leslie Levy
 
Caminha a vida apressada.
Entre um poema e outro,
trabalhar, comer, dormir.
No concreto duro da calçada
batem os saltos dos sapatos.
Entre uma rima e outra,
luzes passam - automóveis,
bate a chuva na sombrinha,
cada pingo - versos móveis.
Cada imagem simetria.
Roda som, luz , movimento!
Tudo gira - poesia!

Lenise Marques

Sinônimo




Como planeta sonho
eu, Deus, você,
somos luz,
expressão da vida,
realidade...

Assim todos,
uns humanos,
outros anjos,
intensidade
gerando paz.

Somos energia,
equilíbrio,
corações à deriva,
vida à fora,
desafio...

Mistura irreal,
eterna procura
de sentimentos,
como único
referencial.

Igual a todos
percorrendo entrelinhas,
beijando cada flor,
como espelho,
em busca do amor!


Kênia Bastos
Publicado no Recanto das Letras em 30/01/2009
Código do texto: T1412769

Poeta das Rosas



És a mais bela morada da poesia,
tuas portas se abrem ao apelo
da minha inspiração
irradiando o simples, o singelo
conduzindo sem alarde
à liberdade das palavras

Acha-te em perfeito equilíbrio
com a unção de todas as rosas
cultivando-as no inverno da saudade
regadas de paixão poética,
acariciando e ferindo as vezes o teu canto
que se declina no meu pranto.

(Dedico ao Poeta das Rosas Afonso Estebanez)

Conceição Bentes
12/02/09

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O vento e as pétalas



O vento pôs no chão a última pétala triste,
a que me disse: poeta, tu existes...
Para seres feliz, revive
e todo o amor do mundo brotará de tua alma
a mesma que sofreu sem perceber
que ainda há em teu sorriso uma face alegre.

Vi cair a última pétala triste, então...
e senti que não mais a dor existe
e eu vivo e vive um coração
batendo em busca de felicidade.

Sou agora o alvo novo renascido,
o que redescobri e o que preciso
para, amando mais, sentir-me amado.

Pétalas novas, novas flores, novas rosas.
Vi que esse novo jardim é belo e manso
e então resolvi aposentar meu pranto
e de novo sorrir cheio de felicidade.

Paulino Vergetti Neto
Publicado no Recanto das Letras em 10/02/2009
Código do Texto:1431212

Sôfrego amor



Olhar enamorado
Fugidio vaga nas nuvens
Silencioso despe o véu
Retina espia o céu

Frescor esverdeado
Areja o amanhecer
Aromatiza cores vibrantes
Ladeia o sol irradia o dia

Sussurro galopa aveludado
Ofegante chega suado
Adorna a voz da brisa
Condensa o instante

Desejo rasga o tempo
Sôfrego amor respira
Ardendo no lume
Escarlate da paixão


(Sarah Siqueira)

Azul



Hoje,
quero despir-me de lembranças acres,
esvaziar minh'alma das saudades.
E embebedar-me do frescor nascente
no sopro da manhã que,
além,
me espreita;
seja passado esse cinzento encanto,
do qual não tive a bênção da colheita.

Hoje,
quero dos verdes o mais puro veio,
para tecer sonhares de porvir.
Semente em cio, no morno da terra,
em mim renasce o cantar bendito
da vida, em gestação de um infinito...
Do céu que surge azul,
dentro de mim.

Patrícia Neme

Espinhos!



As flores fazem parte do caminho,
Mas são os espinhos que o pavimentam.
Embora eu os sinta á meus pés,
Prefiro manter o olhar nas rosas!


Santaroza

Simplicidade




Singela e formosa
num torvelinho de espinho
desabrocha a rosa.

Delores Pires
in O Livro dos Haicais

REENCONTRO COM O POEMA




Minha vida vazia de memória talvez
não possa provar que já fui pastor de rios,
sentinela de colinas, mirante das fortalezas
nas ameias das neblinas...

Nem que é por mim que à noite os ventos
vêm chorar sobre as ruínas...

Mas a escassa memória
numa simples foto antiga que o tempo
virou do avesso casualmente revelado,
garante o prenúncio de um recomeço
capaz de trazer de volta o sonho à mente
de que é possível às águas de um riacho
refazer seu curso de volta aos cantares
primitivos da nascente...

... se for por causa do amor
esse meu "pão nosso" de cada dia
que mata a fome de minha flor
e me deixa em estado de pânico
infinito de alegria...

Afonso Estebanez
(Poema dedicado à notável amiga
Arlete Genervam de Paiva)

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

CANÇÃO BALDIA



Às vezes tenho saudade
da saudade que não tive
de morar com liberdade
onde livre nunca estive.

Às vezes tanta saudade
não é tanta por um triz:
pois que a tal felicidade
só me quis quase feliz.

Fui quase feliz em tudo
fui e sou sem vanidade
do que serei sobretudo
a despeito da saudade.

Partir foi quase preciso
sumindo na eternidade
não me fora teu sorriso
enganar essa saudade...

Afonso Estebanez
(Poema dedicado à notável poetisa
carioca Soninha Porto – 08/02/09)

INICIAÇÃO NOS CAMPOS DE GULAG



(Último sentimento)

Como seria esse perdoar-lhes ontem
se o ontem é o crepúsculo do agora?
que seus dias melhores nos apontem
esquecer-lhes presentes na memória.

Pois amanhã não vai haver
mais sonho além da aurora
nem hora para um sonho entardecer
nem falta de motivo para não viver.
O oráculo está anunciando
que paz é ponto de partida
metade faz parte da morte
e o resto faz parte da vida.
A noite reencontrará a luz do norte
de nossa constelação de sobrevida:
para quem voltou da morte
não há morte além da vida.

Julis Calderón

DESEJO



E quando os olhos teus beijam meu corpo,
trazendo, à minha noite, a luz d´aurora,
e as tuas mãos percorrem meus segredos...
Todo um desejo ardente em mim aflora.

E quando teu respiro me entontece,
e o teu gemido por entrega implora,
teu cheiro, forte, macho, me abre os poros,
endoidecida, rogo: Vem, agora!...

Todo universo dorme em alva cama,
onde o sentir se faz perene e clama
pelo arquejar das forças animais.

Um gozo, tanto, explode em liberdade,
nos faz trilhar o chão da eternidade...
E, num rugir supremo, eu peço “Mais!”

Patricia Neme

Fantasias Humanas



Expando a alma
abrindo-a em plenitudes
permitindo que voe
na brisa da saudade
Prendo-me aos meus limites
imaginando mundos,
condicionando concepções,
construindo fantasias humanas
Sonho,
Incapaz de ser meu próprio ser,
refino experiências que se perderam
se foram
ou simplesmente
fugiram da dimensão do viver.


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 09/02/09
Código do Texto: T1430187

SAUDADE



Eu, hoje,
acordei com saudade.
E, assim como quem procura
na gaveta da ventura,
entre mil e um guardados...
Achei o teu rosto amado,
no agora,
amanhã,
no passado,
dos sonhos, o mais sonhado,
minha mais terna ilusão.
E sem temer tempo ou idade,
envolta em mansa loucura,
me dei a ti com ternura,
me dei a ti sem cuidados,
num ato
tão encantado,
que o Tempo,
de emocionado,
deixou o mundo parado...
E dormiu na minha mão.

- Patricia Neme -

Parabéns, Papai!


Hoje passei um longo tempo olhando sua foto.
Refiz as bordas da época, tirei os amassados,
pequenas manchas, imperfeições do tempo,
e até arrumei um pouco o seu cabelo e gravata.

Parte-me o coração que seja tão pouco
o que eu possa fazer hoje por você,
embora eu saiba que, talvez
estarmos bem, seja seu maior presente!

Chorei um pouco, foi inevitável.
Parece que foi ontem, o fim!
E ainda me doi tanto a saudade!

Depois, minha alegria voltou
ao perceber que não precisei retocar
o intenso brilho do seu olhar...

Regina Helena
08/02/2009

Almas entrelaçadas



Sejamos o silêncio,
palavras que ressuscitam
escorrendo pelo tempo sua efemeridade
Sobre a ausência e a solidão
nossas almas se entrelaçam
e partem tal nômades
em busca das verdades
únicas e eternas
Carregam a nostalgia da perfeição
os sonhos ganham asas e luares,
somos a noite antes do principio
e do fim
Meu olhar ajoelha-se ante tua luz
a voz emudece sob teu canto
somente o amor cresceu
qualquer sentimento curva-se
diante da beleza majestosa
desse encanto.


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 09/02/09
Código do Texto: T1429460

domingo, 8 de fevereiro de 2009

ONDE




Em qualquer recanto onde existam rosas
qualquer rua escura em que a noite pare
e as palavras soem quase indecorosas...

Onde mais não haja do que só o instante
onde então me mate só de encantamento
ou talvez não morra e só me desencante...

Onde haja caminhos no chão de veredas
com estradas noturnas de pedras acesas
vaga-lumes vaguem pelas noites negras..

Onde o túnel d’alma nunca mais a habite
onde haja esperança que só tenha calma
e onde haja tristeza que não seja triste...

Onde os suicidas morram, só de alegria!
Como foi Totônia, como foi meu Felipe
como foi Margarida como foi a Maria...

Onde haja certeza quando vier a sorte
que não tarde o dia quando vier a noite
nem retarde a vida quando for a morte...

A. Estebanez

NUMEROSO AMOR




Ah, numeroso amor de que padeço
que me conta mistérios sobre mim...
Ô, enigma! princípio sem começo
destino que termina e não tem fim...

Amor que apraz e dói! amor avesso
que assim se exaure e se refaz assim
morrendo de viver por quem mereço
na volúpia de crer que é amor afim...

Flor de lótus de deuses consagrados
nos desígnios dos bem-aventurados
de alma pronta na vida já completa.

É deusa quem me dá o dom divino
de confirmar nas cartas do destino
o carisma do amor que me liberta...

A. Estebanez
(Soneto dedicado a Maria Madalena Schuck)

Aquarela azul



  
Pousada sobre a flor,
frágil e bela em demasia!
Tão diáfana que não se sabia,
o que era borboleta, flor...
ou se era só poesia!
  
Tremem as pétalas lilases
ao vento breve.
Fremem as asas anis
à brisa leve.
 
E há um céu sem nuvens
no olhar do poeta,
entre o azul das asas
e o azul da pétala.
 
Lenise Marques

VERSOS TRISTES



E eu faço versos como quem consente
com a tristeza que os meus versos têm
sem que perceba que ela está presente
até no instante em que a alegria vem...

Eu faço versos como quem pressente
o instante alegre que não me convém,
eis que a alegria é o jeito descontente
de um jeito triste que me faz tão bem.

Quantas vezes com tanta intensidade
sinto-me um triste-alegre de saudade
e nem ao menos posso compreender:

o quanto esta tristeza é companheira,
pois antes de morrer ela é a primeira
a não deixar que eu morra sem viver.


Afonso Estebanez
(Dedicado ao poeta fluminense
Sylvio Adalberto Nascimento)

O Relogio e o Beija-Flor


 
Tempo - veloz é a dança das horas
Frágil é a vida dos homens:
Sonhos e células transmutando-se
Em cinzas, minerais e memórias.

Mas...quando voa um beija-flor
Curva-se o tempo sobre si mesmo
Rangem os ponteiros imobilizando-se
Entre um segundo e outro do vôo furta-cor.

A limpidez do instante o faz eterno!
Veste-se a alma em fantasia!
A beleza vence suavemente a morte,
e nasce pura e imortal...a poesia!

 
Lenise Marques

INDELICADEZA



Perpétuo moto,
já nem sei des’quando...
Filhos – são três;
mas quanta agitação.
Na mesa farta, um indicativo:
sou cozinheira, de forno e fogão.
A roupa suja brota das paredes,
que alguém decora com marcas de mão;
eu lavo, passo, dou alguns pontinhos,
faço bainha, reprego botão.
Molhar as plantas,
faxinar janelas,
lavar banheiros,
arear panelas,
na sexta-feira, encerar o chão.
Na correria, pão de cada dia,
num volteado, olho no espelho,
e estranho o rosto, de funda expressão.
Onde o frescor do traço adolescente,
o ar maroto, quase irreverente?...
E o meu cabelo... virou algodão!
Então, sorrio ante tal surpresa:
se foi o Tempo – e que indelicadeza,
nem me falou da sua afobação!

- Patricia Neme -

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

'INICIAÇÃO NOS CAMPOS DE GULAG'


(‘Penelope and the Suitors’ -1912- J.W.Waterhouse)


(Décimo sentimento)

A vida é a que renasce inexoravelmente
no berço da manhã vestida de esperança.
E não há outra no itinerário do presente.
É tudo o que transcende o limite da luz
e revela o rosto do crepúsculo da morte
onde tudo depende do todo de seu tudo
como a parte do sonho é a circunstância.
Antes do mito mensageiro de Telêmaco,
já o oráculo de amor anunciava o suave
martírio de Penélope, de quem a espera
cumpria o ritual de tecer a hora e o dia
de a esperança transcender sua quimera.

Eia, vida como a de um sonho
um sonho de pedra que espera
acordar do inverno do outono
como um pomo da primavera!


Julis Calderón

Exaustão



Surpreenda-me,
juntando pedaços de vida
deixados no caminho que percorri
desalinhados como um quebra cabeça
que nunca formei
Desperta-me desse sono letárgico
dá-me o tempo que não me dei
diz qual parte eu perdi
se tanta coisa esqueci
guardo o que errei
o certo desaprendi.

Conceição Bentes
06/02/09