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sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

SONHOS DE PRIMAVERA


(A Song of Springtime- J.Waterhouse)


É preciso romper o véu das mutações
e relembrar o número de quantas eras
levam os sonhos entre fios de ilusões
e desencantos numa teia de quimeras.

Necessário é tirar as meras intenções
de todo amor já saturado das esperas.
Amor é um plural de fases e estações
e nele não há singular de primaveras.

Amar é celebrar o instinto atemporal
como o vinho supera a taça de cristal
sob os sentidos infinitos dos amantes.

Se nada nesta vida dura para sempre,
melhor é repetir finita e eternamente
as utopias mais eternas dos instantes.

Afonso Estebanez
(Poema dedicado à amiga Shirlei Werling
– minha 600ª adicionada – 29/01/2009)


face na alma,
alma na mão,
poetas dançam assim
a inebriante valsa,
seus rostos colados
em mil sentidos
e solidão

(F. Campanella)


cedrinho,
sanhaço,
boca-de-leão -
sou um ossuário de signos,
sou uma costela-de-adão.

(F.Campanella)


Da água
mil silêncios me puxam
mil vozes me ensaiam

desta placenta anunciada
um verso me sua

e nada...


(F. Campanella)

Amor, gosto de mar!




(Dedico ao poeta Sergio Severo Maranhão)

No teu olhar com gosto de mar
tenho a paz universal
aprisionando-me na essência do amor
que entrelaça nossas almas.

Amor sem pressa,
segue a simetria aleatória
das descobertas, do aprendizado
e desnorteio.

Vive de profundidades e superfícies,
no verbo exato do futuro amplo
com a maneira certa de dizermos juntos
que somos os segundos duradouros
da imutável eternidade.

Conceição Bentes

Publicado no Recanto das Letras em 29/01/09
Código do Texto: T1411708

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

'NUMA FOLHA DO DIÁRIO'



Há sonhos antigos
que habitam meu outro lado
como se a alma de porta aberta
fosse uma casa abandonada
por fantasmas de ancestrais...
... sempre me deixam rosas
desaparecidas entre o legado
dos escombros...

... como se meu coração fosse
aquele velho salão das armas
de um barão que não se sabe
se morreu daquela obscura
sensação de peso do crepúsculo
nos ombros.

Mas chego sempre ao final da rua
(ou do sonho) e percebo que minha
sombra sempre fica para trás
levando minh’alma só...

...e sempre volto e vejo
que lá está minha alma no jardim
com seu infinito olhar de rosas
debruçado na janela da alvorada...

Compreendo então que somos
dois para apenas um sonho só
ou dois sonhos para min’alma só.
Um de mim apenas ressonha
os sonhos que o outro sonha
– como o vento e o pó...


Julis Calderón


'A Primeira Rosa de Sarom: tão triste é não poder te encontrar...'

Mas o que é o amor?


Talvez brisa sutil, cujo toque acalanta
a roseira a florir, em promessa de vida...
Ou será minuano, que, hostil, aquebranta
a palmeira que, em prece, se eleva, incontida?

Arrebenta, revira, destroça, desplanta...
Há de ser vendaval, em loucura homicida?
Ou, bem mais, tempestade, que o peito agiganta
e desperta o queimor da paixão reprimida?

Ah, o amor! Explicá-lo é tarefa impossível...
As lembranças sussurram baixinho: é factível...
Tomo lápis, papel, e me entrego ao labor.

Um silêncio... Saudade... Uma lua tão cheia...
E o poeta que, errante, em minh´alma vagueia,
um soneto plangente começa a compor!


- Patricia Neme -

A Primeira Rosa de Sarom



Tão triste é tu encontrares um amor
tão triste que não pode te encontrar
tão vasto como o aroma de uma flor
dispersa na lembrança sem lembrar.

Oh, fonte de água viva! banha a dor
do tédio do deserto e o joga ao mar
onde o pranto supõe ser um louvor
ou o meu canto ao direito de chorar.

Chorar por toda rosa é uma canção
que dói, mas não magoa o coração,
se meu amar é vida e amor é dom.

Eu quero apenas encontrar a rosa:
entre muitas aquela mais formosa
reflorida entre as rosas de Sarom!


Afonso Estebanez

O silêncio da quarta Rosa




Silêncio, eternidde, eis que desperta,
a rosa de Sarom do meu poeta;
se, um dia, por espinhos encoberta...
Agora ela acalenta esta alma inquieta.

Porque, na rosa-amor, a descoberta,
que nêle minha vida está completa.
Eu sou sua ventura, justa e certa,
ele é minha vontade mais secreta.

E hoje, quando ele se perde em mim,
e em nós a paz é cântico sem fim...
Nosso caminho é senda de prazer.

De sonhos, de loucuras, de harmonia,
qual sol que entrega o fogo à luz do dia...
E à noite em nossos corpos vem morrer!

- Patricia Neme -

QUARTA ROSA DE SAROM



Porque eu exalto o amor de minhas rosas
o amor por minha amada exulta em mim.
Porque malgrado as flores mais formosas
só a minha rosa é eterna em meu jardim.

Pois que o louvor do gamo às venturosas
servas chega em meus vales num clarim,
trago assim das vertentes mais rochosas
minhas rosas com ungüentos de alecrim.

Hoje eu sei me encontrar sem me perder
morrendo em teus caminhos sem morrer
porquanto és minha amada e pertencida.

Que eu te pertenço como um sonho vivo
pertence aos sonhos que me dão motivo
para que eu morra em mim por tua vida.


Afonso Estebanez

'BARRO E SOPRO'



As pessoas
intensas
imensas
e densas
são feitas
de barro,
de sopro...

De barro
para que as
sementes
germinem.

De sopro
para que as
sementes
se espalhem.

Tudo mais
é pedra,
é vácuo.


Oswaldo Antônio Begiato

Cativa



Sou cativa do território
que habito
pintando de sol
o céu onde teço nuvens
com palavras de lã
Fabrico poemas que te ofereço
em cenários
que vêem e vão como o tempo,
nas palavras imprecisas
quais me faço ouvir
afogadas na ausência das respostas
que desafiam minha natureza.

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 27/01/09
Código do Texto: T1406772

Vingança



Há um trejeito na noite,
que me conta dos teus passos
roçando chão de regresso
à fonte do meu perdão.
Vou correndo atrás do vento,
a quem joguei-me em pedaços,
buscando que me retorne
meus retalhos de ventura,
meus sonhares de criança.
Não hás de ver-me desfeita,
clamando por teus abraços,
amortalhando o desejo,
sem ter viço que me adorne.
Vou recompor-me à altura
de tão ilustre chegança,
que partiu sem dó, sem pejo,
quando eu vestia esperança.
E hás de ver-me olhar de estrela,
sorriso de plena lua...
Orvalhada, corpo e alma,
pela força de um silêncio,
que na mansidão da brisa,
te dirá: Não mais é tua!

Patrícia Neme

Singeleza



Surges como aurora
Vestindo teus sonhos de ilusões
Numa metamorfose delirante,
Confiando a vida em tuas mãos
Como um delicado cristal.
Tens a essência da natureza
Seduzindo como gaivotas
Que ágeis voam,
A singeleza do bailado de suas asas
Banhando o entardecer
Sabendo que precisam
Ir sempre mais além.


(Dedico a poeta Elisa Cesar)
Conceição Bentes
26/01/09

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

CORAÇÃO DE GUITARRAS



Deixem minha alma se perder
onde quiser, até que encontre
seu grande amor de perdição.

Deixem minha alma se render
sem arrogância, sendo de flor
seu grande amor de rendição.

Permitam que ela fique muda
como sombra de minha pedra
no entardecer de uma canção.

Deixes minha alma com a tua
como acordes de uma cantiga
nas guitarras de um coração...


Afonso Estebanez

Ipê Amarelo



Vida, é o inesperado nome da menina,
Em pés descalços na minha cozinha
O vestido, um campo de girassóis
Os louros cabelos em desalinho.

Pela janela passa uma borboleta,
Cores, furta cores..multi cores
Sobre o muro um canário canta
Douradas notas musicais aladas.

- Pegue um pãozinho Vida!
Ela pega, alegre, e vai embora
O riso cristalino se distanciando

Lá fora a tarde cai no horizonte
E o ipê amarelo do vizinho
Pingou o dia todo em meu quintal
Um tapete bordado, flor a flor.

É como se Midas tocasse o dia
E tudo em ouro se transmutasse

Doce sensação em meu coração...

É novembro, é primavera, o sol se põe..
E a vida sorriu para mim!

Lenise Marques

domingo, 25 de janeiro de 2009

Sempre Tu



Completo a ausência de tudo
Amando a dúvida
Que sucede o meu por que.
No rosto deslavado
A verdade é disfarçada
Não proclamo o que convém
Nem louvo o parecer
Mas sou o tempo que sinto,
Que mensuro, que encaixo
Enquanto o instante for,
Ter-te-ei sempre
E a palavra permitindo
Eu direi Tu.


Conceição Bentes
24/01/09

Conciliadora



Fizeste do teu olhar
O horizonte escondido,
Da vida, a tua eterna poesia
Teu sorriso, é musica em louvor
Transformaste pedras
Nas mais belas esculturas
Por teu destino caminhante
Escondes como o mar,
O teu bramido
Oferecendo ao amor
Tua ternura
Na árvore da vida foste o fruto
Da abnegação e paciência
E com tua seiva enriquecida
Escreveste o poema liquido
Carregando-o no colo
Abafando gritos
Fazendo do caminho de Dante
A estrada para a luz.

Conceição Bentes
(Dedico este poema à amiga-irmã Mary Correia)
Publicado no Recanto das Letras em 22/01/09
Código do Texto: T1399213

Caminhos Errantes



Ando por caminhos errantes
Onde passam caravanas
Sem rumos nem guias

Alimento paixões com sentimentos
Das entranhas humanas
Armazenando no coração
A exaustão de um adeus aos sonhos
Que embalaram minha alegria

O certo me parece incerto
E dos caminhos que ainda
Faltam-me andar
O mais distante é o que é mais perto.


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 23/01/09
Código do Texto: T1400515

SOLIDÃO



E tanta a dor que arranha e me lacera,
e tanto o amor que em mim, hoje extertora...
Senhor, eu enlouqueço nessa espera...
O peito se desfaz... Minh'alma chora.

Eu sonho, busco, tento.. E só quimera
encontro no soar de hora por hora;
e a solidão repica, é cruel fera
que rasga corpo e a mente, em dor, penhora.

Saudade, solidão... O que é a vida?
Por quê esta existência é tão sofrida?
Por quê não há resposta, não há paz?

A paz de ter um colo, um aconchego...
Por quê só hei de ter, enfim, sossego,
quando alguém escrever: Ela aqui jaz!

- Patricia Neme -

Amor de amizade...



Coração de portas abertas,
Recebendo um amor sincero,
Amor de almas afins que se
Encontram nas palavras,
Nos gestos, na dedicação
Da amizade sem cor,
Sem religião,
Sem preconceitos...

Amor genuíno,
Aprovado em sua essência
Pela alegria divina...
Pelo simples prazer de doação
Sem querer nada em troca...

Somente para acordar a vida
No grito da esperança de que
A paz é possível sim!
Esse amor tão amor...
Amor de amigo que só quer
Amar... Amar...
E amar...

(©Cida Luz)

Chove!



Chuvinha melancólica lá fora
A cidade pinga, goteja, escorre...
Em dias assim fico nostálgica
Voltam as dores de antigos amores
Relembro esquecidos adeuses
Qual lenços brancos acenando
Para velhos navios naufragados

Em dias assim...não sei porquê
se chove lá fora
A tristeza chega junto com os pingos
E chove também dentro de mim.

Lenise Marques

DEPOIS DO AMOR



Gosto de te ver assim dolente
Largada, lânguida, luxuriosa
Espirais do cigarro se evolando
E esse olhar perdido
Depois do amor.

Gosto de te ver assim, um lago calmo,
Brisa suave de uma tarde sonolenta
Tepidez, tibieza,
A carne mole após o esgar abrupto
De depois do amor.

Olhos semicerrados, lentos
Vontade diluída no azul
Satisfeita, preguiçosa, lassa,
Entorpecida, enternecida
Gosto de te ver depois do amor.

José Magno

Não Aprendi a Voar



No silêncio das pedras de um riacho,
rabisco estes sonetos sem sentido,
e as letras nas encostas do penhasco
são lascas dos meus versos distraídos.

Cascalhos que colhi nas águas rasas
do leito assoreado de um cometa:
não aprendi a voar, não me dei asas,
voar, voei!... Loucuras de poeta.

Voei de braços dados com estrelas,
ao som do mar e ao sol de sal e areia,
num vai e vem de luas e aquarelas.

Hoje descanso os passos na palavra,
à sombra da poesia e, volta e meia,
acordo olhando a terra pendurada.

© Nathan de Castro

Saudade



Saudade de tudo!...

Saudade, essencial e orgânica,
de horas passadas
que eu podia viver e não vivi!...
Saudade de gente que não conheço,
de amigos nascidos noutras terras,
de almas órfas e irmãs,
de minha gente dispersa,
que talvez ainha hoje espere por mim...

Saudade triste do passado,
saudade gloriosa do futuro,
saudade de todos os presentes
vividos fora de mim!...

Pressa!...
Ânsia voraz de me fazer em muitos,
fome angustiosa da fusão de tudo,
sede da volta final
da grande experiência:
uma só alma em um só corpo,
uma só alma-corpo,
um só,
um!...
Como quem fecha numa gota
o Oceano,
afogado no fundo de si mesmo...


Guimarães Rosa

VOLTEI A SER FELIZARDO



O que a natureza dá
Certo dia vem cobrar
Subtraindo com certeza
Até traços da beleza
Inclusive a luz da mente
Que se apaga suavemente
Porém quando te encontrei
Uma luz nova eu ganhei
E de novo iluminado
Voltei a ser felizardo.

Walter Dimenstein
11.1.2009

A alma é culpada!



Minha alma já viveu mil anos,
mas meu corpo é apenas um menino.

Meu destino errou todas as minhas sinas
e o que eu ainda não vivi vive comigo
se como o infinito me fosse finito abrigo
e certos pântanos, cheios de minhas salivas...
fossem só desertos
a babarem à vida
e amar profundo fosse apenas uma visita
que o amor faz descomprometido
ao que não é de tudo eterno.

E eu acho de perguntar-me
quais culpas tenho eu
de ser diferente de mim,
igual a ti...
feito alguém que não viveu?


Paulino Vergetti Neto
Publicado no Recanto das Letras em 25/01/2009
Código do Texto:1403375

Declaração



Declaro-me pouco
Sempre silencio
Faço ir e vir o caminho
Onde me teço
A minha voz nunca é clara
Ao destino que traço, pago o preço.
O meu grito é raro
Não declaro o que digo
Quando calo, me anuncio
Permaneço no retorno
Negando meu passo na partida
Por não ver o tempo e o espaço
Faço do fim meu começo.

Conceição Bentes
24/01/09

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

INICIAÇÃO NOS CAMPOS DE GULAG


(Soviet Forced Labor Camps)

(Terceiro sentimento)


Bastaria que amanhã de manhã
um abraço universal se transformasse
em berço para a chegada da liberdade
nos braços da alvorada que seria mãe.
Bastaria que uma chama de esperança
invadisse os paióis de pólvora da raça
humana – tirante ou bússola ou casulo
de sonhos indecisos – conforme a paz
dos alvadios horizontes da existência.
Mas essa luz foi apagada
no porão da consciência...

Julis Calderón


Quando partiu, levava as mãos no bolso, a cabeça erguida. Não olhava para trás, porque olhar para trás era uma maneira de ficar num pedaço qualquer para partir incompleto, ficado em meio para trás. Não olhava, pois, e, pois não ficava. Completo, partiu.
(Excerto)

Caio Fernando Abreu

INICIAÇÃO NOS CAMPOS DE GULAG


(Cenas dos campos de Gulag )

(Segundo sentimento)

Façam-se vales e desfiladeiros
no roteiro dos rios congelados
para fecundação da terra
pelo sangue de Auschwitz.
Que os mares abram seus cursos
nas muralhas de Guantánamo
na salga dos caminhos do que nasce
contra o ventre da primavera
e as águas venham dilúvios,
não pragas de profecias.
Caia pedra sobre pedra
dos muros de nossos dias...

Julis Calderón

INICIAÇÃO NOS CAMPOS DE GULAG


( Gulag- Campo de prisioneiros, na antiga União Soviética)


(Primeiro sentimento)

Amanhã de manhã
é tempo de ressurreição da aurora
malgrado deluzentes crepúsculos
de tanto sangue deflagrado...
Mas púnicos setenta séculos
de florações de pedras
não põem flores no archote
da estátua da liberdade
nem sabem nossas bocas
a fruto sazonado
de contentamento.

Contudo, pedras são flores
nos descaminhos do tempo...

Julis Calderón

Reescrevo Minha História



Permaneço presente
Num horizonte sem luz
Deslizando nas sombras
Saudades do que fui

Busco o porque da solidão
Contida em mim, mas em vão
Procuro sinais da tua alma ausente
Que me mantém incerta, longe
E desinquieta, presente.

Reescrevo essa historia
Que só é mais um conto
Onde ninguém soube contar
E eu deixei acabar.

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 20/01/09
Código do Texto: T1395594

O outro céu



Se no céu há noite entre as estrelas,
em mim há versos dentro d’alma
e meu coração alegra-se quando falo
que meus versos viajam como cometas descansados.

Cruzo labirintos de inconfessáveis vias,
sou na arte de versar a ventania
e o mais nobre amor feito poesia,
o que diz de mim para mais de mim ainda:
sê teu álibi nos versos de tua alforria.

Fantasmeio a estrofe que demora
e sem sair há toda dentro de mim
zombando porque chorando só quer rir
e dizer-me ser maior que o próprio verso.

Se no céu há outros céus que não os vejo,
longe de mim sentir medo
ao ser beijado por algum segredo
que possa existir além de mim nesse céu crido.


Paulino Vergetti Neto
Publicado no Recanto das Letras em 21/01/2009
Código do Texto:1396204

Solidão



Por certo a pior solidão
É aquela que a gente sente
Sem ninguém no coração...
No meio de muita gente...

Praias longe, em solidão
Fora de todas as rotas,
Tal como o meu coração
Só como o sonho... das gaivotas...


J. G. de Araújo Jorge

HOJE... FRAGMENTOS



Na solidão de mim
Onde sonhos transformaram em desertos
Onde emoções e sentimentos foram
Represados no silencio do meu eu
Entre trovões alados
Relâmpagos cadentes
Choveu
Uma chuva fria
Do pranto dos olhos meus
Que rolando pela minha face
Já entardecida pelo sofrimento
Buscou desaguar no mar do adeus
Hoje...
Somente hoje
Libertei destes fragmentos meus.

Rô Lopes

CHUVA NO MOLHADO



Gosto da chuva no telhado...
As goteiras me fazem pensar
nos pontos finais que deixei
de colocar na minha história.

Gosto da chuva no molhado...
Os canteiros me dão lembrar
dos jardineiros que ficaram
com sementes na memória.

Gosto de causas sem efeito...
De maus sonhos sem motivo
de morrer sem ser preciso
por ter fama sem proveito.

Gosto das coisas como são...
Da vida como um desterro
da sombra indo ao enterro
da sombra morta no chão...


Afonso Estebanez

TEU LINDO MODO DE ANDAR




Brisa balançando a flor
Aumentando seu fulgor
E olhando o teu passar
Acho que queres imitar
Os movimentos da flor
Mas escuta meu amor
Se a flor pudesse andar
Em vez de um balançar
Teria que copiar
Teu lindo modo de andar.

Walter Dimenstein
10.1.2009

Pra chegada



Se d’outra vez nevar
E eu aqui não estiver
No fundo iras pensar
Ah! Se ele vier...

É o que eu pensaria
Se demorasses á voltar
Mas eu te esperaria
Pelo fato de te amar...

Por isso para mim
Longe também é perto
Estas tatuada bem assim
És meu provável mais certo...

Então se novamente nevar
E eu aqui não estiver
Pensa que fui para o mar
E volto! Se deus quiser...

Santaroza

A poesia não há!



Se não sabes fazer verso, aprende.
É carecido apenas saber amar
e tudo na vida observar,
mas também deixar-se ser observado.

Se não sabes declamar, aprende.
Deixa a voz falar de amor
e sentir que nelas moram as palavras
e o canto no nosso peito nunca se cala,
mas só se desencanta quando não o cantamos.

O pior de tudo é só se não gostares dos poemas,
nem de um verso solto caçando uma boca
que sem esforço o declame,
porque, se aos poemas não amas,
nunca hás de achar alegria
mesmo quando chorares de tristeza,
sabes por quê?
Em teu coração não mora a poesia.


Paulino Vergetti Neto
Publicado no Recanto das Letras em 22/01/2009
Código do Texto:1397893

SONETO À SOMBRA DE NIETZSCHE



Hoje não quero nada de ninguém!
Nem compaixão, nem flores, nada enfim...
Tudo se esquece ou é ilusão. Porém,
eu sei que Deus vai-se lembrar de mim.

Passa o amor e fica esse desdém
nas sombras fugidias do meu fim...
Ah, pássaros que emigram para além
do amor que é gêmeo, mas não é afim...

Não quero nada. Nada! Nem lembrança
nem presente ou promessa ou esperança
nem vago instante que pareça festa...

Quero apenas que Deus me dê a graça
de brindar em silêncio numa taça
a glória de viver do que me resta!

A. Estebanez

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

QUANDO SE TEM CONFIANÇA



A nossa orgulhosa lua
Usa luz que não é sua


A beleza feminina
Ilumina a masculina
Que apenas reflete a luz
Imitando a nossa lua
Pois o clarão que produz
É uma luz que não é sua
Mas se no porvir confias
Terás grandes alegrias
Como uma feliz criança
Quando se tem confiança.

Walter Dimenstein
4.1.2009

IMPOSSÍVEL



Quero pra mim nesse amanhecer
A boca cheia d’aguardente,
Os olhos cheios de paisagens,
Os ouvidos cheios de bemóis,
E um sorriso que seja eterno.

Quero pra mim nesse entardecer
Uma melancia vermelhinha,
Um mar repleto de horizontes,
Uma pauta e uma clave de sol,
Nos dentes a brancura d’alma.

Quero pra mim nesse reencontro
O beijo ávido e imaculado,
A nudez santa e pecadora,
A melodia impertinente,
E uma alegria inescusável.

Quero pra mim, mesmo morrendo,
A tua mais preciosa presença.


Oswaldo Antônio Begiato

'A TERCEIRA ROSA'




Três rosas... A mestria de um amor,
com que me tornas tua companheira.
Três rosas.. A contar-me do penhor
com que teceste a vida, plena, inteira.

Com justa perfeição foste escultor
do mármore, gerado na pedreira;
e de um mosaico de pouco esplendor,
tua régua tracejou obra altaneira.

E nosso peito vibra a um só compasso,
meu porto mais seguro é teu abraço...
Agora sei, meu sonho não foi vão.

A rosa de Saron ouviu-me o pranto
e deu-me a conhecer o doce encanto,
por Ele, posto no teu coração.

Patrícia Neme

Sonhadora



Quando quiseres entrar
No meu mundo,
Peça licença.
Não acordes quem sonha profundo
Venha lentamente, sussurrando
E se não me achares
Continue a procura dentro de si
Permitindo-me que veja seus sonhos
Deixando-me sonhá-los também.


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 18/01/09
Código do Texto: T1390873

Deserto



Caminho por desertos sem oásis
Sem bagagem,
A esmo.
Torturam-me as tempestades de areia
Tal um batismo seco
Que me ascende na descrença.


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 18/01/09
Código do Texto: T1390870

sábado, 17 de janeiro de 2009

Salmo 76



'Até quando?'


Em Teu nome, Senhor, há tanta morte,
há tanto derramar de sangue irmão...
Há tanto julgamento sem suporte...
Teu nome é profanado em culto vão!

Em Teu nome, Senhor, vagam sem norte,
profetas encharcados de ambição;
pretendem dirigir a vida e a sorte
do jovem, da criança, do ancião!

O credo alheio atacam sem clemência,
fomentam o domínio da violência,
massacram sonho e vida em santa guerra.

Até quando, Senhor, tanta heresia?
Levanta-Te e combate a hipocrisia,
já basta de barbárie sobre a Terra!


- Patricia Neme -
(O Livro da Intimidade)

Querer



Quero a calmaria da chuva mansa
As palavras criadas no tempo talhado
Com sabor do sempre
Quero a voz das tuas mãos
Achar um você
No meio de tantos vocês
Pousar-te num poema
Como quem não pode
Te guardar na vida
Quero tua saudade em tom menor
Agigantada na voz de um tenor
Prolongada numa nota só


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 17/01/09
Código do Texto: T1389205

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

SONHOS DE PRIMAVERA


(A Song of Springtime- J.Waterhouse)


É preciso romper o véu das mutações
e relembrar o número de quantas eras
levam os sonhos entre fios de ilusões
e desencantos numa teia de quimeras.

Necessário é tirar as meras intenções
de todo amor já saturado das esperas.
Amor é um plural de fases e estações
e nele não há singular de primaveras.

Amar é celebrar o instinto atemporal
como o vinho supera a taça de cristal
sob os sentidos infinitos dos amantes.

Se nada nesta vida dura para sempre,
melhor é repetir finita e eternamente
as utopias mais eternas dos instantes.

Afonso Estebanez
(Poema dedicado à amiga Shirlei Werling
– minha 600ª adicionada – 29/01/2009)


face na alma,
alma na mão,
poetas dançam assim
a inebriante valsa,
seus rostos colados
em mil sentidos
e solidão

(F. Campanella)


cedrinho,
sanhaço,
boca-de-leão -
sou um ossuário de signos,
sou uma costela-de-adão.

(F.Campanella)


Da água
mil silêncios me puxam
mil vozes me ensaiam

desta placenta anunciada
um verso me sua

e nada...


(F. Campanella)

Amor, gosto de mar!




(Dedico ao poeta Sergio Severo Maranhão)

No teu olhar com gosto de mar
tenho a paz universal
aprisionando-me na essência do amor
que entrelaça nossas almas.

Amor sem pressa,
segue a simetria aleatória
das descobertas, do aprendizado
e desnorteio.

Vive de profundidades e superfícies,
no verbo exato do futuro amplo
com a maneira certa de dizermos juntos
que somos os segundos duradouros
da imutável eternidade.

Conceição Bentes

Publicado no Recanto das Letras em 29/01/09
Código do Texto: T1411708

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

'NUMA FOLHA DO DIÁRIO'



Há sonhos antigos
que habitam meu outro lado
como se a alma de porta aberta
fosse uma casa abandonada
por fantasmas de ancestrais...
... sempre me deixam rosas
desaparecidas entre o legado
dos escombros...

... como se meu coração fosse
aquele velho salão das armas
de um barão que não se sabe
se morreu daquela obscura
sensação de peso do crepúsculo
nos ombros.

Mas chego sempre ao final da rua
(ou do sonho) e percebo que minha
sombra sempre fica para trás
levando minh’alma só...

...e sempre volto e vejo
que lá está minha alma no jardim
com seu infinito olhar de rosas
debruçado na janela da alvorada...

Compreendo então que somos
dois para apenas um sonho só
ou dois sonhos para min’alma só.
Um de mim apenas ressonha
os sonhos que o outro sonha
– como o vento e o pó...


Julis Calderón


'A Primeira Rosa de Sarom: tão triste é não poder te encontrar...'

Mas o que é o amor?


Talvez brisa sutil, cujo toque acalanta
a roseira a florir, em promessa de vida...
Ou será minuano, que, hostil, aquebranta
a palmeira que, em prece, se eleva, incontida?

Arrebenta, revira, destroça, desplanta...
Há de ser vendaval, em loucura homicida?
Ou, bem mais, tempestade, que o peito agiganta
e desperta o queimor da paixão reprimida?

Ah, o amor! Explicá-lo é tarefa impossível...
As lembranças sussurram baixinho: é factível...
Tomo lápis, papel, e me entrego ao labor.

Um silêncio... Saudade... Uma lua tão cheia...
E o poeta que, errante, em minh´alma vagueia,
um soneto plangente começa a compor!


- Patricia Neme -

A Primeira Rosa de Sarom



Tão triste é tu encontrares um amor
tão triste que não pode te encontrar
tão vasto como o aroma de uma flor
dispersa na lembrança sem lembrar.

Oh, fonte de água viva! banha a dor
do tédio do deserto e o joga ao mar
onde o pranto supõe ser um louvor
ou o meu canto ao direito de chorar.

Chorar por toda rosa é uma canção
que dói, mas não magoa o coração,
se meu amar é vida e amor é dom.

Eu quero apenas encontrar a rosa:
entre muitas aquela mais formosa
reflorida entre as rosas de Sarom!


Afonso Estebanez

O silêncio da quarta Rosa




Silêncio, eternidde, eis que desperta,
a rosa de Sarom do meu poeta;
se, um dia, por espinhos encoberta...
Agora ela acalenta esta alma inquieta.

Porque, na rosa-amor, a descoberta,
que nêle minha vida está completa.
Eu sou sua ventura, justa e certa,
ele é minha vontade mais secreta.

E hoje, quando ele se perde em mim,
e em nós a paz é cântico sem fim...
Nosso caminho é senda de prazer.

De sonhos, de loucuras, de harmonia,
qual sol que entrega o fogo à luz do dia...
E à noite em nossos corpos vem morrer!

- Patricia Neme -

QUARTA ROSA DE SAROM



Porque eu exalto o amor de minhas rosas
o amor por minha amada exulta em mim.
Porque malgrado as flores mais formosas
só a minha rosa é eterna em meu jardim.

Pois que o louvor do gamo às venturosas
servas chega em meus vales num clarim,
trago assim das vertentes mais rochosas
minhas rosas com ungüentos de alecrim.

Hoje eu sei me encontrar sem me perder
morrendo em teus caminhos sem morrer
porquanto és minha amada e pertencida.

Que eu te pertenço como um sonho vivo
pertence aos sonhos que me dão motivo
para que eu morra em mim por tua vida.


Afonso Estebanez

'BARRO E SOPRO'



As pessoas
intensas
imensas
e densas
são feitas
de barro,
de sopro...

De barro
para que as
sementes
germinem.

De sopro
para que as
sementes
se espalhem.

Tudo mais
é pedra,
é vácuo.


Oswaldo Antônio Begiato

Cativa



Sou cativa do território
que habito
pintando de sol
o céu onde teço nuvens
com palavras de lã
Fabrico poemas que te ofereço
em cenários
que vêem e vão como o tempo,
nas palavras imprecisas
quais me faço ouvir
afogadas na ausência das respostas
que desafiam minha natureza.

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 27/01/09
Código do Texto: T1406772

Vingança



Há um trejeito na noite,
que me conta dos teus passos
roçando chão de regresso
à fonte do meu perdão.
Vou correndo atrás do vento,
a quem joguei-me em pedaços,
buscando que me retorne
meus retalhos de ventura,
meus sonhares de criança.
Não hás de ver-me desfeita,
clamando por teus abraços,
amortalhando o desejo,
sem ter viço que me adorne.
Vou recompor-me à altura
de tão ilustre chegança,
que partiu sem dó, sem pejo,
quando eu vestia esperança.
E hás de ver-me olhar de estrela,
sorriso de plena lua...
Orvalhada, corpo e alma,
pela força de um silêncio,
que na mansidão da brisa,
te dirá: Não mais é tua!

Patrícia Neme

Singeleza



Surges como aurora
Vestindo teus sonhos de ilusões
Numa metamorfose delirante,
Confiando a vida em tuas mãos
Como um delicado cristal.
Tens a essência da natureza
Seduzindo como gaivotas
Que ágeis voam,
A singeleza do bailado de suas asas
Banhando o entardecer
Sabendo que precisam
Ir sempre mais além.


(Dedico a poeta Elisa Cesar)
Conceição Bentes
26/01/09

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

CORAÇÃO DE GUITARRAS



Deixem minha alma se perder
onde quiser, até que encontre
seu grande amor de perdição.

Deixem minha alma se render
sem arrogância, sendo de flor
seu grande amor de rendição.

Permitam que ela fique muda
como sombra de minha pedra
no entardecer de uma canção.

Deixes minha alma com a tua
como acordes de uma cantiga
nas guitarras de um coração...


Afonso Estebanez

Ipê Amarelo



Vida, é o inesperado nome da menina,
Em pés descalços na minha cozinha
O vestido, um campo de girassóis
Os louros cabelos em desalinho.

Pela janela passa uma borboleta,
Cores, furta cores..multi cores
Sobre o muro um canário canta
Douradas notas musicais aladas.

- Pegue um pãozinho Vida!
Ela pega, alegre, e vai embora
O riso cristalino se distanciando

Lá fora a tarde cai no horizonte
E o ipê amarelo do vizinho
Pingou o dia todo em meu quintal
Um tapete bordado, flor a flor.

É como se Midas tocasse o dia
E tudo em ouro se transmutasse

Doce sensação em meu coração...

É novembro, é primavera, o sol se põe..
E a vida sorriu para mim!

Lenise Marques

domingo, 25 de janeiro de 2009

Sempre Tu



Completo a ausência de tudo
Amando a dúvida
Que sucede o meu por que.
No rosto deslavado
A verdade é disfarçada
Não proclamo o que convém
Nem louvo o parecer
Mas sou o tempo que sinto,
Que mensuro, que encaixo
Enquanto o instante for,
Ter-te-ei sempre
E a palavra permitindo
Eu direi Tu.


Conceição Bentes
24/01/09

Conciliadora



Fizeste do teu olhar
O horizonte escondido,
Da vida, a tua eterna poesia
Teu sorriso, é musica em louvor
Transformaste pedras
Nas mais belas esculturas
Por teu destino caminhante
Escondes como o mar,
O teu bramido
Oferecendo ao amor
Tua ternura
Na árvore da vida foste o fruto
Da abnegação e paciência
E com tua seiva enriquecida
Escreveste o poema liquido
Carregando-o no colo
Abafando gritos
Fazendo do caminho de Dante
A estrada para a luz.

Conceição Bentes
(Dedico este poema à amiga-irmã Mary Correia)
Publicado no Recanto das Letras em 22/01/09
Código do Texto: T1399213

Caminhos Errantes



Ando por caminhos errantes
Onde passam caravanas
Sem rumos nem guias

Alimento paixões com sentimentos
Das entranhas humanas
Armazenando no coração
A exaustão de um adeus aos sonhos
Que embalaram minha alegria

O certo me parece incerto
E dos caminhos que ainda
Faltam-me andar
O mais distante é o que é mais perto.


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 23/01/09
Código do Texto: T1400515

SOLIDÃO



E tanta a dor que arranha e me lacera,
e tanto o amor que em mim, hoje extertora...
Senhor, eu enlouqueço nessa espera...
O peito se desfaz... Minh'alma chora.

Eu sonho, busco, tento.. E só quimera
encontro no soar de hora por hora;
e a solidão repica, é cruel fera
que rasga corpo e a mente, em dor, penhora.

Saudade, solidão... O que é a vida?
Por quê esta existência é tão sofrida?
Por quê não há resposta, não há paz?

A paz de ter um colo, um aconchego...
Por quê só hei de ter, enfim, sossego,
quando alguém escrever: Ela aqui jaz!

- Patricia Neme -

Amor de amizade...



Coração de portas abertas,
Recebendo um amor sincero,
Amor de almas afins que se
Encontram nas palavras,
Nos gestos, na dedicação
Da amizade sem cor,
Sem religião,
Sem preconceitos...

Amor genuíno,
Aprovado em sua essência
Pela alegria divina...
Pelo simples prazer de doação
Sem querer nada em troca...

Somente para acordar a vida
No grito da esperança de que
A paz é possível sim!
Esse amor tão amor...
Amor de amigo que só quer
Amar... Amar...
E amar...

(©Cida Luz)

Chove!



Chuvinha melancólica lá fora
A cidade pinga, goteja, escorre...
Em dias assim fico nostálgica
Voltam as dores de antigos amores
Relembro esquecidos adeuses
Qual lenços brancos acenando
Para velhos navios naufragados

Em dias assim...não sei porquê
se chove lá fora
A tristeza chega junto com os pingos
E chove também dentro de mim.

Lenise Marques

DEPOIS DO AMOR



Gosto de te ver assim dolente
Largada, lânguida, luxuriosa
Espirais do cigarro se evolando
E esse olhar perdido
Depois do amor.

Gosto de te ver assim, um lago calmo,
Brisa suave de uma tarde sonolenta
Tepidez, tibieza,
A carne mole após o esgar abrupto
De depois do amor.

Olhos semicerrados, lentos
Vontade diluída no azul
Satisfeita, preguiçosa, lassa,
Entorpecida, enternecida
Gosto de te ver depois do amor.

José Magno

Não Aprendi a Voar



No silêncio das pedras de um riacho,
rabisco estes sonetos sem sentido,
e as letras nas encostas do penhasco
são lascas dos meus versos distraídos.

Cascalhos que colhi nas águas rasas
do leito assoreado de um cometa:
não aprendi a voar, não me dei asas,
voar, voei!... Loucuras de poeta.

Voei de braços dados com estrelas,
ao som do mar e ao sol de sal e areia,
num vai e vem de luas e aquarelas.

Hoje descanso os passos na palavra,
à sombra da poesia e, volta e meia,
acordo olhando a terra pendurada.

© Nathan de Castro

Saudade



Saudade de tudo!...

Saudade, essencial e orgânica,
de horas passadas
que eu podia viver e não vivi!...
Saudade de gente que não conheço,
de amigos nascidos noutras terras,
de almas órfas e irmãs,
de minha gente dispersa,
que talvez ainha hoje espere por mim...

Saudade triste do passado,
saudade gloriosa do futuro,
saudade de todos os presentes
vividos fora de mim!...

Pressa!...
Ânsia voraz de me fazer em muitos,
fome angustiosa da fusão de tudo,
sede da volta final
da grande experiência:
uma só alma em um só corpo,
uma só alma-corpo,
um só,
um!...
Como quem fecha numa gota
o Oceano,
afogado no fundo de si mesmo...


Guimarães Rosa

VOLTEI A SER FELIZARDO



O que a natureza dá
Certo dia vem cobrar
Subtraindo com certeza
Até traços da beleza
Inclusive a luz da mente
Que se apaga suavemente
Porém quando te encontrei
Uma luz nova eu ganhei
E de novo iluminado
Voltei a ser felizardo.

Walter Dimenstein
11.1.2009

A alma é culpada!



Minha alma já viveu mil anos,
mas meu corpo é apenas um menino.

Meu destino errou todas as minhas sinas
e o que eu ainda não vivi vive comigo
se como o infinito me fosse finito abrigo
e certos pântanos, cheios de minhas salivas...
fossem só desertos
a babarem à vida
e amar profundo fosse apenas uma visita
que o amor faz descomprometido
ao que não é de tudo eterno.

E eu acho de perguntar-me
quais culpas tenho eu
de ser diferente de mim,
igual a ti...
feito alguém que não viveu?


Paulino Vergetti Neto
Publicado no Recanto das Letras em 25/01/2009
Código do Texto:1403375

Declaração



Declaro-me pouco
Sempre silencio
Faço ir e vir o caminho
Onde me teço
A minha voz nunca é clara
Ao destino que traço, pago o preço.
O meu grito é raro
Não declaro o que digo
Quando calo, me anuncio
Permaneço no retorno
Negando meu passo na partida
Por não ver o tempo e o espaço
Faço do fim meu começo.

Conceição Bentes
24/01/09

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

INICIAÇÃO NOS CAMPOS DE GULAG


(Soviet Forced Labor Camps)

(Terceiro sentimento)


Bastaria que amanhã de manhã
um abraço universal se transformasse
em berço para a chegada da liberdade
nos braços da alvorada que seria mãe.
Bastaria que uma chama de esperança
invadisse os paióis de pólvora da raça
humana – tirante ou bússola ou casulo
de sonhos indecisos – conforme a paz
dos alvadios horizontes da existência.
Mas essa luz foi apagada
no porão da consciência...

Julis Calderón


Quando partiu, levava as mãos no bolso, a cabeça erguida. Não olhava para trás, porque olhar para trás era uma maneira de ficar num pedaço qualquer para partir incompleto, ficado em meio para trás. Não olhava, pois, e, pois não ficava. Completo, partiu.
(Excerto)

Caio Fernando Abreu

INICIAÇÃO NOS CAMPOS DE GULAG


(Cenas dos campos de Gulag )

(Segundo sentimento)

Façam-se vales e desfiladeiros
no roteiro dos rios congelados
para fecundação da terra
pelo sangue de Auschwitz.
Que os mares abram seus cursos
nas muralhas de Guantánamo
na salga dos caminhos do que nasce
contra o ventre da primavera
e as águas venham dilúvios,
não pragas de profecias.
Caia pedra sobre pedra
dos muros de nossos dias...

Julis Calderón

INICIAÇÃO NOS CAMPOS DE GULAG


( Gulag- Campo de prisioneiros, na antiga União Soviética)


(Primeiro sentimento)

Amanhã de manhã
é tempo de ressurreição da aurora
malgrado deluzentes crepúsculos
de tanto sangue deflagrado...
Mas púnicos setenta séculos
de florações de pedras
não põem flores no archote
da estátua da liberdade
nem sabem nossas bocas
a fruto sazonado
de contentamento.

Contudo, pedras são flores
nos descaminhos do tempo...

Julis Calderón

Reescrevo Minha História



Permaneço presente
Num horizonte sem luz
Deslizando nas sombras
Saudades do que fui

Busco o porque da solidão
Contida em mim, mas em vão
Procuro sinais da tua alma ausente
Que me mantém incerta, longe
E desinquieta, presente.

Reescrevo essa historia
Que só é mais um conto
Onde ninguém soube contar
E eu deixei acabar.

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 20/01/09
Código do Texto: T1395594

O outro céu



Se no céu há noite entre as estrelas,
em mim há versos dentro d’alma
e meu coração alegra-se quando falo
que meus versos viajam como cometas descansados.

Cruzo labirintos de inconfessáveis vias,
sou na arte de versar a ventania
e o mais nobre amor feito poesia,
o que diz de mim para mais de mim ainda:
sê teu álibi nos versos de tua alforria.

Fantasmeio a estrofe que demora
e sem sair há toda dentro de mim
zombando porque chorando só quer rir
e dizer-me ser maior que o próprio verso.

Se no céu há outros céus que não os vejo,
longe de mim sentir medo
ao ser beijado por algum segredo
que possa existir além de mim nesse céu crido.


Paulino Vergetti Neto
Publicado no Recanto das Letras em 21/01/2009
Código do Texto:1396204

Solidão



Por certo a pior solidão
É aquela que a gente sente
Sem ninguém no coração...
No meio de muita gente...

Praias longe, em solidão
Fora de todas as rotas,
Tal como o meu coração
Só como o sonho... das gaivotas...


J. G. de Araújo Jorge

HOJE... FRAGMENTOS



Na solidão de mim
Onde sonhos transformaram em desertos
Onde emoções e sentimentos foram
Represados no silencio do meu eu
Entre trovões alados
Relâmpagos cadentes
Choveu
Uma chuva fria
Do pranto dos olhos meus
Que rolando pela minha face
Já entardecida pelo sofrimento
Buscou desaguar no mar do adeus
Hoje...
Somente hoje
Libertei destes fragmentos meus.

Rô Lopes

CHUVA NO MOLHADO



Gosto da chuva no telhado...
As goteiras me fazem pensar
nos pontos finais que deixei
de colocar na minha história.

Gosto da chuva no molhado...
Os canteiros me dão lembrar
dos jardineiros que ficaram
com sementes na memória.

Gosto de causas sem efeito...
De maus sonhos sem motivo
de morrer sem ser preciso
por ter fama sem proveito.

Gosto das coisas como são...
Da vida como um desterro
da sombra indo ao enterro
da sombra morta no chão...


Afonso Estebanez

TEU LINDO MODO DE ANDAR




Brisa balançando a flor
Aumentando seu fulgor
E olhando o teu passar
Acho que queres imitar
Os movimentos da flor
Mas escuta meu amor
Se a flor pudesse andar
Em vez de um balançar
Teria que copiar
Teu lindo modo de andar.

Walter Dimenstein
10.1.2009

Pra chegada



Se d’outra vez nevar
E eu aqui não estiver
No fundo iras pensar
Ah! Se ele vier...

É o que eu pensaria
Se demorasses á voltar
Mas eu te esperaria
Pelo fato de te amar...

Por isso para mim
Longe também é perto
Estas tatuada bem assim
És meu provável mais certo...

Então se novamente nevar
E eu aqui não estiver
Pensa que fui para o mar
E volto! Se deus quiser...

Santaroza

A poesia não há!



Se não sabes fazer verso, aprende.
É carecido apenas saber amar
e tudo na vida observar,
mas também deixar-se ser observado.

Se não sabes declamar, aprende.
Deixa a voz falar de amor
e sentir que nelas moram as palavras
e o canto no nosso peito nunca se cala,
mas só se desencanta quando não o cantamos.

O pior de tudo é só se não gostares dos poemas,
nem de um verso solto caçando uma boca
que sem esforço o declame,
porque, se aos poemas não amas,
nunca hás de achar alegria
mesmo quando chorares de tristeza,
sabes por quê?
Em teu coração não mora a poesia.


Paulino Vergetti Neto
Publicado no Recanto das Letras em 22/01/2009
Código do Texto:1397893

SONETO À SOMBRA DE NIETZSCHE



Hoje não quero nada de ninguém!
Nem compaixão, nem flores, nada enfim...
Tudo se esquece ou é ilusão. Porém,
eu sei que Deus vai-se lembrar de mim.

Passa o amor e fica esse desdém
nas sombras fugidias do meu fim...
Ah, pássaros que emigram para além
do amor que é gêmeo, mas não é afim...

Não quero nada. Nada! Nem lembrança
nem presente ou promessa ou esperança
nem vago instante que pareça festa...

Quero apenas que Deus me dê a graça
de brindar em silêncio numa taça
a glória de viver do que me resta!

A. Estebanez

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

QUANDO SE TEM CONFIANÇA



A nossa orgulhosa lua
Usa luz que não é sua


A beleza feminina
Ilumina a masculina
Que apenas reflete a luz
Imitando a nossa lua
Pois o clarão que produz
É uma luz que não é sua
Mas se no porvir confias
Terás grandes alegrias
Como uma feliz criança
Quando se tem confiança.

Walter Dimenstein
4.1.2009

IMPOSSÍVEL



Quero pra mim nesse amanhecer
A boca cheia d’aguardente,
Os olhos cheios de paisagens,
Os ouvidos cheios de bemóis,
E um sorriso que seja eterno.

Quero pra mim nesse entardecer
Uma melancia vermelhinha,
Um mar repleto de horizontes,
Uma pauta e uma clave de sol,
Nos dentes a brancura d’alma.

Quero pra mim nesse reencontro
O beijo ávido e imaculado,
A nudez santa e pecadora,
A melodia impertinente,
E uma alegria inescusável.

Quero pra mim, mesmo morrendo,
A tua mais preciosa presença.


Oswaldo Antônio Begiato

'A TERCEIRA ROSA'




Três rosas... A mestria de um amor,
com que me tornas tua companheira.
Três rosas.. A contar-me do penhor
com que teceste a vida, plena, inteira.

Com justa perfeição foste escultor
do mármore, gerado na pedreira;
e de um mosaico de pouco esplendor,
tua régua tracejou obra altaneira.

E nosso peito vibra a um só compasso,
meu porto mais seguro é teu abraço...
Agora sei, meu sonho não foi vão.

A rosa de Saron ouviu-me o pranto
e deu-me a conhecer o doce encanto,
por Ele, posto no teu coração.

Patrícia Neme

Sonhadora



Quando quiseres entrar
No meu mundo,
Peça licença.
Não acordes quem sonha profundo
Venha lentamente, sussurrando
E se não me achares
Continue a procura dentro de si
Permitindo-me que veja seus sonhos
Deixando-me sonhá-los também.


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 18/01/09
Código do Texto: T1390873

Deserto



Caminho por desertos sem oásis
Sem bagagem,
A esmo.
Torturam-me as tempestades de areia
Tal um batismo seco
Que me ascende na descrença.


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 18/01/09
Código do Texto: T1390870

sábado, 17 de janeiro de 2009

Salmo 76



'Até quando?'


Em Teu nome, Senhor, há tanta morte,
há tanto derramar de sangue irmão...
Há tanto julgamento sem suporte...
Teu nome é profanado em culto vão!

Em Teu nome, Senhor, vagam sem norte,
profetas encharcados de ambição;
pretendem dirigir a vida e a sorte
do jovem, da criança, do ancião!

O credo alheio atacam sem clemência,
fomentam o domínio da violência,
massacram sonho e vida em santa guerra.

Até quando, Senhor, tanta heresia?
Levanta-Te e combate a hipocrisia,
já basta de barbárie sobre a Terra!


- Patricia Neme -
(O Livro da Intimidade)

Querer



Quero a calmaria da chuva mansa
As palavras criadas no tempo talhado
Com sabor do sempre
Quero a voz das tuas mãos
Achar um você
No meio de tantos vocês
Pousar-te num poema
Como quem não pode
Te guardar na vida
Quero tua saudade em tom menor
Agigantada na voz de um tenor
Prolongada numa nota só


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 17/01/09
Código do Texto: T1389205