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segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

'FELIZ ANO NOVO'


(Auld Lang Syne" is a song by Robert Burns)
(1759--1796)


Ano novo deve ser apenas um novo ano
daquele velho motivo que todos os anos
faz a gente pensar que este ano vai ser
feliz... Mas ainda é o velho tema...

Apenas sensação de permitir que sonhos
mortos enterrem os seus sonhos mortos,
enquanto a gente desperta antigas rosas
das que ainda permanecem adormecidas
nas páginas jamais abertas do jardim...

E nada de brincar de novos sofrimentos.
Ainda há muita amargura que necessita
de um funeral compatível com a liturgia
da cura pelos perdões não concedidos...

Então, depois de removida tanta pedra
desses túmulos todo ano reinventados,
a gente deseja apenas que o ano velho
acompanhe este ano novo no momento
de entrar pelas soleiras do coração...

Sementes de amor numa das mãos
e uma flor despojada dos espinhos
na outra mão...

A. Estebanez

'Canto a Vida!'



Canto as manhãs do mundo
Que se anunciam lentas
Recostadas no horizonte
Ausentes como eu.
Por ser filha dos prados,
Venho de jardins inventados pela bruma
Tal musica que envenena as madrugadas
Sou o murmúrio do silêncio
Atravessando o peito ressequido
Purificando-me no bailado das cores
Que rasgam a dor
De um céu cor de chumbo!


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 27/12/2008
Código do Texto: T1354700

'Confidências!'



Troco confidências com o mar
Reclamando meus dissabores,
Misturando lágrimas com as águas
E gargalhando com as ondas
Que se quebram na minha alma.
O cansaço atordoa-me a coragem, a sensatez
E mascaro o tempo que passa
Sentada no crepúsculo da vida
Onde em tudo
Existe apenas o nada!


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 27/12/2008
Código do Texto: T1354699

'Perdas!'




Perdi a respiração do tempo
Ao se propagar vestida de sons;
Ouvi sozinha o adormecer
Da minha voz
Sem reclamar o que queria
Meus caminhos sumiram
Nos passos do inverno
Levando cada essência
Dos meus híbridos costumes.
Perdi a capacidade do sonhar
Esculpindo teu rosto em cada espera
E meu caminhar completado por ti
Fez da solidão
Meu tempo sem memória!

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 28/12/2008
Código do Texto: T1356130

'SOLIDARIEDADE'


(The wall of International Peace - Arbat Quarter - Moscow)
(Photo by Jeff Bauche)



Vamos, dêem as mãos.

Porquê esse ar de eterna desconfiança?
esse medo? essa raiva?
Porquê essa imensa barreira
entre o Eu e o Nós na natural conjugação do verbo ser?

Vamos, dêem as mãos.

Para quê esses bons-dias, boas-noites,
se é um grunhido apenas e não uma saudação?
Para quê esse sorriso
se é um simples contrair da pele e nada mais?

Vamos, dêem as mãos.

Já que a nossa amargura é a mesma amargura,
já que a miséria, para nós, tem as mesmas sete letras,
já que o sangrar de nossos corpos é o vergão da mesma chicotada,
fiquemos juntos,
sejamos juntos.
Porquê esse ar de desconfiança?
esse medo? essa raiva?

Vamos, dêem as mãos.

Mário Dionísio

'Chegada e Partida!'



Chegaste como o vento
Abrindo sorrisos da madrugada
Mas só o tempo suficiente
Para iludir a frieza
Arquitetônica de um cais.
Partiste no azul oscilante
Do mar da vida
Cercado por litorais,
Onde ondas sempre quebram-se
Junto às margens do meu esperar.
Voltarás nos raios das manhãs
Pelas mãos do tempo,
Exausto das caminhadas insólitas
Sem acordes das estrelas
Deitando luzes no meu sonhar!


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 28/12/2008
Código do Texto: T1356128

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

'PRA TODOS HOMENS DE DEUS'



Há mais de uma corrente
Sobre um Ser Onipotente
Que criou a nossa gente
Certa versão discordante
Diz que o homem fez seu “deus”
E veio luta inclemente
Entre crentes e ateus
Ó Deus de todos os homens
Que venha a paz em teu nome
Pra todo homem de Deus.

Walter Dimenstein
12-12-2002

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

‘AOS QUE ESTÃO NA SAUDADE’



Rogo aos céus com convicção
Um pouco da santa luz
Aos que estão na escuridão
Harmonia aos tristonhos
Pra colorir os seus sonhos
Sorrisos abençoados
Aos lábios amargurados
Peço por fim com humildade
Misericórdia e piedade
Aos que estão na saudade.

Walter Dimenstein
26-10-2002

'Poema de Natal'



Para isso somos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos –
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos –
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai –
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso somos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte –
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte apenas
Nascemos, imensamente.


Vinícius de Moraes

domingo, 21 de dezembro de 2008

'Enfim, será Natal...'



Se o pão nosso for fato consumado
e todo cidadão, bem empregado,
já não temer a vinda do futuro.

Quando o nascer de mais uma criança
for muito além da gota de esperança
de que, todos os dias, Deus dará.

E o aconchego em firme alvenaria
for casa do José e da Maria...
Não pode haver melhor... Melhor, não há!

Educação com cara de verdade,
saúde, de primeira qualidade,
viver longe de grades, cerca ou muro...

Políticos, com ética e moral,
não mais desigualdade social...
Jamais racismo ou discriminação.

A Pátria brasileira, soberana...
Louvor somente ao Deus que agrega e irmana...
Enfim, será Natal... Somente então!


Patrícia Neme

'Caminhos de Luz!'



Talvez em outras histórias
Eu tenha sido uma canção consumida
Na voz que me foi oferecida
Ou na emoção que foi sentida.
No caminho nebuloso
Fui o sol da tua alma
Que festejou tua chegada
Numa iluminada melodia.
Se fui caminho de luz
Ocultei a essência da minha dor,
Do meu silêncio declarei paixão
No pensamento, a criação
No canto,
Uma oração!

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 19/12/2008
Código do Texto: T1344635

'AS SEMENTES DA ESPERANÇA'



Permissão para poder
Olhar nos olhos pra ver
Doar amor em cada dia
Nunca adiar as alegrias
Perdoar pra ser perdoado
Querer bem e ser amado
Orar pra agradecer
E não simplesmente querer
Plantar em cada criança
As sementes da esperança.

Walter Dimenstein
14-08-2002

'Janelas da Vida!'



Abro a janela docemente
E deixo entrar a saudade
Aguda e fria.
Minha natureza se alimenta
De uma aurora morta,
Protegida pela delicadeza
Dos meus versos.
Na benevolência das palavras,
Visto-me de escudeira
Blindando os desejos da razão divina.
Desperto o espírito liberto
Seguindo a cadência da poesia
Arregimento o dialeto
Dos corações que pulsam
E no balé da vida,
Na pressa de tudo alcançar,
Detenho a tua imagem
Falseada no mundo do sonhar!


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 19/12/2008
Código do Texto: T1344636

'Quietude'



Ah! Essa hora do dia!
O sol nascendo,
A caneca de café na mão,
O frio da terra
Na planta do pé!

É como se na suave luz
Do dia menino
Eu fosse a única criatura
respirando sobre a terra!

E o silêncio!
Ah! Essa quietude bendita!
Nem os grilos acordaram ainda!
Sequer o vento sussurra...
O silêncio se faz macio.
Sou só eu,
E Deus!

Lenise Marques
(e Jean Charles Cazin)

'O Tempo da Paixão'



Quando em silêncio visto a fantasia
de um sonho amarelado, perco a hora
do trem fantasma, a rima sangra e chora
deixando o frio, as tumbas e a fobia!

Velórios não me encantam, mas lá fora
a procissão das quadras faz folia
e bailando em meus palcos, sentencia:
__O tempo da paixão é aqui e agora!

Ah!... Meu amigo, não percas a aurora,
pois as canções nas mãos dessa Senhora
do tempo, são fiéis à sinfonia...

Veste o momento e o traje que apavora,
deixa o medo de lado e a poesia,
cumpre, antes que se apague a luz do dia.

© Nathan de Castro

'ESBOÇO '



É sempre em mim a púrpura,
Do vinho que quisera ter tomado,
da vida que pudera ter vivido.
Divagam em mim ébrios
Da grande paixão não concedida.

A face inglória de um anjo amorfo
bebe do instante
Em que exalei vida,
não arte.

Se a dor antiga
Tem a prerrogativa
De a cada golpe
Se recompor, se imitar,
Há ainda aberto ao meu furor
O eco renascido de minha mágoa.

Mas se amar vem do ensaio
Vem do sal,
Resta a mim
A face em branco,
e o árduo ofício de esculpir
as dunas.

(Fernando Campanella)

"Se Me Pergunta"...



Quem sou, talvez eu possa responder...
Ou talvez nem eu queira saber...
Hoje sou a água empossada da chuva,
Aquela mesma que ontem regou a uva,
Sou o espinho da roseira, a flor da quaresmeira,
Do buraco sou quase a beira,
Sou alguém composto de pão e vinho,
Mas que mesmo assim precisa de carinho,
Sou o som que escutas nas noites, indefinido,
Já não passo mais de um ruído, perdido,
Em cada palmo meu trago marcas da vida,
E olha! Nem todas são de feridas,
Algumas são de felicidade plena,
Algumas um pouco mais pequenas,
Mas por certo há mais para sorrir que pra chorar,
Há menos para esquecer e muito para contar,
Mesmo porque sou o que plantei,
E não sou perfeito eu sei,
Mas sou sem preocupação,
Pois vivo de coração!

-SANTAROZA-

'Para Mario Quintana,agradecendo-lhe as “Canções”.



O Natal foi diferente
porque o Menino Jesus
disse à Senhora Sant’Anna:
“Vovozinha, eu já não gosto
das canções de antigamente;
Cante as de Mario Quintana!”

Viram-se então os anjinhos
de livro aberto nas mãos
deslizar no ouro dos ares.
Estudaram novas solfas
pelos celestes caminhos
— e cantaram quintanares.

Deixaram cair os versos
que já sabiam de cor
pelos telhados das casas.
E o milagre das cantigas
foi que até os seres perversos
amanheceram com asas.

Cecília Meireles

Pensamentos




Mais teus que meus.
Rotulados
Com teu nome
Teu jeito
Teu carinho...

Cada detalhe de ti...
Do que vem de ti...

Pensamentos que te
Buscam em qualquer
Lugar...


(Cida Luz)

'Vôo molhado'



Acordo e vejo o céu pausado,
azul como meus olhos encarnados.

Vôo, então, repousando as asas
cansadas dos ventos e das estradas.

Nada me proíbe os sonhos, eu sei,
antes tudo de mim os proíba
e rente pois à terra ressequida,
não vôo nos rasantes que eu mesmo o sou.

Há, sim, fortes ventos
que como tempestades sopram em minhas asas.
e ventaneando é o meu avesso que eu vejo
nas asas tontas do mundo
onde o meu corpo leve e desnudo
plaina sem querer voar.
Então resolvo virar vento,
soprar cuidadoso sobre o corpo do meu tempo,
esperando o futuro para revoar.

Hei algum dia de tocar a lua
e acariciar o sol do céu admirado,
mas de repente chove e eu fico molhado,
as asas cedem,
o olhar molha-se de choro,
eu não mais vôo
e a asa e o anjo vão embora.


Paulino Vergetti Neto
Publicado no Recanto das Letras em 216510/12/2008
Código do Texto:1346510


Falei à flor
De Sua beleza
E quis saber o mistério
Do seu perfume...
Uma pétala
Ela abriu sorrindo
Como quem diz:
Ame o jardim
Que te rodeia
O sol que te ilumina
Faça o outro feliz
E deixe que seu perfume
Contamine...
Esqueça os espinhos
Que estiverem por perto
Receba seus amigos
Como recebo
Os passarinhos
Ame-se!
Faça de sua alma
Pétalas de carinho.

(Sirlei L. Passolongo)

'ANJO '


(Paint by Marina Pietro)

Um anjo desceu à terra,
abscesso de dores renhidas,
pálido anjo poluto
em lusco-fusco nutrido,
cometa de um céu ausente,
carente feito a loucura fria.

(Se eu voasse nestas asas
pleno não sei de que plenitudes
e em algum presépio aterrissasse
talvez uma fenda se abrisse
para um Deus infante buscado.)

Baixou à terra um anjo sujo,
sintético da agonia,
anjo não denominado
desfeito em penas,
em fiapos de graça esgarçado.

Porém, a terra azulou,
casebres iluminaram,
a mãe colocou lenha no fogo,
o pai trouxe a carne mais tenra
e o cheiro de carne e vinho
tornou a noite especial.

Crianças, anjos mais definidos,
espiaram ainda em frestas
para reluzentes mimos de natal.
E o pacto de corações ilhados
firmou-se então em alívios.

Anjo roto,
neurótico,
anjos todas as dores,
porém ainda anjo.

Gabriel arcanjo reempossado,
ainda infinitamente alegria,
belo anjo revisitado.

(Fernando Campanella, natal de 1986)

'Vastidão'



Tenho fome de vastidão
E sede de céu aberto
Sinto o vento na pele
E a terra sob os pés nus
E o luar escorrendo pelos cabelos
Dentro do peito abre as assas
um pássaro febril
Que me rasga a pele com seu bico de fogo
E lá se foi... soltou-se num vôo
Lá em cima ele paira
Na frescura das madrugadas
Na doçura dos poentes
Pela manhã ele volta
E me joga na relva orvalhada
E durmo, enfim, dessa fome saciada.

Flor

"RESUMO"



Tudo, tudo, o que nos sempre vivemos,
Pelos rumos que tomaram nossas vidas
Na insônia das noites mal dormidas
Na quebra das promessas que fizemos.

No rosto dos amigos que perdemos,
Nas canções que ouvimos repetidas
No gosto das saudades escondidas
De amores dos quais nunca esquecemos.

Tudo isso, faz parte de nossa história.
História que escrevemos dia a dia,
Editada em um livro na memória

E a minha, pra lhe ser sincero e franco,
Dá- me um aperto, uma angústia, uma agonia
Quando olho tantas páginas em branco.


-JENÁRIO DE FÁTIMA-

'Pequena lágrima atenta'



Esse rosto na sombra, esse olhar na memória,
o tempo do silêncio, os braços da esperança,
uma rosa indefesa - e esse vento inimigo.

Ficou somente a luz do constante deserto,
e o sobrenatural reino obscuro do vento,
com seu povo indistinto a carpir noutro idioma.

Idéias de saudade em tal paisagem morrem.
Que arroio pode haver, de contínuos espelhos,
a repetir o que é deixado? Por devota,

solidária ternura e aceitação da angústia?
- Ah, deixarei meu nome entre as antigas mortes.
Só nessas mortes pode estar meu nome escrito.


Cecilia Meireles

'Quero mais...'


Tem gente
Que chega de mansinho
E vem fazendo casa
Na vida da gente...
Vem como quem nada quer
E se aconchega
Feito brisa leve
Até que a gente pede
Pra não mais partir
Pois se for embora
Não vamos mais sorrir...
Tem gente tão especial
Que nos dá paz
Apenas num olhar
E diz num simples gesto
Que veio pra ficar.
Tem gente
que feito tatuagem
gruda em nosso peito
Não vê nossos defeitos
Nos faz especiais...
É gente desse jeito
Que quero sempre mais.

(Sirlei L. Passolongo)

'Delimitação'


(Tela de Clarice Lispector)

guardei minha loucura
numa gaveta de um
móvel esquecido
num lugar qualquer
da casa.
fiz questão de esquecê-la
melhor pra mim...
melhor pra todos...
prefiro minha lucidez
ainda que teime ser
perigosa!

Sandra Almeida

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Raras Harmonias!



Acordo para o farol da ventania
Visto as cores da alegria
Ando pelas águas límpidas
Das correntezas com sinfonias raras
Limpo a tristeza que me corrói
Levando o arcaico lodo
Encontrar uma nova sina.
Frutifico meus sonhos em novos enleios
E ao som da voz sem palavras
Ouço o ar e mar em harmonia
Fazendo uma melodia iluminada
Com notas dos mais sinceros sorrisos!

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 16/12/2008
Código do Texto: T1337941

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

'VÉU - DIVISOR DO TEMPO'



Pus-me a passear no bosque
Sol_rindo pássaros em festa cantando
Sentei numa pedra olhando em derredor
Contemplei a natureza enamorando

Aquilatei retratos do passado
Quadros da vida pintados como a pincel
De momentos lindos guardados

Naveguei no horizonte da vida
Feliz entre flores no recanto
Revivi telas nas paredes d_alma
Ditosa e não sabia o quanto

Lágrimas benditas verteram dos olhos
E nas curvas da memória
Vi que no tempo não fiquei parada
Que existir não é só vida é historia

Saí dalí o sol já poente
Agradecendo a natureza bela acolhida
Sobracei no caminho flores silvestres
Revendo a vida... Que vida linda!

Caminhando na relva
Entoei suave canção ao vento
Senti paz naquele remanso
Vendo estrelas reluzirem no firmamento

Enlevada com a paz sentida
Corri vagando ao léu
Comparei passado presente imaginei futuro
Horas doiradas... Rasgou o véu

Véu...
Divisor do tempo!
Historia.


Rô Lopes

'Aconteceste! '



Aconteceste na fronteira
Do que era possível
Sem hora marcada
Como acontecem surpresas delicadas
Buscaste-me quando sonhaste
Um pequeno lugar
Nomeado “nós dois”.
Aconteceste nas horas de ventania
Emprestadas do distante
Que me dilaceravam.
E como a primavera
Chegaste forte, colorido
E com revoares.
Aproximaste nossas fronteiras,
Desenhaste em mim, matizes de ti
Juntaste pedaços da vida
Deixados nos caminhos que percorri
E nessa metamorfose delirante
Partiste num reflexo
Para um mundo sem fim!

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 18/12/2008
Código do Texto: T1341666

'CAMPO DE MEDITAÇÃO'



As estradas que sempre iam,
continuam indo, a despeito de mim
que por hora estou voltando...

Mas quando não houver
mais estradas para quem vai,
suave será a carona dos riachos
que são estradas feitas de lágrimas
de saudade dos amores viajados.

Continuarão, como os dias e as noites,
na direção do reino do nunca mais...
E como as rosas num leito de orvalho,
é possível que eu me reencontre comigo
em qualquer curva do crepúsculo
para o vasto espanto das manhãs
que terei deixado para trás...

E não posso evitar que seja assim:
as estradas levando a memória
do quanto eu ando de rosas
nas veredas do meu jardim...


Afonso Estebanez
(Poema dedicado à notável amiga
Kátia Caetano – “Kátia Pérola”)

'TORMENTO'



Eu me pergunto pelo teu caminho,
pelas veredas desse teu viver;
porque eu quisera dar-te meu carinho
e ver teu rosto a cada amanhecer.

Eu te procuro... Mas não te adivinho,
onde meu toque possa te envolver...
E me pergunto se vives sozinho...
E se me guardas junto ao teu querer.

Eu te procuro, dia ou madrugada,
meu pensamento voa, sem parada...
Quem é aquela que te faz feliz?

Quem te resguarda, quando tens tristeza,
quem te acarinha, quando há incerteza...
Quem te aconchega, como eu sempre quis?

- Patricia Neme -

'Sou Cigana!'



Desafio meu destino
Faço a magia acontecer
Guardo comigo mistérios
Junto aos segredos teus.
Sou anjo alado
Irradio tua sensibilidade
Ao som da música encantada.
Sou rebelde
E me alterno nas rimas com reflexo
Sem limites
Transbordo-me em excesso
E nas malhas do ciúme, desfaleço.
Sou cigana
Danço a vida nas corredeiras sem fim
Busco harmonia em cada querer
E na teia da vida
Prendo-te num canto de sereia
E te torno imortal sim!

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 18/12/2008
Código do Texto: T1341668

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

'Compreensão!'



Desejos terminam
Sonhos se desfazem
Paixões são esquecidas
As direções mudam
A esperança termina
Verdades são amordaçadas
E a união corrompida.
Tudo que seria destino
Passou a ser imperfeito
E os caminhos que já estavam traçados
Foram exterminados
As dúvidas terminam e eu fraquejo
Pensando que todo um passado havia sido soterrado
Mas a areia se move e as feridas se abrem
Não tendo espaço para o depois,
Apenas para o que veio antes
E todo e esforço foi inútil
Porque a única coisa que existe,
São os outros sentimentos da vida
Um talento inexistente
As tolices confirmadas
Verdades que acreditei
E o descaso perecível!


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 27/10/08
Código do Texto: T1250278

'Queda dos sentimentos'




Sou
um sábio conselho que tudo pode
e um fidalgo desejo que tudo engole
e um velho algo mais.

Tenho uma fidalga sensação de amor nutrida
e uma velha paixão quase escondida
inda esperando nascer
e grossas muralhas vencer
como um vinho que tragado, mansamente embriaga.

Penso docemente enquanto existo
e se sou assim, nisso acredito
e ando com as pernas que me empresta
o mundo em que habito.

Resta-me olhar o meu olhar
e dizer-me que para eu ficar,
deixo-me ido
desassistido e pobre além de tudo.


Paulino Vergetti Neto
Publicado no Recanto das Letras em 16/12/2008
Código do Texto:1338009

'POETAS...'


(Andorinha do mar)

Uma única andorinha traçando no céu azul
o seu plano de vôo é um acaso da estação.
Feliz do meu inverno que do outono acolhe
rosas raras de verão tiradas da primavera.

E esse vôo de águias é o parto da espera
e o lodo sob as águas dos lírios do charco.
Nos limites do atleta de tudo sou o pouco,
rescaldo de festa, o que me resta é louco.

Digam que meu cantar remoto é um porto
na sombra da mortalha desse antigo cais.
E que o maior poeta é algum poeta morto
que vira só uma andorinha... E nada mais.

Afonso Estebanez
(Dedicado ao meu sereno e gentil amigo
Luiz Fernando Ribeiro)

'Réstia de luz!'



És uma réstia de luz
Que o mundo abriga
Correndo pela madrugada
Como estrela infinita.
Te perco no começo
Do meu caminhar
Sem alimentar temores
Seguindo entre pedras
No teu encalço.
Minha alma fragmenta-se cansada
Mas teu amor a reconstrói
E detenho-me diante da tua miragem
Constelada a dançar.
Não te toco!
Mutilo-me a te olhar
Acabando só por te acenar!

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 16/12/2008
Código do Texto: T1337933

'Soneto da Saudade'



O céu desperta triste, em tom cinzento,
qual lhe fora penoso um novo dia;
aos poucos, verte, em gotas, seu lamento...
Um pranto ensimesmado, de agonia.

Um rouco trovejar, pesado, lento,
parece suplicar por alforria,
num rogo já exangue, sem alento...
A chuva... O cinza... A dor... A nostalgia...

O céu despertou triste... O céu sou eu,
perdida num sonhar que feneceu,
sou prisioneira à espera de mercê.

Sonhando conquistar a liberdade
desta prisão, que existe na saudade...
Saudade, tanta, tanta... De você!

Patrícia Neme

'Jornada de Luz!'



Comecei minha jornada
Pretendendo que a vida
Fosse recantos de bosques
Amenos e doces.
Chegaste ao sol poente
Entre musicas e luzes
Trazendo nas mãos
As mais belas rosas do entardecer.
Recebi teu amor ao vento
Aconcheguei-o no sopro da vida,
Emprestei os aromas guardados
Vaguei pelos teus sonhos
Nas viagens de carinho.
E na saudade sem corpo
Partiste como um rio
Que passou além do tempo
Para lugares sem mácula
Purificado pelo perfume do amor!

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 15/12/2008
Código do Texto: T1336140

'Anjo Perdido!'



Onde andará o anjo
Que partiu em busca
De uma estrela
Deixando sua luz
No tempo da eternidade?
Ao perdê-lo
Renasci sem ter morrido
E fiz da sua ausência
Um rio avesso
Inexistente!
Andei por caminhos estranhos
Assustada e incerta
Tornei-me amor e saudade
E ao perder seu rosto no infinito
Brindei na taça das lagrimas
A dor diante do mundo
Eternizando seu rastro
Num silêncio ensurdecedor


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 15/12/2008
Código do Texto: T1336142

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

'Quando!'



Quando tudo escureceu, e os ventos fortes
sopraram,
quando a chuva despencou e os pingos
grossos rolaram,
quando eu acendi a vela e vi a paz iluminada,
compreendi que nada seria igual
depois de ti,
pois enfeitaste a vida
como uma alvorada,
como um raio de sol numa manhã sem nuvens,
anunciando a alegria tão sonhada.

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 26/10/08
Código do Texto: T1249837

domingo, 14 de dezembro de 2008

'E SOZINHO MORREMOS NÓS'


(Taj Mahal, considerado o maior símbolo do amor)

No início antes da ida
Diz o poeta a viva voz
Devemos quebrar a noz
Pois nos bordados da vida
Se o nó não segura a linha
O entrançado desalinha
Mas nada muda o destino
Neste mundo lindo e atroz
Cada qual nasce sozinho
E sozinho morremos nós.

Walter Dimenstein
27-06-2002

'Último Soneto'



Quero o manto da noite a velar meu cabelo,
do luar, a centelha, mostrando-me o norte.
Às estrelas suplico, o mais profundo apelo
ao Senhor do existir: que me conceda a morte.

Quero ondas de brisa a ninar-me, em desvelo,
quando o corpo, exaurido, perder o seu porte;
quero o abraço do fogo ao cruel pesadelo
de uma vida sofrida, madrasta, sem sorte.

Que ninguém me lamente, sequer mandem flores
- não suporto o fingir, travestido de cores - ...
Minhas cinzas? Libertas ao vento, mais nada.

Nada mais?... Quero, ainda, a benesse do olvido,
não lembrar deste mundo, infiel, desabrido,
onde o amor tem na dor sua rima adequada.


Patrícia Neme

'Poema? Teorema?'




- Ao poeta Afonso Estebanez -


Não sei dizer do lado mais bonito...
Sequer bem deslindar um teorema;
mas sei, nasce de um ponto o que é infinito
e que o amor... É sempre um gran dilema.

Amar é entregar-se ao pleno rito
de insanidade da paixão extrema.
Por ela, o peito jaz em paz, contrito.
Por ela, nos trucida a dor suprema.

É quando vem, de manso, a poesia,
despida de conceito ou geometria,
e nos conduz ao chão da liberdade.

E o verso nasce alheio ao desencanto,
a rima torna o verbo suave canto...
E quem verseja adentra a eternidade!


Patrícia Neme

'POEMA & TEOREMA'


(Galatea de Esferas- Salvador Dali)

Qual dos lados
de uma esfera
é mais bonito?

Qual o ponto
de um círculo
que é infinito?

Seria o cubo
numa esfera
a geometria?

Toda palavra
é uma esfera
ou é poesia?

E o fonema,
é geometria
ou teorema?

!As palavras
são do estilo
o mais hábil
num poema.

Afonso Estebanez
(Poema dedicado a escritora Patrícia Neme)

'Canção a Minas!'


(Entre Pouso Alegre e Santa Rita do Sapucaí,
sul de MG, Fotografia de Fernando Campanella)



Exalto a terra amada
Nas rimas da sua historia
Fazendo das métricas
O sabor das iguarias
E dos deleites das Minas
O mais belo dos horizontes.
Tal um trovador
Canto o nascer das cachoeiras
Que banham suas montanhas
E no dobrar de muitos sinos
Ouço o clamor de seus heróis.
Nas ladeiras encantadas
Descem a “liberdade ainda que tardia”
De um povo guerreiro
Que não se esquece jamais!

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 14/12/2008
Código do Texto: T1334691

'Meu Voar!'



Quero saltar ao vento
Tal um pássaro errante
Ver estrelas brilhantes
Deixando o tempo livre me levar
Meus pés tímidos sustentam-me
E meus braços estendidos no ar
Abraçam a liberdade
Nas asas da minha vida
Sem rastros deixar
Entre o céu e o mar!

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 14/12/2008
Código do Texto: T1334692

sábado, 13 de dezembro de 2008

'AO TE LEMBRARES DE MIM...'




Quando te lembrares de mim
não necessitarei da memória
trancada no fundo da gaveta
ou das recordações restadas
na pena separada da caneta.

O ressonho dos teus sonhos
não te lembrará quem fomos
quando te lembrares de mim.

E serei tua manhã de manhã
na soleira de meu doce olhar
para fitar na tua luz ausente
o destino de reviver em mim.

E já terei reescrito a história
de tanto amor não resolvido
nas pétalas das rosas secas
que tu deixaste desfolhadas
na saudade do meu jardim...


Afonso Estebanez
(Dedicado a Maria Eduarda Marques Francisco
minha 500ª amiga adicionada em Dez.13.2008)

'Teus olhos, Meus horizontes!'


(Willem Haenraests)

Busquei-te hoje
Na primeira solidão
Quando andavas distraído
Nos campos das manhãs
Te busquei nos sóis azuis
Do teu olhar
Tal duas estrelas serenas
A brilhar na madrugada,
Alheias a saudade
Que me abatia.
Pousei nos teus ombros
Como a brisa
Abraçando o sonho que criei
Misturando nossos sons
Nossos dons
Nossas vidas!

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 12/12/2008
Código do Texto: T1331346

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

'NÃO VOU DESISTIR DAS ROSAS...'



Faço um poema como meu jardineiro faz a rosa:
porque rosas são rosas, não precisam de nada.

O momento que a vida cria para me contemplar
com restos de esperanças de amor sem limites,
levo-os na alma foragida ao mais além de mim.

Despejo-o no ouvido de Deus meu hospedeiro.
Deixo-me desatinar pelo meu louco de aluguel,
implorando para que ao menos o último bafejo
da brisa passageira seja um beijo de presente
para as rosas do meu jardim...


Afonso Estebanez
(Presente de Natal/2008 a todas as almas
femininas que durante este ano honraram
como “deusas” o solo virtual desta página)

'Ilusões Infinitas!'



Percorri estradas
Onde horizontes avermelhados
Fizeram-me caminhar
A um expoente diferente
De todas as emoções já sentidas.
Minhas fantasias impressas
Na cor da vida,
Pulsam em cada verso
Fazendo-me acreditar
Que as ilusões infinitas
Poderão se tornar amanhã
A mais linda realidade!

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 10/12/2008
Código do Texto: T1328910

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

'FELIZ ANO NOVO'


(Auld Lang Syne" is a song by Robert Burns)
(1759--1796)


Ano novo deve ser apenas um novo ano
daquele velho motivo que todos os anos
faz a gente pensar que este ano vai ser
feliz... Mas ainda é o velho tema...

Apenas sensação de permitir que sonhos
mortos enterrem os seus sonhos mortos,
enquanto a gente desperta antigas rosas
das que ainda permanecem adormecidas
nas páginas jamais abertas do jardim...

E nada de brincar de novos sofrimentos.
Ainda há muita amargura que necessita
de um funeral compatível com a liturgia
da cura pelos perdões não concedidos...

Então, depois de removida tanta pedra
desses túmulos todo ano reinventados,
a gente deseja apenas que o ano velho
acompanhe este ano novo no momento
de entrar pelas soleiras do coração...

Sementes de amor numa das mãos
e uma flor despojada dos espinhos
na outra mão...

A. Estebanez

'Canto a Vida!'



Canto as manhãs do mundo
Que se anunciam lentas
Recostadas no horizonte
Ausentes como eu.
Por ser filha dos prados,
Venho de jardins inventados pela bruma
Tal musica que envenena as madrugadas
Sou o murmúrio do silêncio
Atravessando o peito ressequido
Purificando-me no bailado das cores
Que rasgam a dor
De um céu cor de chumbo!


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 27/12/2008
Código do Texto: T1354700

'Confidências!'



Troco confidências com o mar
Reclamando meus dissabores,
Misturando lágrimas com as águas
E gargalhando com as ondas
Que se quebram na minha alma.
O cansaço atordoa-me a coragem, a sensatez
E mascaro o tempo que passa
Sentada no crepúsculo da vida
Onde em tudo
Existe apenas o nada!


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 27/12/2008
Código do Texto: T1354699

'Perdas!'




Perdi a respiração do tempo
Ao se propagar vestida de sons;
Ouvi sozinha o adormecer
Da minha voz
Sem reclamar o que queria
Meus caminhos sumiram
Nos passos do inverno
Levando cada essência
Dos meus híbridos costumes.
Perdi a capacidade do sonhar
Esculpindo teu rosto em cada espera
E meu caminhar completado por ti
Fez da solidão
Meu tempo sem memória!

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 28/12/2008
Código do Texto: T1356130

'SOLIDARIEDADE'


(The wall of International Peace - Arbat Quarter - Moscow)
(Photo by Jeff Bauche)



Vamos, dêem as mãos.

Porquê esse ar de eterna desconfiança?
esse medo? essa raiva?
Porquê essa imensa barreira
entre o Eu e o Nós na natural conjugação do verbo ser?

Vamos, dêem as mãos.

Para quê esses bons-dias, boas-noites,
se é um grunhido apenas e não uma saudação?
Para quê esse sorriso
se é um simples contrair da pele e nada mais?

Vamos, dêem as mãos.

Já que a nossa amargura é a mesma amargura,
já que a miséria, para nós, tem as mesmas sete letras,
já que o sangrar de nossos corpos é o vergão da mesma chicotada,
fiquemos juntos,
sejamos juntos.
Porquê esse ar de desconfiança?
esse medo? essa raiva?

Vamos, dêem as mãos.

Mário Dionísio

'Chegada e Partida!'



Chegaste como o vento
Abrindo sorrisos da madrugada
Mas só o tempo suficiente
Para iludir a frieza
Arquitetônica de um cais.
Partiste no azul oscilante
Do mar da vida
Cercado por litorais,
Onde ondas sempre quebram-se
Junto às margens do meu esperar.
Voltarás nos raios das manhãs
Pelas mãos do tempo,
Exausto das caminhadas insólitas
Sem acordes das estrelas
Deitando luzes no meu sonhar!


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 28/12/2008
Código do Texto: T1356128

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

'PRA TODOS HOMENS DE DEUS'



Há mais de uma corrente
Sobre um Ser Onipotente
Que criou a nossa gente
Certa versão discordante
Diz que o homem fez seu “deus”
E veio luta inclemente
Entre crentes e ateus
Ó Deus de todos os homens
Que venha a paz em teu nome
Pra todo homem de Deus.

Walter Dimenstein
12-12-2002

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

‘AOS QUE ESTÃO NA SAUDADE’



Rogo aos céus com convicção
Um pouco da santa luz
Aos que estão na escuridão
Harmonia aos tristonhos
Pra colorir os seus sonhos
Sorrisos abençoados
Aos lábios amargurados
Peço por fim com humildade
Misericórdia e piedade
Aos que estão na saudade.

Walter Dimenstein
26-10-2002

'Poema de Natal'



Para isso somos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos –
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos –
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai –
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso somos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte –
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte apenas
Nascemos, imensamente.


Vinícius de Moraes

domingo, 21 de dezembro de 2008

'Enfim, será Natal...'



Se o pão nosso for fato consumado
e todo cidadão, bem empregado,
já não temer a vinda do futuro.

Quando o nascer de mais uma criança
for muito além da gota de esperança
de que, todos os dias, Deus dará.

E o aconchego em firme alvenaria
for casa do José e da Maria...
Não pode haver melhor... Melhor, não há!

Educação com cara de verdade,
saúde, de primeira qualidade,
viver longe de grades, cerca ou muro...

Políticos, com ética e moral,
não mais desigualdade social...
Jamais racismo ou discriminação.

A Pátria brasileira, soberana...
Louvor somente ao Deus que agrega e irmana...
Enfim, será Natal... Somente então!


Patrícia Neme

'Caminhos de Luz!'



Talvez em outras histórias
Eu tenha sido uma canção consumida
Na voz que me foi oferecida
Ou na emoção que foi sentida.
No caminho nebuloso
Fui o sol da tua alma
Que festejou tua chegada
Numa iluminada melodia.
Se fui caminho de luz
Ocultei a essência da minha dor,
Do meu silêncio declarei paixão
No pensamento, a criação
No canto,
Uma oração!

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 19/12/2008
Código do Texto: T1344635

'AS SEMENTES DA ESPERANÇA'



Permissão para poder
Olhar nos olhos pra ver
Doar amor em cada dia
Nunca adiar as alegrias
Perdoar pra ser perdoado
Querer bem e ser amado
Orar pra agradecer
E não simplesmente querer
Plantar em cada criança
As sementes da esperança.

Walter Dimenstein
14-08-2002

'Janelas da Vida!'



Abro a janela docemente
E deixo entrar a saudade
Aguda e fria.
Minha natureza se alimenta
De uma aurora morta,
Protegida pela delicadeza
Dos meus versos.
Na benevolência das palavras,
Visto-me de escudeira
Blindando os desejos da razão divina.
Desperto o espírito liberto
Seguindo a cadência da poesia
Arregimento o dialeto
Dos corações que pulsam
E no balé da vida,
Na pressa de tudo alcançar,
Detenho a tua imagem
Falseada no mundo do sonhar!


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 19/12/2008
Código do Texto: T1344636

'Quietude'



Ah! Essa hora do dia!
O sol nascendo,
A caneca de café na mão,
O frio da terra
Na planta do pé!

É como se na suave luz
Do dia menino
Eu fosse a única criatura
respirando sobre a terra!

E o silêncio!
Ah! Essa quietude bendita!
Nem os grilos acordaram ainda!
Sequer o vento sussurra...
O silêncio se faz macio.
Sou só eu,
E Deus!

Lenise Marques
(e Jean Charles Cazin)

'O Tempo da Paixão'



Quando em silêncio visto a fantasia
de um sonho amarelado, perco a hora
do trem fantasma, a rima sangra e chora
deixando o frio, as tumbas e a fobia!

Velórios não me encantam, mas lá fora
a procissão das quadras faz folia
e bailando em meus palcos, sentencia:
__O tempo da paixão é aqui e agora!

Ah!... Meu amigo, não percas a aurora,
pois as canções nas mãos dessa Senhora
do tempo, são fiéis à sinfonia...

Veste o momento e o traje que apavora,
deixa o medo de lado e a poesia,
cumpre, antes que se apague a luz do dia.

© Nathan de Castro

'ESBOÇO '



É sempre em mim a púrpura,
Do vinho que quisera ter tomado,
da vida que pudera ter vivido.
Divagam em mim ébrios
Da grande paixão não concedida.

A face inglória de um anjo amorfo
bebe do instante
Em que exalei vida,
não arte.

Se a dor antiga
Tem a prerrogativa
De a cada golpe
Se recompor, se imitar,
Há ainda aberto ao meu furor
O eco renascido de minha mágoa.

Mas se amar vem do ensaio
Vem do sal,
Resta a mim
A face em branco,
e o árduo ofício de esculpir
as dunas.

(Fernando Campanella)

"Se Me Pergunta"...



Quem sou, talvez eu possa responder...
Ou talvez nem eu queira saber...
Hoje sou a água empossada da chuva,
Aquela mesma que ontem regou a uva,
Sou o espinho da roseira, a flor da quaresmeira,
Do buraco sou quase a beira,
Sou alguém composto de pão e vinho,
Mas que mesmo assim precisa de carinho,
Sou o som que escutas nas noites, indefinido,
Já não passo mais de um ruído, perdido,
Em cada palmo meu trago marcas da vida,
E olha! Nem todas são de feridas,
Algumas são de felicidade plena,
Algumas um pouco mais pequenas,
Mas por certo há mais para sorrir que pra chorar,
Há menos para esquecer e muito para contar,
Mesmo porque sou o que plantei,
E não sou perfeito eu sei,
Mas sou sem preocupação,
Pois vivo de coração!

-SANTAROZA-

'Para Mario Quintana,agradecendo-lhe as “Canções”.



O Natal foi diferente
porque o Menino Jesus
disse à Senhora Sant’Anna:
“Vovozinha, eu já não gosto
das canções de antigamente;
Cante as de Mario Quintana!”

Viram-se então os anjinhos
de livro aberto nas mãos
deslizar no ouro dos ares.
Estudaram novas solfas
pelos celestes caminhos
— e cantaram quintanares.

Deixaram cair os versos
que já sabiam de cor
pelos telhados das casas.
E o milagre das cantigas
foi que até os seres perversos
amanheceram com asas.

Cecília Meireles

Pensamentos




Mais teus que meus.
Rotulados
Com teu nome
Teu jeito
Teu carinho...

Cada detalhe de ti...
Do que vem de ti...

Pensamentos que te
Buscam em qualquer
Lugar...


(Cida Luz)

'Vôo molhado'



Acordo e vejo o céu pausado,
azul como meus olhos encarnados.

Vôo, então, repousando as asas
cansadas dos ventos e das estradas.

Nada me proíbe os sonhos, eu sei,
antes tudo de mim os proíba
e rente pois à terra ressequida,
não vôo nos rasantes que eu mesmo o sou.

Há, sim, fortes ventos
que como tempestades sopram em minhas asas.
e ventaneando é o meu avesso que eu vejo
nas asas tontas do mundo
onde o meu corpo leve e desnudo
plaina sem querer voar.
Então resolvo virar vento,
soprar cuidadoso sobre o corpo do meu tempo,
esperando o futuro para revoar.

Hei algum dia de tocar a lua
e acariciar o sol do céu admirado,
mas de repente chove e eu fico molhado,
as asas cedem,
o olhar molha-se de choro,
eu não mais vôo
e a asa e o anjo vão embora.


Paulino Vergetti Neto
Publicado no Recanto das Letras em 216510/12/2008
Código do Texto:1346510


Falei à flor
De Sua beleza
E quis saber o mistério
Do seu perfume...
Uma pétala
Ela abriu sorrindo
Como quem diz:
Ame o jardim
Que te rodeia
O sol que te ilumina
Faça o outro feliz
E deixe que seu perfume
Contamine...
Esqueça os espinhos
Que estiverem por perto
Receba seus amigos
Como recebo
Os passarinhos
Ame-se!
Faça de sua alma
Pétalas de carinho.

(Sirlei L. Passolongo)

'ANJO '


(Paint by Marina Pietro)

Um anjo desceu à terra,
abscesso de dores renhidas,
pálido anjo poluto
em lusco-fusco nutrido,
cometa de um céu ausente,
carente feito a loucura fria.

(Se eu voasse nestas asas
pleno não sei de que plenitudes
e em algum presépio aterrissasse
talvez uma fenda se abrisse
para um Deus infante buscado.)

Baixou à terra um anjo sujo,
sintético da agonia,
anjo não denominado
desfeito em penas,
em fiapos de graça esgarçado.

Porém, a terra azulou,
casebres iluminaram,
a mãe colocou lenha no fogo,
o pai trouxe a carne mais tenra
e o cheiro de carne e vinho
tornou a noite especial.

Crianças, anjos mais definidos,
espiaram ainda em frestas
para reluzentes mimos de natal.
E o pacto de corações ilhados
firmou-se então em alívios.

Anjo roto,
neurótico,
anjos todas as dores,
porém ainda anjo.

Gabriel arcanjo reempossado,
ainda infinitamente alegria,
belo anjo revisitado.

(Fernando Campanella, natal de 1986)

'Vastidão'



Tenho fome de vastidão
E sede de céu aberto
Sinto o vento na pele
E a terra sob os pés nus
E o luar escorrendo pelos cabelos
Dentro do peito abre as assas
um pássaro febril
Que me rasga a pele com seu bico de fogo
E lá se foi... soltou-se num vôo
Lá em cima ele paira
Na frescura das madrugadas
Na doçura dos poentes
Pela manhã ele volta
E me joga na relva orvalhada
E durmo, enfim, dessa fome saciada.

Flor

"RESUMO"



Tudo, tudo, o que nos sempre vivemos,
Pelos rumos que tomaram nossas vidas
Na insônia das noites mal dormidas
Na quebra das promessas que fizemos.

No rosto dos amigos que perdemos,
Nas canções que ouvimos repetidas
No gosto das saudades escondidas
De amores dos quais nunca esquecemos.

Tudo isso, faz parte de nossa história.
História que escrevemos dia a dia,
Editada em um livro na memória

E a minha, pra lhe ser sincero e franco,
Dá- me um aperto, uma angústia, uma agonia
Quando olho tantas páginas em branco.


-JENÁRIO DE FÁTIMA-

'Pequena lágrima atenta'



Esse rosto na sombra, esse olhar na memória,
o tempo do silêncio, os braços da esperança,
uma rosa indefesa - e esse vento inimigo.

Ficou somente a luz do constante deserto,
e o sobrenatural reino obscuro do vento,
com seu povo indistinto a carpir noutro idioma.

Idéias de saudade em tal paisagem morrem.
Que arroio pode haver, de contínuos espelhos,
a repetir o que é deixado? Por devota,

solidária ternura e aceitação da angústia?
- Ah, deixarei meu nome entre as antigas mortes.
Só nessas mortes pode estar meu nome escrito.


Cecilia Meireles

'Quero mais...'


Tem gente
Que chega de mansinho
E vem fazendo casa
Na vida da gente...
Vem como quem nada quer
E se aconchega
Feito brisa leve
Até que a gente pede
Pra não mais partir
Pois se for embora
Não vamos mais sorrir...
Tem gente tão especial
Que nos dá paz
Apenas num olhar
E diz num simples gesto
Que veio pra ficar.
Tem gente
que feito tatuagem
gruda em nosso peito
Não vê nossos defeitos
Nos faz especiais...
É gente desse jeito
Que quero sempre mais.

(Sirlei L. Passolongo)

'Delimitação'


(Tela de Clarice Lispector)

guardei minha loucura
numa gaveta de um
móvel esquecido
num lugar qualquer
da casa.
fiz questão de esquecê-la
melhor pra mim...
melhor pra todos...
prefiro minha lucidez
ainda que teime ser
perigosa!

Sandra Almeida

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Raras Harmonias!



Acordo para o farol da ventania
Visto as cores da alegria
Ando pelas águas límpidas
Das correntezas com sinfonias raras
Limpo a tristeza que me corrói
Levando o arcaico lodo
Encontrar uma nova sina.
Frutifico meus sonhos em novos enleios
E ao som da voz sem palavras
Ouço o ar e mar em harmonia
Fazendo uma melodia iluminada
Com notas dos mais sinceros sorrisos!

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 16/12/2008
Código do Texto: T1337941

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

'VÉU - DIVISOR DO TEMPO'



Pus-me a passear no bosque
Sol_rindo pássaros em festa cantando
Sentei numa pedra olhando em derredor
Contemplei a natureza enamorando

Aquilatei retratos do passado
Quadros da vida pintados como a pincel
De momentos lindos guardados

Naveguei no horizonte da vida
Feliz entre flores no recanto
Revivi telas nas paredes d_alma
Ditosa e não sabia o quanto

Lágrimas benditas verteram dos olhos
E nas curvas da memória
Vi que no tempo não fiquei parada
Que existir não é só vida é historia

Saí dalí o sol já poente
Agradecendo a natureza bela acolhida
Sobracei no caminho flores silvestres
Revendo a vida... Que vida linda!

Caminhando na relva
Entoei suave canção ao vento
Senti paz naquele remanso
Vendo estrelas reluzirem no firmamento

Enlevada com a paz sentida
Corri vagando ao léu
Comparei passado presente imaginei futuro
Horas doiradas... Rasgou o véu

Véu...
Divisor do tempo!
Historia.


Rô Lopes

'Aconteceste! '



Aconteceste na fronteira
Do que era possível
Sem hora marcada
Como acontecem surpresas delicadas
Buscaste-me quando sonhaste
Um pequeno lugar
Nomeado “nós dois”.
Aconteceste nas horas de ventania
Emprestadas do distante
Que me dilaceravam.
E como a primavera
Chegaste forte, colorido
E com revoares.
Aproximaste nossas fronteiras,
Desenhaste em mim, matizes de ti
Juntaste pedaços da vida
Deixados nos caminhos que percorri
E nessa metamorfose delirante
Partiste num reflexo
Para um mundo sem fim!

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 18/12/2008
Código do Texto: T1341666

'CAMPO DE MEDITAÇÃO'



As estradas que sempre iam,
continuam indo, a despeito de mim
que por hora estou voltando...

Mas quando não houver
mais estradas para quem vai,
suave será a carona dos riachos
que são estradas feitas de lágrimas
de saudade dos amores viajados.

Continuarão, como os dias e as noites,
na direção do reino do nunca mais...
E como as rosas num leito de orvalho,
é possível que eu me reencontre comigo
em qualquer curva do crepúsculo
para o vasto espanto das manhãs
que terei deixado para trás...

E não posso evitar que seja assim:
as estradas levando a memória
do quanto eu ando de rosas
nas veredas do meu jardim...


Afonso Estebanez
(Poema dedicado à notável amiga
Kátia Caetano – “Kátia Pérola”)

'TORMENTO'



Eu me pergunto pelo teu caminho,
pelas veredas desse teu viver;
porque eu quisera dar-te meu carinho
e ver teu rosto a cada amanhecer.

Eu te procuro... Mas não te adivinho,
onde meu toque possa te envolver...
E me pergunto se vives sozinho...
E se me guardas junto ao teu querer.

Eu te procuro, dia ou madrugada,
meu pensamento voa, sem parada...
Quem é aquela que te faz feliz?

Quem te resguarda, quando tens tristeza,
quem te acarinha, quando há incerteza...
Quem te aconchega, como eu sempre quis?

- Patricia Neme -

'Sou Cigana!'



Desafio meu destino
Faço a magia acontecer
Guardo comigo mistérios
Junto aos segredos teus.
Sou anjo alado
Irradio tua sensibilidade
Ao som da música encantada.
Sou rebelde
E me alterno nas rimas com reflexo
Sem limites
Transbordo-me em excesso
E nas malhas do ciúme, desfaleço.
Sou cigana
Danço a vida nas corredeiras sem fim
Busco harmonia em cada querer
E na teia da vida
Prendo-te num canto de sereia
E te torno imortal sim!

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 18/12/2008
Código do Texto: T1341668

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

'Compreensão!'



Desejos terminam
Sonhos se desfazem
Paixões são esquecidas
As direções mudam
A esperança termina
Verdades são amordaçadas
E a união corrompida.
Tudo que seria destino
Passou a ser imperfeito
E os caminhos que já estavam traçados
Foram exterminados
As dúvidas terminam e eu fraquejo
Pensando que todo um passado havia sido soterrado
Mas a areia se move e as feridas se abrem
Não tendo espaço para o depois,
Apenas para o que veio antes
E todo e esforço foi inútil
Porque a única coisa que existe,
São os outros sentimentos da vida
Um talento inexistente
As tolices confirmadas
Verdades que acreditei
E o descaso perecível!


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 27/10/08
Código do Texto: T1250278

'Queda dos sentimentos'




Sou
um sábio conselho que tudo pode
e um fidalgo desejo que tudo engole
e um velho algo mais.

Tenho uma fidalga sensação de amor nutrida
e uma velha paixão quase escondida
inda esperando nascer
e grossas muralhas vencer
como um vinho que tragado, mansamente embriaga.

Penso docemente enquanto existo
e se sou assim, nisso acredito
e ando com as pernas que me empresta
o mundo em que habito.

Resta-me olhar o meu olhar
e dizer-me que para eu ficar,
deixo-me ido
desassistido e pobre além de tudo.


Paulino Vergetti Neto
Publicado no Recanto das Letras em 16/12/2008
Código do Texto:1338009

'POETAS...'


(Andorinha do mar)

Uma única andorinha traçando no céu azul
o seu plano de vôo é um acaso da estação.
Feliz do meu inverno que do outono acolhe
rosas raras de verão tiradas da primavera.

E esse vôo de águias é o parto da espera
e o lodo sob as águas dos lírios do charco.
Nos limites do atleta de tudo sou o pouco,
rescaldo de festa, o que me resta é louco.

Digam que meu cantar remoto é um porto
na sombra da mortalha desse antigo cais.
E que o maior poeta é algum poeta morto
que vira só uma andorinha... E nada mais.

Afonso Estebanez
(Dedicado ao meu sereno e gentil amigo
Luiz Fernando Ribeiro)

'Réstia de luz!'



És uma réstia de luz
Que o mundo abriga
Correndo pela madrugada
Como estrela infinita.
Te perco no começo
Do meu caminhar
Sem alimentar temores
Seguindo entre pedras
No teu encalço.
Minha alma fragmenta-se cansada
Mas teu amor a reconstrói
E detenho-me diante da tua miragem
Constelada a dançar.
Não te toco!
Mutilo-me a te olhar
Acabando só por te acenar!

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 16/12/2008
Código do Texto: T1337933

'Soneto da Saudade'



O céu desperta triste, em tom cinzento,
qual lhe fora penoso um novo dia;
aos poucos, verte, em gotas, seu lamento...
Um pranto ensimesmado, de agonia.

Um rouco trovejar, pesado, lento,
parece suplicar por alforria,
num rogo já exangue, sem alento...
A chuva... O cinza... A dor... A nostalgia...

O céu despertou triste... O céu sou eu,
perdida num sonhar que feneceu,
sou prisioneira à espera de mercê.

Sonhando conquistar a liberdade
desta prisão, que existe na saudade...
Saudade, tanta, tanta... De você!

Patrícia Neme

'Jornada de Luz!'



Comecei minha jornada
Pretendendo que a vida
Fosse recantos de bosques
Amenos e doces.
Chegaste ao sol poente
Entre musicas e luzes
Trazendo nas mãos
As mais belas rosas do entardecer.
Recebi teu amor ao vento
Aconcheguei-o no sopro da vida,
Emprestei os aromas guardados
Vaguei pelos teus sonhos
Nas viagens de carinho.
E na saudade sem corpo
Partiste como um rio
Que passou além do tempo
Para lugares sem mácula
Purificado pelo perfume do amor!

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 15/12/2008
Código do Texto: T1336140

'Anjo Perdido!'



Onde andará o anjo
Que partiu em busca
De uma estrela
Deixando sua luz
No tempo da eternidade?
Ao perdê-lo
Renasci sem ter morrido
E fiz da sua ausência
Um rio avesso
Inexistente!
Andei por caminhos estranhos
Assustada e incerta
Tornei-me amor e saudade
E ao perder seu rosto no infinito
Brindei na taça das lagrimas
A dor diante do mundo
Eternizando seu rastro
Num silêncio ensurdecedor


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 15/12/2008
Código do Texto: T1336142

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

'Quando!'



Quando tudo escureceu, e os ventos fortes
sopraram,
quando a chuva despencou e os pingos
grossos rolaram,
quando eu acendi a vela e vi a paz iluminada,
compreendi que nada seria igual
depois de ti,
pois enfeitaste a vida
como uma alvorada,
como um raio de sol numa manhã sem nuvens,
anunciando a alegria tão sonhada.

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 26/10/08
Código do Texto: T1249837

domingo, 14 de dezembro de 2008

'E SOZINHO MORREMOS NÓS'


(Taj Mahal, considerado o maior símbolo do amor)

No início antes da ida
Diz o poeta a viva voz
Devemos quebrar a noz
Pois nos bordados da vida
Se o nó não segura a linha
O entrançado desalinha
Mas nada muda o destino
Neste mundo lindo e atroz
Cada qual nasce sozinho
E sozinho morremos nós.

Walter Dimenstein
27-06-2002

'Último Soneto'



Quero o manto da noite a velar meu cabelo,
do luar, a centelha, mostrando-me o norte.
Às estrelas suplico, o mais profundo apelo
ao Senhor do existir: que me conceda a morte.

Quero ondas de brisa a ninar-me, em desvelo,
quando o corpo, exaurido, perder o seu porte;
quero o abraço do fogo ao cruel pesadelo
de uma vida sofrida, madrasta, sem sorte.

Que ninguém me lamente, sequer mandem flores
- não suporto o fingir, travestido de cores - ...
Minhas cinzas? Libertas ao vento, mais nada.

Nada mais?... Quero, ainda, a benesse do olvido,
não lembrar deste mundo, infiel, desabrido,
onde o amor tem na dor sua rima adequada.


Patrícia Neme

'Poema? Teorema?'




- Ao poeta Afonso Estebanez -


Não sei dizer do lado mais bonito...
Sequer bem deslindar um teorema;
mas sei, nasce de um ponto o que é infinito
e que o amor... É sempre um gran dilema.

Amar é entregar-se ao pleno rito
de insanidade da paixão extrema.
Por ela, o peito jaz em paz, contrito.
Por ela, nos trucida a dor suprema.

É quando vem, de manso, a poesia,
despida de conceito ou geometria,
e nos conduz ao chão da liberdade.

E o verso nasce alheio ao desencanto,
a rima torna o verbo suave canto...
E quem verseja adentra a eternidade!


Patrícia Neme

'POEMA & TEOREMA'


(Galatea de Esferas- Salvador Dali)

Qual dos lados
de uma esfera
é mais bonito?

Qual o ponto
de um círculo
que é infinito?

Seria o cubo
numa esfera
a geometria?

Toda palavra
é uma esfera
ou é poesia?

E o fonema,
é geometria
ou teorema?

!As palavras
são do estilo
o mais hábil
num poema.

Afonso Estebanez
(Poema dedicado a escritora Patrícia Neme)

'Canção a Minas!'


(Entre Pouso Alegre e Santa Rita do Sapucaí,
sul de MG, Fotografia de Fernando Campanella)



Exalto a terra amada
Nas rimas da sua historia
Fazendo das métricas
O sabor das iguarias
E dos deleites das Minas
O mais belo dos horizontes.
Tal um trovador
Canto o nascer das cachoeiras
Que banham suas montanhas
E no dobrar de muitos sinos
Ouço o clamor de seus heróis.
Nas ladeiras encantadas
Descem a “liberdade ainda que tardia”
De um povo guerreiro
Que não se esquece jamais!

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 14/12/2008
Código do Texto: T1334691

'Meu Voar!'



Quero saltar ao vento
Tal um pássaro errante
Ver estrelas brilhantes
Deixando o tempo livre me levar
Meus pés tímidos sustentam-me
E meus braços estendidos no ar
Abraçam a liberdade
Nas asas da minha vida
Sem rastros deixar
Entre o céu e o mar!

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 14/12/2008
Código do Texto: T1334692

sábado, 13 de dezembro de 2008

'AO TE LEMBRARES DE MIM...'




Quando te lembrares de mim
não necessitarei da memória
trancada no fundo da gaveta
ou das recordações restadas
na pena separada da caneta.

O ressonho dos teus sonhos
não te lembrará quem fomos
quando te lembrares de mim.

E serei tua manhã de manhã
na soleira de meu doce olhar
para fitar na tua luz ausente
o destino de reviver em mim.

E já terei reescrito a história
de tanto amor não resolvido
nas pétalas das rosas secas
que tu deixaste desfolhadas
na saudade do meu jardim...


Afonso Estebanez
(Dedicado a Maria Eduarda Marques Francisco
minha 500ª amiga adicionada em Dez.13.2008)

'Teus olhos, Meus horizontes!'


(Willem Haenraests)

Busquei-te hoje
Na primeira solidão
Quando andavas distraído
Nos campos das manhãs
Te busquei nos sóis azuis
Do teu olhar
Tal duas estrelas serenas
A brilhar na madrugada,
Alheias a saudade
Que me abatia.
Pousei nos teus ombros
Como a brisa
Abraçando o sonho que criei
Misturando nossos sons
Nossos dons
Nossas vidas!

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 12/12/2008
Código do Texto: T1331346

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

'NÃO VOU DESISTIR DAS ROSAS...'



Faço um poema como meu jardineiro faz a rosa:
porque rosas são rosas, não precisam de nada.

O momento que a vida cria para me contemplar
com restos de esperanças de amor sem limites,
levo-os na alma foragida ao mais além de mim.

Despejo-o no ouvido de Deus meu hospedeiro.
Deixo-me desatinar pelo meu louco de aluguel,
implorando para que ao menos o último bafejo
da brisa passageira seja um beijo de presente
para as rosas do meu jardim...


Afonso Estebanez
(Presente de Natal/2008 a todas as almas
femininas que durante este ano honraram
como “deusas” o solo virtual desta página)

'Ilusões Infinitas!'



Percorri estradas
Onde horizontes avermelhados
Fizeram-me caminhar
A um expoente diferente
De todas as emoções já sentidas.
Minhas fantasias impressas
Na cor da vida,
Pulsam em cada verso
Fazendo-me acreditar
Que as ilusões infinitas
Poderão se tornar amanhã
A mais linda realidade!

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 10/12/2008
Código do Texto: T1328910